A ALMA SIMPLES AMA A CRUZ

cruzA alma que de todo se esqueceu age sempre com simplicidade, guiada unicamente pela boa intenção.

Está sempre satisfeita com Deus, seja o que for que Ele faça ou permita. A doença ou a saúde, a prosperidade ou a adversidade, o êxito ou o insucesso, a vida ou a morte, tudo recebe com um sorriso de agradecimento. Acolhe de bom grado o sofrimento, qualquer  que seja a forma com que se apresente. A dor, como a alegria, é sempre a embaixatriz de Cristo.

O homem a quem falta uma fé ardente nem sempre reconhece Jesus sob os diferentes véus em que Ele Se envolve. Em vida de Jesus, só um pequeno número de fiéis O reconheceu como o verdadeiro Messias. Após a Sua morte e Ressurreição, os próprios Apóstolos e mesmo a ardente Madalena tiveram dificuldade em reconhecê-lO pelas aparências com que Se revestia.

Agora que vive nos nossos Sacrários, escondido sob as humildes aparências do pão e do vinho, a Sua visita é ainda mais misteriosa. Só a alma exercitada no amor reconhece o Mestre quando Ele Se apresenta. Reconhece-O muitas vezes pela cruz que traz consigo. Quando a dor a atinge, exclama: “É Jesus que passa“, e corre ao Seu encontro. Não o deixa curvado sob esse fardo. Estende os braços, empresta-lhe os ombros e ajuda-O a carregá-lo. Foi para ser ajudado que Ele veio ter conosco.

Não estranhemos a variedade e a multiplicidade das cruzes com que o Senhor nos favorece. Contrariedades, sofrimentos íntimos, penas, incompreensões, insucessos, ruína da fortuna ou da reputação, ansiedades de consciência, doenças físicas, tudo isso se chama Cruz de Cristo. É preciso acolhê-la: Se alguém quiser vir após Mim, tome a sua cruz e siga-me (Mt. 16,24).

E para onde conduzirá Ele a alma? Se esta for fiel, conduzi-la-á ao Calvário, e ali será pregada na cruz e morrerá. E Jesus dirá: “Pequeno grão de trigo, lancei-te à terra para nela morreres e apodreceres; mas quando tiveres morto, a vida brotará de ti, uma haste nova subirá do teu flanco e sobre essa haste reviverás em novos grãos“.

É o mistério da Cruz! É preciso morrer para viver. A fé ensina-o, a razão insinua-o, a natureza mostra-o. Para que eu seja alguma coisa, é preciso que me resigne a nada ser, a esquecer-me de mim, a ser lançado na terra e aí perecer.

Quero ser esse grão de trigo, escondido nas entranhas da terra. A minha vida passa e parece estéril. As forças que Deus me deu esmorecem e esgotam-se. É o túmulo, é a morte! Mas que importa? Jesus vela por mim. Quando Lhe aprouver, fará sair dos meus dias sem brilho a vida, a fecundidade. E o meu destino sobre a terra estará cumprido.

O dom de si, vida de abandono em Deus – Pe. Joseph Schrijvers