Dois carroceiros estavam suas carroças com os escombros de um casarão que fôra demolido. Eram bons e honrados, mas, em matéria de religião, completamente indiferentes e ignorantes. De repente um deles tirou com sua pá do montão de entulho uma estatuazinha de S. José.
– Toma – disse ao seu companheiro – um deusinho…
– Não o quebres: isto te traria má sorte.
– Tu crês em contos de avozinhas?
– É melhor que mo dês, pois, embora não sendo muito de igreja, prefiro levar um santinho para minha casa a atirá-lo no carro. Isso me sairia mal depois.
– Tens razão, replicou o outro, lembrando-se talvez do tempo de sua primeira comunhão: é melhor levá-lo…
Passaram-se anos. O carroceiro era já um velho inválido, estendido num leito de madeira carcomida. No quarto, duas cadeiras desconjuntadas, uma mesinha cambaleante e uns pedaços de cobertores. Acabava seus dias na miséria. A seu lado uma netinha de treze anos…
– Vovô, o Sr. quer, eu vou chamar o padre que nos dá catecismo; ele é bom.
– Não, filha, ainda não estou tão mal…
É sempre assim. Os pobrezinhos nunca julgam estar muito mal. Mas S. José cuidou dele.
– Mariazinha, traga-me a estátua de S. José que está ali… ela quer me falar… eu a ouço…
– Pobre vovô! a febre devora-o…
Põe-lhe nas mãos a imagem de São José e põe-se a chorar. Parece-lhe chegado o momento de insistir:
– Vovozinho, o Sr. quer falar com o vigário? Ele é tão bom; o Sr. conhece…
– Falar? falar é coisa muito vaga; diga-lhe que quero confessar-me, ouviu?
– Obrigada, meu S. José. Salvais a quem vos respeitou; obrigada, obrigada, dizia a menina, correndo em busca do padre.
Reconciliado com Deus, e beijando a estatuazinha, dizia às pessoas presentes: – Não vos esqueçais de Deus, dos deveres religiosos, da missa aos domingos. Eu não fazia nada disso e estou arrependido. S. José me salvou.
Alguns dias depois o velho carroceiro morria santamente abraçado à estatuazinha do seu grande benfeitor S. José.
Tesouro de Exemplos – Pe. Francisco Alves