AS SETE VELAS DE MEU BARCO (SOBRE OS DONS DO ESPÍRITO SANTO) – INTRODUÇÃO

caravelaEra a noite de Quinta-feira Santa. Os apóstolos tinham acabado de receber a sua Primeira Comunhão das mãos do próprio Jesus. Este, como sabia que no dia seguinte ia morrer na cruz, começou a falar com tanta ternura, que aqueles homens, que o seguiam havia três anos, se comoveram muito. Eis o que Jesus lhes dizia:

– Meus filhinhos, tenho de deixar-vos… vou partir. Sei que isto que vos digo é muito triste. Mas é preciso. É para o vosso bem. É porque vos amo que vou morrer por vós. Depois, voltarei para o meu Pai, que é também o vosso Pai. E vós já o conheceis, pois é a ele que falais quando dizeis, na oração que vos ensinei:

Pai Nosso, que estais nos céus…

– Mas não quero que fiqueis tristes. Escutai bem o que vos digo: quando eu tiver voltado para junto de meu Pai, eu vos enviarei o grande Consolador, o Espírito Santo. Ele virá a vós. E, se souberdes recebê-lo, ele virá habitar em vossa alma.

– Enquanto estivestes comigo, eu vos ensinei muitas coisas. Mas, apesar de vossa boa vontade, não pudestes compreender tudo… O Espírito Santo virá, e ele vos explicará tudo quanto não entendestes. Se fordes fiéis, ele vos fará compreender tudo o que eu vos disse…

No dia seguinte, Jesus estava morto: pregado na Cruz. Foi uma coisa terrível! Todos os apóstolos fugiram. Por três vezes Pedro dissera que não conhecia Jesus, que nunca tinha estado com ele, tão grande era seu medo de ser também preso e morto pelos Judeus. Só à tarde é que João voltou ao Calvário e ficou perto de Nossa Senhora, que estava de pé junto à Cruz, enquanto Jesus morria. Os outros apóstolos sumiram; com certeza, estavam escondidos em algum lugar…

Depois, foi o domingo de Páscoa. De manhã bem cedinho, Pedro e João encontraram o túmulo vazio… Ficaram muito assustados! Não entendiam mais nada. Na tarde desse dia, Jesus apareceu no meio deles. Como não precisou abrir a porta, pois o seu corpo glorioso podia passar através das paredes, os apóstolos começaram a gritar:

– É um fantasma!

E Jesus teve de sossegá-los e acalmá-los.

Tomé estava ausente. À noite, quando voltou, os outros lhe disseram:

– Sabes, Tomé, nós vimos o Senhor! Ele está vivo! Ressuscitou!

Mas Tomé não quis acreditar e disse:

– Pois se eu não puser o dedo nas feridas de suas mãos, e a mão na chaga do seu lado, não acreditarei!

Não, na verdade, não podemos dizer que os apóstolos tivessem fé viva nem grande coragem! Eles precisavam muito receber o Espírito Santo!

Depois de sua ressurreição, durante um mês mais ou menos, Jesus continuou a aparecer-lhes, de vez em quando. Uma vez, foi no Cenáculo; outra, na praia, junto ao mar, onde os apóstolos tinham recomeçado a pescar, como antigamente, pois já não tinham outra coisa a fazer! Quando Jesus vinha visitá-los, ficavam radiantes, e sentiam o mesmo entusiasmo dos primeiros tempos. Mas logo que os deixava de novo, sentiam-se muito sós e terrivelmente tristes.

No fim de quarenta dias, Jesus disse-lhes que agora ia partir para sempre. Que triste notícia para os apóstolos! Jesus tinha vindo ainda uma vez tomar a refeição com eles, só para alegrá-los, pois o seu corpo glorioso já não precisava de alimento. E lembrou-lhes então a sua promessa:

– Não vos afasteis de Jerusalém, pois daqui a poucos dias eu vos enviarei o Espírito Santo. Quando ele tiver descido às vossas almas, ele vos dará a sua força. E todos vós sereis as minhas testemunhas…

Nessa mesma tarde, os apóstolos viram Jesus elevar-se ao céu. Estava tudo acabado! Nunca mais veriam Jesus na terra.

Para obedecer à sua última vontade, os apóstolos reuniram-se no Cenáculo. Mas estavam muito tristes: Jesus tinha-os deixado para sempre! Felizmente, a Santíssima Virgem estava com eles. E, com todo o carinho, como só as mães sabem fazer, ela os consolou e tranqüilizou. Assim, calmos e sossegados, eles puseram-se a rezar com ela, enquanto esperavam o grande Consolador que Jesus lhes prometera.

Ao fim de dez dias, quando estavam todos reunidos em volta de Nossa Senhora, um vento muito forte começou a soprar sobre a casa. Um verdadeiro tufão sacudia o telhado, as paredes, as portas. Todos olhavam assustados… E, de repente, viram aparecer, na sala onde se encontravam, chamas luminosas com a forma de línguas de fogo, que vieram pousar sobre cada um deles.

