A FAMÍLIA COMO SANTUÁRIO E ESCOLA DE SANTIDADE

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Entre as mil maneiras apresentadas perante ao Verbo para aparecer em carne mortal entre nós e realizar a nossa Redenção, escolheu uma: ter uma Mãe, a quem fez Imaculada, e pela qual a quis desposada com um varão eminentemente justo, da altura de sua Mãe, para velar assim pela boa honra da Santíssima Virgem; assemelhando-se, deste modo, em tudo a nós, exceto no pecado.

Ou seja, o Verbo Encarnado quis levar uma vida em família e que essa vida em família fosse o começo da obra redentora. E isso por muitas razões, mas especialmente por duas, que gostaria de destacar hoje:

  1. Para nos mostrar a vida espiritual sob uma faceta conhecida e atraente: a vida em família;
  2. Para santificar o lar cristão em todos os seus aspectos, convertendo-o em fonte de santidade para os seus membros e mostrando-o como o princípio de todas as virtudes.

A vida espiritual assume o aspecto de uma vida familiar.

Deus quis calcar a vida sobrenatural sobre a vida natural, colocando assim semelhanças entre elas, de modo que não nos fosse completamente desconhecida, mas, pelo conhecimento que temos da vida natural, possamos intuir pelo menos um pouco o que é a vida sobrenatural. E assim, a vida sobrenatural como a vida natural, conta com:

  • Um nascimento, não mais da carne ou do sangue, mas de Deus, através do Batismo;
  • Uma virilidade e um fortalecimento: a Confirmação;
  • Uma alimentação adequada: a Sagrada Eucaristia;
  • Uma respiração: a oração;
  • Uma luz: a fé na palavra de Deus contida na Revelação;
  • Uma instrutora: a Santa Mãe Igreja;
  • Uma educação: as diretrizes da Igreja e seu Magistério, adaptadas às almas consagradas mediante suas Regras ou Estatutos;
  • Uma atividade própria: o exercício das virtudes sobrenaturais;
  • Uns Inimigos que a combatam incessantemente: a tripla concupiscência (inimigo interno), o mundo e o demônio (inimigos externos);
  • Umas enfermidades: as imperfeições, o pecado venial e a tibieza;
  • Um médico: o sacerdote, ministro de Jesus Cristo;
  • Alguns remédios: a virtude e a eficácia do Sangue de Jesus Cristo, aplicadas através da oração e dos Sacramentos;
  • Uma morte: o pecado mortal;
  • Uma ressurreição (que a vida natural não tem): a Penitência;
  • Uma lei de crescimento e propagação: “Crescei-vos e multiplicai-vos”. “Crescei-vos” é o dever da santificação pessoal; “Multiplicai-vos” é o dever do apostolado e da edificação mútua.

Mas todas essas semelhanças estão incluídas em uma maior, que abrange todas: a vida sobrenatural, como a vida natural, tem sua Família própria: família sobrenatural, na qual Deus é o Pai, Maria é a Mãe, Jesus Cristo o Filho primogênito, e os Anjos e os Santos os demais irmãos. E a partir desta família recebemos tudo o que foi mencionado anteriormente: o nascimento, o alimento, o fortalecimento, a luz, a respiração, a cura e tudo mais que seja necessário para atingir a plenitude da saúde e robustez espiritual.

Muito importante esta verdade: a criança adquire na família tudo o que lhe será necessário e proveitoso para o futuro. Nosso futuro, do ponto de vista sobrenatural, é a eternidade: portanto, tudo o que nos há de ser proveitoso ou necessário para a bem-aventurada eternidade pela qual Deus nos criou, deve ser adquirida nesta vida por meios de disposições filiais para com Deus, para com Maria, para com Jesus Cristo.

Conhecer a nosso Deus Pai, para amá-lo e obedecê-lo filialmente; conhecer nossa Mãe Maria, para reverenciá-la e imitá-la; conhecer nosso Irmão Maior, Jesus Cristo, para aprender com Ele a ser filhos muito amados do Pai; conheça nossos Irmãos Menores, os Santos, para ver como eles nos precederam nesta vida familiar: tal é o resumo de nosso trabalho de santificação, visto sob o aspecto positivo e atrativo de uma feliz e íntima vida em família. “Já não somos”, diz São Paulo, “para Deus estranhos ou recém-chegados, mas concidadãos dos Santos e familiares de Deus” (Ef 2,19).

Vida familiar, santificada em todos os seus aspectos pela família de Nazaré.

A família de Nazaré santifica:

  • Em José, o dever do pai, dando-nos o modelo de providência solícita, de bom governo, de amor e respeito pela esposa, de trabalho;
  • Em Maria, o dever da mãe, dando-nos o modelo de submissão afetuosa, de dedicação aos filhos, de santificação pelas simples tarefas do lar;
  • Em Jesus, o dever das crianças, dando-nos o modelo de submissão, de obediência, de assistência e socorro.

Em todos os três encontramos:

  • A santificação das cruzes familiares: dúvidas de São José, escassez de Belém, fuga para o Egito, perda do Menino Jesus no templo, etc.
  • A santificação pela observância da Lei de Deus: circuncisão, apresentação no templo, purificação de Maria …
  • A santificação pelo cumprimento do dever religioso: Jesus no templo aos 12 anos, acompanhando seus pais.

Deste modo, a vida familiar se torna, se vale a pena compará-la, o noviciado ou seminário das virtudes cristãs. Lá as crianças:

  • Aprendem a amar e praticar as virtudes;
  • Aprendem a evitar o pecado e a vencerem-se (a si mesmo): Nossa Senhora fazendo a seu Filho aquela doce reprovação: Filho, por que agiste assim conosco? (Os pais corrigem seus filhos quando e como é devido, ou seja, no momento apropriado, sem mostrar paixão ou raiva?) …
  • São protegidos contra os perigos do mundo: São José, protegendo a vida do Menino Jesus contra as insídias de Herodes; ou procurando-o perdido no templo (os pais protegem como devem a seus filhos, se preocupam por onde e com quem estão seus filhos?) …
  • São instruídos nas verdades da santa religião: os doutores de Jerusalém, perplexos pela prudência e a sabedoria das perguntas de Jesus, fruto em parte das instruções recebidas de José e Maria (os pais instruem seus filhos, ensinando-lhes a santa religião, o catecismo?) …

Conclusão

Que Jesus e Maria, depois de nos terem dado o exemplo final de vida doméstica, abençoem nossas famílias cristãs, para que produzam eminentes frutos de santidade, concretizados em filhos santos, que serão amanhã santos cristãos, santas cristãs e talvez possíveis vocações sacerdotais ou religiosas;

Que eles também nos dêem, com Deus e Maria, sentimentos inteiramente filiais em todas as nossas relações com eles (oração, abandono, resignação nas cruzes da vida, cumprimento de nosso dever de estado, arrependimento de nossas faltas, confiança) e nos conduzam assim um dia à grande família de Deus que é o céu e a herança prometida por Deus aos que são e vivem como filhos Seus muito amados.

Padre José María Mestre Roc

Revista Espanhola Tradición Católica, 248