AMOR A ORDEM E A PONTUALIDADE

Resultado de imagem para donzela cristãDeus confiou à mulher um encargo duplamente importante: santificar a família por sua vida e trabalhos, e dar aos filhos primeira educação. Cumpra ela, conscienciosamente, esse dever, e grande cópia de graças fará fluir sobre a humanidade. Para torná-la apta à sua missão, comunicou-lhe o Criador, a par de outros dons, o amor à ordem e a atenção às coisas pequenas. Exercitar retamente este amor à ordem é, portanto, um dever que Deus exigirá, principalmente dela.

A ordem agrada. Agrada, principalmente, a Deus, Deus ama a ordem, porque Ele mesmo é ordem, a mais maravilhosa e a mais amável harmonia. Unem-se nEle as três Pessoas, numa perfeita unidade de substância; nEle estão todos os atributos em perfeita consonância entre si – a justiça com a misericórdia, a onipotência com a bondade, a majestade com a assombrosa singeleza de Seu amor; todos os Seus atributos infinitos forma a unidade absolutamente perfeita do Seu Ser, numa ordem e harmonia inconcebíveis. Não há nEle a menor sombra de desordem ou dissonância.

Deus ama a ordem. Eis porque comunicou à Sua obra (a natureza) uma ordem admirável. Com quanta precisão os inumeráveis corpos celestes executam as órbitas que o Senhor lhes traçou! Que ordem surpreendente as manifesta na criação das mais pequeninas plantas e dos mais insignificantes insetos, que nós podemos examinar suficientemente apenas com o microscópio! E não estabeleceu também na Sua Igreja, uma ordem santa, uma hierarquia, por meio da qual todos os seus membros, desde o Papa até o último dos fiéis, uns a outros se ligam numa grandiosa e estupenda unidade? Suprima-se esta ordem santa, e dentro em breve perderá a Igreja sua unidade e sua força, e o Reino de Jesus Cristo se malogrará, suas partes dispersarão como o vento que espalha em todas as direções a pedra moída e reduzida a pó.

Assim como Deus ama a ordem, também tu deves ter sempre em vista um método em tua vida e nos teus trabalhos, seguindo assim a admoestação do Apóstolo dos gentios: “Faça-se tudo decentemente e com ordem”. (I Cor. 14,40).

A ordem agrada também aos homens.

Quando entramos num jardim e encontramos tudo bem ordenado, as plantas tratadas com cuidado, as árvores dispostas com perícia e inteligência, ordem e proporção, no desenho dos caminhos, dos canteiros e divisões, imediatamente e desde o primeiro aspecto sentimo-nos cheios de alegria e satisfação, e esta alegria ainda sobe de ponto à medida que dirigimos nossa atenção, para cada coisa em particular.

Se, ao invés houver, no jardim, as mais belas flores e arbustos encantadores, mas tudo sem nenhuma ordem, a trouxe-mouse, sentimo-nos mal impressionados por aquela confusão e contristados abandonamos imediatamente o jardim. A ordem desperta-nos contentamento; a desordem, desgosto. Conserva, pois, a ordem em tudo, sê pontual na execução das tuas obrigações, apresentando-te sempre à hora certa; assim a todos contentarás, granjearás a maior confiança, e verás os teus esforços reconhecidos.

Sucederá, precisamente, o contrário se faltares em tudo á pontualidade e não guardares a ordem em teus trabalhos. Sobrevir-te-ão reclamações sobre reclamações e ninguém ousará confiar-te coisa alguma de importância. A ordem também é útil e saudável. Sem o amor à ordem não existe verdadeira e sólida virtude. Com efeito: que é a virtude? Em sentido estrito, é o desembaraço, adquirido pelo exercício no querer e fazer o bem. Basta ter em vista definição para reconhecer que a verdadeira virtude não tolera a desordem.

Sem dúvida, como pode solidamente formar-se aquela prontidão no bem, se, no seu proceder o homem se deixa conduzir apenas pelo humor e disposição, pelas contingências e exterioridades? Sem o apego à ordem não haverá boa formação de caráter. Se desejas adquirir um caráter firme e reprimir o teu espírito versátil e teu coração volúvel, hás de ser enérgica e renunciar a ti mesma. Só assim teus pensamentos, desejos e atos poderão tomar rumo seguro e definido. Não o conseguirás, porém, da maneira mais eficaz, se te acostumares com a ordem e pontualidade, a despeito de todos os estorvos e impedimentos? Sim, a pontualidade fortalece o teu caráter, e comunica à tua natureza uma têmpera de aço. Sem o amor à ordem é impossível, também, o cumprimento fiel dos deveres do próprio estado.