E eis que já não sentiam medo! Alguma coisa acontecera em suas almas. Uma coisa maravilhosa, espantosa, incrível! Parecia que as línguas de fogo que tinham visto por alguns instantes haviam-lhes penetrado nos corações, aquecendo, abrasando, transformando-os. Sentiam agora uma alegria imensa, e ao mesmo tempo muita calma. Experimentavam a certeza absoluta de que Jesus é realmente o Filho de Deus, que ele tinha verdadeiramente ressuscitado, e que os escolhera – embora fossem pobres homens, medrosos e covardes – para levar, pelo mundo todo, a boa nova do Evangelho. A feliz notícia da Redenção!

Imediatamente, Pedro, que era o chefe dos apóstolos, saiu à rua e começou a explicar a todos que passavam que Jesus tinha morrido para nos salvar, que ele tinha ressuscitado, e que todos deviam crer no seu amor.

O medo que antes sentiam, desaparecera completamente!

Algum tempo depois, Pedro e João foram presos e levados para a cadeia.

– Nós vos proibimos falar no Senhor Jesus – disse-lhes o juiz.

– Isso é impossível! – respondeu São Pedro. Somos suas testemunhas; ainda que nos ameacem de morte, falaremos de Nosso Senhor. Não podemos deixar de obedecer a Deus!

De fato, anos mais tarde, todos os apóstolos foram martirizados: cada um no país onde o Espírito Santo lhe ordenara pregar o Evangelho.

Mártires. Santos. Testemunhas de Jesus. Eis o que o Espírito Santo fez daqueles pobres homens que, na noite da Paixão de Jesus, tinham fugido, escondendo-se como uns poltrões e covardes.

Mas quando Jesus prometeu aos apóstolos que lhes enviaria o Espírito Santo, prometia ao mesmo tempo enviá-lo a todos aqueles que pelo Batismo se tornassem filhos de Deus.

Assim, quando fomos batizados, toda a Santíssima Trindade veio habitar em nossa alma:

O Pai, a quem dizemos: Pai Nosso, que estais nos céus.

O Filho, que veio habitar conosco na terra, a fim de que um dia possamos ir ter com ele no Céu.

O Espírito Santo, que invadiu a alma dos apóstolos, no dia de Pentecostes.

Sabemos que a nossa alma existe: se não tivéssemos alma, não poderíamos pensar, conhecer ou amar. No entanto, nunca podemos ver a nossa alma. O mesmo acontece com o Espírito Santo: ninguém pode vê-lo, mas temos de acreditar nele, porque Jesus, no seu Evangelho, diz que ele existe e que nos seria enviado pelo Pai. Como podemos reconhecer que ele está presente em nossa alma? Quando nos vemos diante de uma coisa difícil, que não teríamos coragem de fazer sozinhos, e sentimos que alguém nos ajuda: não, exteriormente, mas no fundo de nossa alma.

É sobretudo pela Confirmação que o Espírito Santo vem tomar conta de cada alma, como tomou conta da alma dos apóstolos no dia de Pentecostes. Ele vem, não para fazer daquele que é crismado um cristão, pois isso já foi feito pelo Batismo, mas para fazer com que viva como cristão. O Bispo, que possui os mesmos poderes que Jesus tinha dado a seus apóstolos, estende as duas mãos e pede ao Espírito Santo que desça, com a abundância de seus dons, sobre a alma daquele que recebe o Crisma.

Esses dons existiram primeiramente na alma de Jesus, como o anunciara bem antes o profeta Isaías:

“Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de Sabedoria e de Inteligência, Espírito de Conselho e de Fortaleza, Espírito de Ciência, de Temor, e de Piedade.”

Que são, afinal, esses maravilhosos dons que o Espírito Santo nos dá?

Vemos, às vezes, no mar, bonitos barcos à vela, que parecem deslizar sobre as ondas. Não têm motor: é o vento que os impele. Para isso é que têm velas.

Os dons do Espírito Santo são como sete velas brancas, suspensas no barquinho de nossa alma. Quando estão desdobradas e estendidas, podem ser bem manejadas – isso é muito importante – e o grande sopro do

Espírito Santo virá então enchê-las! O Espírito Santo, que conhece o rumo certo, levará a alma para Deus, para a vida eterna do Céu.

Para que servem, em nossa vida, os sete dons do Espírito Santo? Eles fazem com que a nossa alma seja ensinada, guiada, pelo Espírito Santo, mais ou menos como o barco à vela, que é movido pelo vento. Mas cada um de nós tem de prestar atenção ao vento que vem encher suas velas, para que elas estejam sempre abertas e prontas a receber o sopro do Espírito Santo. Então, mesmo com chuva, tempestade ou neblina, ele guiará a alma até o porto da eternidade.

Isso, porém, não dispensa nosso esforço. O Espírito Santo não vem fazer o trabalho em nosso lugar. Ele vem ajudar-nos: e ninguém vem ajudar uma pessoa a não fazer nada. Mas, com o Espírito Santo, tudo fica logo muito mais bonito, mais verdadeiro, mais claro .

As Sete Velas de meu Barco – M.D. Poinsenet