A ARANHA INSENSATA

teia3Em bela manhã de abril, conta Joergensen numa das suas engenhosas parábolas, estava a atmosfera cheia de tênues fios. Tendo-se prendidoum deles na elevada copa de uma árvore, um1apequenina aranha, valendo-se dele, veio firmar opé na folhagem. Imediatamente Lança novo fio,prende-o à copa e conseguedescer até ao pé daárvore. Ali encontrou um arbusto assaz ramificado e logo pôs mãos à obra: tecer uma teia. A extremidade superior do tecido foi atada à longa fibra pela qual baixara; as pontas restantes, prendeu-as aos ramos da sarça.

Esplêndida rede foi o resultado do seu esforço,meio excelente para pegar moscas. Mas, uns diasapós, pareceu-lhe pequena demais, e a aranha começoua ampliá-la em todos os sentidos. Graçasao fio resistente que segurava no alto, pôde realizarseu intento. E, quando as gotas de orvalho da manhã de outono cobriam o tecido, ele brilhava na luz baça do sol, como um véu de pérolas.

Orgulhosa de sua obra, a aranha desenvolvia-se a olhos vistos. Criou ventre volumoso. Talvez nem se lembrasse mais corno era miserável e esfaimada quando pousara no alto da árvore, no começo do outono.

Certa manhã, entretanto, ela acordou mal-humorada.Tudo estava nebuloso e nenhuma mosca em toda a redondeza. . . Que se poderia fazer emdia tão horrivelmente fastidioso? “Farei uma pequenaronda”, resolveu enfim, “quero ver se a teianão necessita de conserto em algum lugar”.

Cada fio foi examinado, a ver se estava bem seguro. Defeito não encontrou, mas apesar disso,seu intratável mau humor agravava-se.

Enquanto vagueava indisposta pela rede, a aranha deu subitamente com um fio comprido, cuja extremidade não podia achar. Todos os demaiselabem os conhecia: este vai dar ali, à ponta quebradado galho, aquele, acolá ao espinho. A aranhasabia de todos os raminhos e de todos os fios;mas, que pensar deste fio diferente? Incompreensível,ia para o alto, metia-se simplesmente ar adentro! Que mistério esse!

A aranha levantou-se nas patinhas traseiras e olhou para cima, com seus múltiplos olhos. “Nada

sevê!Este fio não tem fim! Por mais que eu olhe,o fio se perde nas nuvens!” resmungou ela.

Quanto mais a aranha se esforçava por desvendar o enigma, tanto mais se enfurecia. Qual afinalidade do fio que se some nas alturas? Naturalmente,durante seus intermináveis festins, perderade memória que fora por este fio que eladescera em abril. Também não se lembrava doquanto ele lhe fora útil no tecer e ampliar a teia,sustentando toda a construção. Tudo já estavaesquecido. Só uma coisa via: aqui, sobe para o ar um fio inútil, absolutamente inútil,porque dependurado das nuvens.

“Fora com ele!” gritou, desvairada de raiva,e… cortou o fio…

No mesmo instante desmoronou-se a teia… e quando a aranha recobrou os sentidos, jazia paralisada no solo, debaixo do arbusto, enquanto os restos do fino véu, semeado de pérolas argênteas,cobriam-na como fiapos molhados. Nesse dia tornou-se pobre e sem lar; um instante foi suficientepara destruir todo o seu trabalho, porque não compreendera a finalidade do fio que conduzia ao alto. 

Jovem! Também a alma do homem casto está unida a Deus por meio dum fio que se eleva ao céu.

Esse fio é a religião.

Quem ocorta, torna-se mendigo errante e sempátria; quem o guarda com solicitude, nele achaarrimo para uma existência harmoniosa e penhorda felicidade eterna. Que esse fio, que nos une aDeus, nosso Pai Celeste, nunca venha a romper-sena alma de: cada umde meus jovens leitores.

A Religião e a Juventude – Mons. Tihamer Toth