Quem ama e observa a ordem, dispõe de mais tempo para os seus trabalhos, porque tudo está regulado e ordenado na sua vida; não perde tempo em conversações e divertimentos inúteis, em sonhos quiméricos, na ociosidade estéril. Quem ama e observa a ordem, trabalha com mais energia e tenacidade, suplanta mais facilmente, com inflexível aferro, as dificuldades e obstáculos que se opõem ao fiel cumprimento das obrigações, sua vontade, tornar-se-á de contínuo, robustecida pela constante abnegação que há de exercitar.

Quem ama e observa a ordem, pode finalmente no exercício dos seus deveres, contar com a bênção de Deus, que a tudo acompanha. No entanto, Deus abençoa, principalmente, aquilo que Ele ama. Ora, ama antes de tudo, como ficou indicado, a ordem, – e aborrece a desordem. De todas estas razões se conclui que, pela desordem e inexatidão, muitos e grandes danos se produzem. Acostuma-te, pois, desde jovem, à pontualidade e ao amor à ordem. Surge agora esta objeção: onde deverás observar a ordem?

Em primeiro lugar, observa a ordem nos deveres do teu estado. Levanta-te cedo pela manhã, para que possas, à hora marcada, começar a tua obrigação. Nunca comeces tarde, nem um instante sequer. Executa cada parte da tua tarefa, com atenção e consciência. O que puderes fazer agora, não o transfira para a hora seguinte, nem deixes para amanhã o que deve ser feito hoje. Sobretudo não descures a limpeza nos teus deveres e o asseio de tua pessoa. Causa tão má impressão uma jovem, desasseada no seu ofício e no seu vestir! Deves ter certa ufania de ser em tudo exata, pontual e limpa. Observa, em segundo lugar a ordem em (momentos de) folgas e prazeres.

O cristão que trabalha, assiduamente, deve também conceder a si próprio alguma folga e descanso. Não pode o arco permanecer sempre retesado, aliás, perderá sua força, sua elasticidade. O descanso e a alegria sadia, comunicam-nos novo frescor e força nova para o trabalho sério; tornam-se, pois, verdadeira necessidade para nós. No entanto, se por um lado o descanso é útil, por outro lado é sobremodo necessário que, nas alegrias e prazeres da vida se observe medida e termo, regra e ordem. Quem não observa, neste ponto, a justa medida e ordem razoável, expõe-se ao perigo de queres gozar sempre mais até chegar finalmente a engolfar-se nos prazeres, e então se verificam as palavras: “Se condescenderes com tua alma no que deseja, ela fará de ti a alegria dos teus inimigos”. (Ecli., 18,31). É, em nossos dias, principalmente, que tais palavras encontram a sua aplicação, quando uma sede desordenada de prazeres se apoderam de quase todas as classes sociais e causa tantos males, precisamente, à mocidade.

Aprende, pois a guardar aquela sábia medida e só desfruta o teu descanso até o ponto em que tua moralidade, o gosto pelo trabalho, o zelo de teus deveres não sofram o menor dano. Não te deixes seduzir de nenhum modo, pelo exemplo dos outros, ou pelas exortações ou zombarias de companheiras levianas: Primeiro o necessário: depois o útil; finalmente o agradável. Por último observa a ordem na tua vida religiosa. Refiro-me principalmente à oração, à recepção dos Santos Sacramentos e à assistência aos atos religiosos. Aqui, a ordem e regularidade são de grande importância.

Para que possa a flor prosperar e desenvolver-se em magníficos frutos, necessita de humildade. Que faz, então, o jardineiro quando a chuva não vem no tempo próprio? Ele mesmo rega as flores, e com toda a regularidade. Se não observar nenhuma ordem, se durante dois ou três dias inundar as plantas, e depois deixar passar três ou quatro semanas sem as prover duma só gota de água, aquelas plantas, enfezadas pelo ardor do sol, não poderão desenvolver-se satisfatoriamente. Assim, também, para que a vida de virtudes produza em ti frutos preciosos, necessitas da presença da graça, comunicada por meio da oração e dos santos Sacramentos. Se procederes segundo a tua vontade e capricho, serás como a pobre flor, que o jardineiro desleixado rega, tão desordenadamente.

Por conseguinte, faze sempre e com todo o escrúpulo, dia a dia, a tua oração de manhã e à noite, e estabelece como norma de vida, receber, regularmente, os santos Sacramentos. Desejaria aconselhar-te ainda, a fazeres todos os dias, com regularidade, uma breve leitura espiritual de um quarto de hora, ou pelo menos de dez minutos, nalgum livro, por ex., “Santo Evangelho”, “Imitação de Cristo”, ou “Filotéia” de São Francisco de Sales. “Guarda a ordem e a ordem te guardará”.

Donzela Cristã – Pe. Matias De Bremscheid