A GRANDE LACUNA DOS CONSERVADORES

PEDRA

O pontificado do Papa Francisco tem visto o número de “conservadores” aumentar constantemente.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Por “conservadores” devemos entender os católicos que não estão dispostos a comprometer a fé católica, que esperam uma renovação ou um florescimento da Igreja neste mundo secularizado e que têm um sincero desejo de ver o corpo místico crescer através de novas conversões. Em outras palavras, aqueles que mantiveram o espírito católico.

Porém, ao mesmo tempo, esses conservadores querem seguir todas as reformas engendradas pelo Concílio Vaticano II. Isto pareceu-lhes possível, com alguns malabarismos, até ao Papa Francisco.

No entanto, desde o início deste último pontificado, e particularmente em certas ocasiões – tais como os dois sínodos sobre a família, como a exortação pós-sinodal Amoris laetitia , como o sínodo para a Amazônia e especialmente seu instrumentum laboris , ou ainda o documento sobre a Fraternidade Humanidade – os conservadores têm-se sentido cada vez mais desconfortáveis.

Isso tem-se manifestado em contestações cada vez mais frequentes, e cujas origens são cada vez mais elevadas na hierarquia eclesiástica: contestações à Amoris laetitia através de várias petições, incluindo a famosa corretio filialis, bem como pela carta-dubia de quatro cardeais, ataques regulares a documentos ou atos romanos por Eminências como os cardeais Müller, Brandmüller, Burke ou Zen, bem como por bispos …

Esta contestação é nova. Quase não havia vestígios disso antes de 2013 e da chegada ao trono de Pedro do atual Soberano Pontífice. Existe, portanto, uma ligação clara entre os dois. E há de se acrescentar que esta contradição assume, por vezes, formas mais severas em vários cardeais e bispos.

Tudo isso é um sinal de crescente mal-estar entre os “conservadores” acima definidos. Seria possível descrevê-los com uma imagem: um homem cujos dois pés estão localizados em duas rochas diferentes, acima de um vão. Devido aos movimentos da terra, as duas rochas tendem a se afastar. Chega um momento em que a distância dessa lacuna (entre as rochas) está muito grande.

Restam, então, três soluções: cair ao perder o apoio; refugiar-se na rocha à direita; ou juntar-se a da esquerda. Nada é mais desconfortável do que esse tipo de posição.

Infelizmente, os conservadores obstinados ainda querem acreditar que as rochas acabarão por se juntar, e que não terão que escolher. Certamente, é uma possibilidade, se estivermos no domínio físico. Uma força contrária pode aproximar as duas rochas.

Mas no domínio das ideias, e especialmente no domínio da teologia, é uma história totalmente diferente. Não há qualquer hipótese de que o erro se aproxime da verdade, ou vice-versa. Querer apoiar ambos ao mesmo tempo é uma distorção da inteligência. E se se tiver um mínimo de integridade intelectual, a violência do distanciamento parecerá cada vez mais intolerável.

De fato, desde o Concílio, a distância entre os erros modernos e a Tradição da Igreja só aumentou, com mais ou menos intensidade dependendo da personalidade dos papas que se sucederam na cadeira de Pedro. E certamente, há que reconhecer que este fosso se alargou profundamente desde 2013.

O benefício desta situação tem sido mostrar mais claramente que as posições “tradicionalistas”, que desafiam o Concílio desde a sua realização, se baseiam em bases sólidas. A linha conservadora é obrigada, de boa ou má vontade, a reconhecer isto.

Além disso, e talvez seja ainda mais desagradável admitir, sem essa esta firmeza doutrinal, os conservadores há muito tempo teriam ficado impotentes, sob apenas um de seus pés, e forçados aceitar as regras do jogo. Porque se certos pilares ainda se mantêm – se, para dar um exemplo, a Missa tradicional pode ser celebrada hoje com certa liberdade – isso deve-se de fato à tenacidade daqueles que se recusam a comprometer-se com o erro.

Portanto, é profundamente incoerente afirmar e repetir que essa tenacidade é semelhante a uma obstinação irracional ou teimosa indocilidade.

É igualmente incoerente, como o fazem muitos conservadores que temem ser taxados como extremistas, relegar “para fora da Igreja“, com um simples gesto ou um estalar de dedos, aqueles que mantêm a Tradição sem concessões.

Existe apenas uma maneira verdadeiramente eficaz e intelectualmente satisfatória de deixar uma posição tão embaraçosa e decepcionante: tomarem partido abertamente e se declararem incondicionalmente em favor de Jesus Cristo. Desta forma, e é isso que importa, prestarão um grande serviço à Igreja.

Não são as petições e os pedidos de esclarecimento que farão as coisas avançarem, mas sim a profissão de fé pública, acompanhada dos atos que dela devem resultar.

Com o cisma alemão no processo de consumação e o crescente questionamento dos próprios fundamentos da vida moral, a defesa integral da fé é sempre mais urgente. Em breve, não haverá sequer espaço para pôr os pés na rocha do Concílio.

***************************

Destacamos dois outros textos interessantes sobre esse assunto: