A FORMAÇÃO DA ELITE

Saint Louis Educated by His Mother, Blanche of CastilleDesde tempos imemoriais as massas foram escrutinadas a fim de se descobrir nelas os líderes. Embora tenha havido épocas mais felizes em que os homens superiores apareceram em maior número, a raridade deles, por outro lado, foi a situação mais habitual da humanidade. Os homens, os verdadeiros homens são raros. Montalembert podia afirmar: “São sempre os homens que faltam com as doutrinas, com as crenças e com os deveres”.

Se Diógenes voltasse à vida, ele poderia ainda, com lampião em mãos, andar pelas ruas em pleno meio dia em busca de homens completos, competentes, capazes de cumprir, por sua superioridade, uma missão de elite.

No entanto, talentos não faltam. Deus os dá em profusão, colocando-os em todas as classes da sociedade. Num instante eles brilham e trazem à luz grandes esperanças de beleza, força, piedade, integridade e fé; mas logo em seguida, arrebatados pelo caminho da vida material e dos prazeres, eles vão embora sem dar à religião e nem à pátria tudo o que elas tinham direito de esperar. Esses homens acabam não subindo até as alturas das elites. O que falta então? O que falta é a formação contínua e aperfeiçoada; o que falta é o esforço individual, é a constância no esforço.

O egoísmo mata a elite. Os interesses temporais, a avidez de facilidades, de luxo, de posições lucrativas, de honras e de sucesso mundano sempre atravancaram as dedicações e o dom de si ao bem comum.

Ademais, é com constante preocupação do bem comum que a Igreja sempre se empenhou em extrair das massas elites capazes de dirigi-la, capazes de serem forças vivas da religião e da sociedade.

Pouco tempo atrás, do alto da tribuna francesa, a ilustre e franca voz do Sr. Jean Lecour Grandmaison proclamava esta verdade: “O que caracteriza o cristianismo é o culto dos pequeninos, dos fracos, dos que choram. É o misereor super turbam e o chamado constante do peso da responsabilidade das elites”. Continuar lendo

“TODO ESQUERDISTA É UM DEFORMADO…” – OS FILHOS DO ÓDIO

ARTIGO: Desculpe-me, mas você é um inocente útil |Todo esquerdista é um deformado. E quanto mais culto, quanto mais vinculado aos seus precursores, humanistas no século XVI, “filósofos” ou “esclarecidos” do século XVIII e logo depois, os jacobinos e em seguida os maçons, todos os socialistas de todos os matizes firmam-se obstinadamente em certos postulados arbitrários e na certeza fanática de suas convicções. Quando lhes ocorre chocarem-se com os fatos, pior para os fatos. Se o povo simples, ainda não atingido por suas arengas, repele-os, muitas vezes por simples enfado (são chatíssimos), logo constróem em suas cabeças uma contorção pela qual ficam sendo “reacionários” ou “vendidos” os que não se deixam sensibilizar pelos seus esquemas, todos de conflito: ricos contra pobres, progressistas contra reacionários, inovadores contra “apegados aos seus privilégios de classe”, etc., etc.

Esta deformação mental, porém, tem raízes mais profundas e mais sombrias. Os socialistas são, realmente, almas ressentidas, poços de rancor generalizados, filhos do ódio. Seu ódio, normalmente, volta-se para os que servem-lhes de pretexto ou contra aqueles que lhes barram o caminho.

Que eles são filhos do ódio, sentiu o poeta e exprimiu-o muitíssimo bem. Fernando Pessoa, no seu poema “Ontem à tarde…” (Alberto Caeiro) vai fundo na percepção do que o socialista é: Continuar lendo

MAS, O QUE É A REVOLUÇÃO?

Jean-Joseph Gaume – Wikipédia, a enciclopédia livreMas o que é a Revolução? Fazer uma pergunta semelhante é evidenciar sua importância.

Se, arrancando a máscara da Revolução, lhe perguntardes: Quem sois? Ela vos dirá: 

Eu não sou o que pensam de mim; Muitos falam de mim, mas poucos me conhecem. Eu não sou nem o Carbonarismo, que conspira na sombra, nem a rebelião que brame nas ruas, nem a mudança da Monarquia em República, nem a substituição de uma dinastia por outra, nem o desvio momentâneo da ordem pública. Não sou nem os urros dos Jacobinos, nem os furores da Montanha, nem o combate das barricadas, nem a pilhagem, nem o incêndio, nem a lei agrária, nem a guilhotina, nem os afogamentos. Eu não sou nem Marat, nem Robespierre, nem Babeuf, nem Mazzini, nem Kossuth. Esses homens são meus filhos, mas eles não são eu. Todas essas coisas são minhas obras, mas elas não são eu. Esses homens e essas coisas são fatos passageiros, e eu, eu sou um estado permanente. 

Eu sou o ódio contra toda ordem religiosa e social não estabelecida pelo homem, e na qual ele não é rei e deus ao mesmo tempo; eu sou a proclamação dos direitos do homem contra os direitos de Deus; eu sou a filosofia da revolta, a política da revolta, a religião da revolta; eu sou a “negação armada” [Nihilum armatum]; eu sou a fundação do Estado religioso e social alicerçado na vontade do homem no lugar da vontade de Deus! Em uma palavra, eu sou a anarquia; pois eu sou ‘Deus destronado e o homem em seu lugar’. Eis porque eu me chamo “Revolução”, ou seja, a “desordem”, pois eu coloco em cima o que, segundo as leis eternas, deve estar em baixo, e em baixo o que deve estar em cima.

Esta definição é precisa: a própria Revolução vai nos provar ao enumerar suas exigências. O que sempre pediu e o que ainda pede a Revolução?

A Revolução sempre pediu, ela ainda pede a destruição da ordem social e religiosa existente. Ela a ataca incessantemente, sobre todos os pontos e de mil maneiras: pela injúria, pela calúnia, pelo sarcasmo, pela violência; ela a chama escravidão, superstição, degradação. Ela quer tudo destruir, a fim de tudo refazer.

Trecho do livro La Révolution, recherches historiques, Tomo I – Mons. Gaume – Tradução: Dominus Est

AS ORDENS DE CAVALARIA E OS TEMPLÁRIOS

Trabalho organizado pelo Prof. Cláudio de Cicco onde analisa as fontes históricas dos estudos sobre as Ordens de Cavalaria, suas origens, seu espírito, características, fins, código de honra, sua aprovação por São Bernardo de Claraval assim como as calúnias proferidas por Felipe o Belo Rei da França com o intuito de se apossar de seus bens materiais que culminara na extinção, em partes, dessa fantástica organização católica cujo espírito ressoa através do Século XXI nas almas daqueles que ainda lutam pelo Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo.

tempClique na imagem para acessar o texto.

PANDEMIA, IGREJA E ESTADO – A HIERARQUIA DOS BENS

Breve considerações para os tempos de epidemia

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

“É por isso que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar seus deveres para com Deus, e que o maior de todos os deveres é abraçar de espírito e de coração a religião, não aquela que cada um prefere, mas aquela que Deus prescreveu e que provas certas e indubitáveis estabelecem como a única verdadeira entre todas, assim também as sociedades não podem sem crime comportar-se como se Deus absolutamente não existisse, ou prescindir da religião como estranha e inútil, ou admitir uma indiferentemente, segundo seu beneplácito.” (1) .

1 – Essas fortes palavras do Papa Leão XIII não são a expressão de uma visão retrógrada, pois o Vigário de Cristo designa o próprio princípio da ordem social cristã, ordem necessária para uma expressão da sabedoria divina. O Cardeal Billot deu a justificação teológica para isso na segunda parte de seu Tratado sobre a Igreja (2).

2 – Essa ordem encontra sua profunda raiz na própria natureza do homem e em sua elevação gratuita a uma ordem sobrenatural. Os bens exteriores ao homem (as riquezas) são ordenados ao seu bem-estar corporal e o bem-estar corporal do homem é ordenado ao seu bem-estar espiritual natural, ou seja, ao bem natural de sua alma, e este bem natural da alma está, de alguma forma, ordenado ao fim último sobrenatural, à união sobrenatural do homem com Deus, pela qual a Igreja é responsável. É nessa medida exata em que o bem natural da alma é a condição necessária, embora não suficiente, do bem sobrenatural, uma vez que a graça pressupõe a natureza. Essa hierarquia de bens resulta na hierarquia dos poderes que cabe a eles adquirir (3).

3 – O poder do Estado tem (entre outros) em sua ordem própria, preservar a saúde pública (que é o bem do corpo) e de neutralizar para isso os efeitos nocivos de uma doença contagiosa. O poder da Igreja tem por fim, em sua ordem própria, assegurar o exercício do culto devido a Deus e determinar para isso, por meio de preceito, as condições concretas da santificação do domingo. Por serem distintas, cada um em sua própria ordem, o poder do Estado e o poder da Igreja não devem estar separados (4), porque o bem que cabe ao Estado não é, de fato, um fim último; ele mesmo é ordenado ao fim de ordem sobrenatural. Santo Tomás explica isso muito claramente no De Regimine, livro I, capítulo XV: “É o Papa quem cuida do fim último, a quem deve estar sujeito aqueles que cuidam dos fins intermediários, e é por suas ordens que eles devem ser direcionados”. (N ° 819). O Papa, portanto, exerce um poder “arquitetônico” em relação aos chefes de Estado e essa expressão significa que o Papa é responsável pelo fim último, segundo o qual os chefes de Estado são obrigados a organizar todo o governo da sociedade.

4 – A saúde, que é um dos principais aspectos do bem-estar corporal do homem, nada tem a ver com a santidade, pois é ordenada de alguma maneira ao exercício do culto e à santificação do domingo. Com efeito, mesmo que não seja necessário ter uma boa saúde para ser um santo e mesmo que alguém possa ser um santo sem ter uma boa saúde, normalmente, para poder ir à missa no domingo, um dos pré-requisitos é ter uma boa saúde. O papel do Estado é, portanto, preservar a saúde pública (e neutralizar uma epidemia) para assim oferecer a melhor condição para o exercício do culto, pelo qual a Igreja é responsável, e tornar ordinariamente possível a santidade. O Papa Leão XIII diz, com efeito, que “em uma sociedade de homens, a liberdade digna do nome consiste em que, com o auxilio das leis civis, possamos viver mais facilmente segundo as prescrições da lei eterna” (5). O Estado está, portanto, nessa questão, como em qualquer outra, na dependência da Igreja e subordinado a ela na medida exata em que seu papel é colocar o bem temporal, pelo qual é responsável, a serviço do bem eterno, cujo o Igreja é responsável. “O temporal“, diz Billot, “deve garantir que não haja impedimento à realização do espiritual e deve estabelecer indultos sob as quais pode ser obtido em completa liberdade“. E ele acrescenta que o fim temporal “não deve colocar nenhum obstáculo ao fim espiritual, e, se ele vir a se opor, deve favorecer o espiritual, mesmo à custa de seu próprio detrimento”(6). Palavras surpreendentes aos olhos da razão, mas palavras verdadeiras aos olhos da razão iluminada pela fé. Porque “é melhor entrar com um olho na vida eterna do que ser lançado com dois olhos no fogo do inferno”(7) . Continuar lendo

HITLER QUERIA SEQUESTRAR O PAPA: O PLANO SECRETO DO VATICANO PARA PROTEGER PIO XII

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Documentos inéditos dos arquivos da Gendarmeria Pontifícia revelam o plano secreto implementado para defender a Santa Sé e “exfiltrar” o Papa Pio XII, no caso de uma ocupação do Vaticano. 

Entre 8 de setembro de 1943 – data da ocupação de Roma pelos alemães – e a libertação da Cidade Eterna, em 4 de junho de 1944, o Vaticano se viu nos olhos de um ciclone. Esse período é destacado pelo historiador Cesare Catananti em seu livro Il Vaticano nella tormenta, publicado pelas edições San-Paolo, em 17 de janeiro de 2020.

Por meio de documentos que ele pôde, excepcionalmente, consultar na sede da gendarmeria papal, o historiador demonstra que o chanceler alemão havia planejado a invasão dos 44 hectares do Vaticano, bem como o sequestro do soberano pontífice. Ele seria deportado então para Munique ou para o Liechtenstein. 

O secretário de Estado, tendo sido informado sobre esse projeto, colocou em prática um verdadeiro plano de guerra. O Vaticano montou uma barricada: reforço das grandes portas com monumentais barras e sacos de areia, organização da defesa pela guarda suíça, fornecimento de água e comida para se preparar para um longo cerco. 

Se Hitler não recuasse por nada e decidisse enviar seus panzers para romper a muralha, não havia problema, o plano de defesa previa uma redistribuição tática nos palácios apostólicos, com, como fase final, um corpo a corpo sangrento com a guarda nobre, à porta do apartamento pontifício, onde o agressor pensaria ter encontrado o soberano pontífice. 

O tempo ganho por uma luta tão heróica e desesperada seria usado para permitir que o sucessor de Pedro e seus familiares chegassem à torre gregoriana – também chamada Torre dos Ventos – localizada ao norte da Basílica do Vaticano. Através de passagens secretas, todos poderiam chegar rapidamente a um lugar seguro, com o apoio do MI9 britânico. 

A invasão não ocorreu, mas a história está cheia de reviravoltas. Em junho de 1944, na época da libertação de Roma, Pio XII abriria a muralha leonina aos soldados alemães – os mesmos que deveriam pegá-lo alguns meses antes – a fim de protegê-los das represálias de uma população exacerbada e com sede de vingança. 

CONTRA A HISTÓRIA

Fonte: Boletim Permanencia

Já se fala em perseguição religiosa e em nova guerra civil na Espanha. Talvez seja um exagero, mas o que dizer da decisão de exumar os restos mortais de um personagem histórico decisivo para a Espanha, morto já há 44 anos, mas enterrado no solo consagrado de uma basílica sob a guarda de uma abadia beneditina?

Uma desmesura, uma impropriedade, uma covardia.

O prior resiste. Há cerca de um mês, depois da derrota judicial da família de Francisco Franco contra a exumação, o prior da Abadia da Santa Cruz do Vale dos Caídos, Dom Santiago Cantera, proibiu a entrada do governo espanhol na basílica. Em carta, o beneditino alegou a inviolabilidade dos locais de culto, contrariando diretamente as decisões do governo socialista do Primeiro Ministro Pedro Sanchez, da Suprema Corte espanhola, do Secretário-Geral da Conferência Episcopal Espanhola, Dom Luis Arguello, do Arcebispo de Madri, Dom Carlos Osoro Sierra, do Abade da Abadia de Solesmes, Dom Philippe Dupont, diretor da congregação beneditina espanhola a que a abadia está submetida, e do próprio Vaticano, que não se opôs à decisão, nem tem se manifestado sobre as crescentes violações da basílica e da abadia.

Em vão. No último domingo, a polícia expulsou os monges e invadiu a clausura. Os religiosos foram instruídos a levar suas “coisas” e a não voltar mais à basílica, ocupada já pelas máquinas necessárias pela exumação, prevista para acontecer antes das eleições de 10 de novembro. Continuar lendo

UM NEFASTO ANIVERSÁRIO

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Paulo VI e os pastores protestantes que ajudaram na elaboração da Nova Missa 

Fonte: FSSPX Italia – Tradução: Dominus Est

3 de abril de 1969: Paulo VI promulga uma nova missa que é “… um impressionante afastamento da teologia católica da Santa Missa, como formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento“.

Aconteceu ontem(*), 3 de abril, o nefasto aniversário de 50 anos da promulgação do novo missal de Paulo VI que, entrou em vigor oficialmente no advento do mesmo ano de 1969. Com esse missal seria seguida, rapidamente, a reforma de todos os livros litúrgicos da Igreja, de modo a apresentar claramente a ruptura com todo o culto católico, para a fundação de uma nova forma religiosa. Para usar as palavras dos Cardeais Ottaviani e Bacci no Breve Exame Crítico, o novo missal se apresenta rapidamente “como um todo e também em detalhes, como um impressionante afastamento da teologia católica da Santa Missa, que foi formulada na Sessão XXII do Concílio de Trento“. O elemento protestante é fortíssimo: a nova missa não se apresenta como um sacrifício expiatório, mas como uma assembleia que faz presente a memória da Ceia do Senhor. O padre é reduzido a presidente e perde todo o sentido de sua função, que se torna paralela e interconectada com a da assembléia que preside. Monsenhor Lefebvre chamará esse rito de “Missa de Lutero”, pedindo a todos os católicos que a evitem para preservar a fé.

Cinquenta anos depois, compreendemos ainda melhor o significado daquela ruptura com a expressão tradicional da fé católica no culto tridentino: o povo católico, (até agora em grande parte deformado pela nova missa e alheio aos ritos anteriores [ao CVII], até mesmo por razão de idade), de católico – mesmo involuntariamente – agora tem muito pouco. De fato, quanto mais essas pessoas são assíduas às novas funções, menos parecem acreditar e raciocinar como católicas. De modo análogo e ainda mais triste é a situação dos padres e bispos que tiveram que extrair sua identidade do novo rito, perdendo completamente o sentido de suas funções.

Recordamos, há 2 anos, os 500 anos da “reforma” luterana. A “reforma” de Paulo VI, em cinquenta anos, causou um dano ainda maior que aquele do reformador alemão, em um décimo do tempo. Renovamos, neste aniversário, nosso apego à Missa Tridentina e, sobretudo seguindo os passos de nosso Fundador, a nossa firme rejeição ao novo rito, a fim de fazer da Missa tradicional uma verdadeira bandeira que indica a integridade da fé católica, contra todo o conjunto de erros da Roma de tendências neo-modernista e neo-protestante”, permanecendo fiéis à “Roma católica, guardiã da fé“.

Pela glória da Santíssima Trindade 

Por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo

Por devoção à Santíssima Virgem Maria 

Por amor à Igreja, por amor ao Papa 

Por amor aos bispos, sacerdotes e a todos os fiéis 

Pela  salvação do mundo, pela salvação das almas 

Guardem este testamento de Nosso Senhor Jesus! 

Guardem o sacrifício de nosso Senhor Jesus Cristo!

Guardem a Missa de Sempre!”(**)

Mons. Marcel Lefebvre

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Notas:

(*) No original oggi (hoje), alterado devido a data dessa publicação

(**) https://marcellefebvre.info/pt/content/16115

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Outro excelente artigo pode ser lido nesse link: MISSA NOVA, UM CASO DE CONSCIÊNCIA

O SUPREMO NÃO É SAGRADO

Fonte: Boletim Permanencia

“Supremo enfrenta processo de dessacralização”, diz o título da coluna de Josias de Souza. Mas o “sacro”, a que um dia já se arvorou o Supremo Tribunal Federal, é só uma versão secularizada da verdadeira sagração do poder.

Coroação de D. Pedro II. Óleo sobre tela, 2,38 x 3,10 m, de François-René Moreaux, 1842

Depois de proclamar a independência frente a Portugal, D. Pedro I fez questão de ser sagrado Imperador pelas mãos do clero, numa cerimônia muito semelhante às rubricas litúrgicas do Pontifical Romano. Ainda que sua motivação pudesse ser meramente terrena (de afirmar a legitimidade do grito do Ipiranga), aquele ato não deixava de reconhecer a verdadeira origem de todo o poder.

Mesmo com toda a contaminação liberal da monarquia, reforçada no segundo reinado, o Imperador reteve em alguma medida essa aura de sacralidade, que se expressava na confissão do Catolicismo como religião oficial do Estado e lhe dava uma autoridade supra-partidária, um ente moral acima das disputas de facção e dos interesses menores. Foi justamente quando pretendeu fazer-se “homem comum” que D. Pedro II foi derrotado: desde a forma mais liberal de se vestir até os anseios de se desfazer do papel de monarca para se tornar um mero professor. Mas, sobretudo, seu tiro no pé foi o pouco caso para com a Igreja, a única instituição no céu e na terra capaz de lhe conferir a marca da sacralidade. Sufocou vocações, proibiu claustros, deixou a Igreja à míngua. Chegou ao cúmulo de chancelar, em 1872, a prisão de Dom Vital e Dom Macedo Costa, os dois bravos bispos que escolheram a fidelidade a Roma no combate à maçonaria.

Com o golpe da República em 1889, o Exército toma para si o Poder Moderador que antes pertencera ao monarca. Mas como já não havia por trás a Igreja para conferir sacralidade, a função perdeu o seu caráter intocável. Outros logo se lançaram nessa disputa, que não é de poder, mas de autoridade; fruto de reconhecimento, não de fria imposição legal. Continuar lendo

A BATALHA DE LEPANTO E O ROSÁRIO

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”Nem as tropas, nem as armas, nem os comandantes,
mas a Virgem Maria do Rosário foi quem nos deu a vitória”
 

Fonte: Hojitas de Fe, 216, Seminário Nossa Senhora Corredentora, FSSPX
Tradução:
Dominus Est

São Pio V, eleito Papa em 1566, teve o desejo de convocar a Cristandade para um duplo combate: contra o protestantismo e contra o Islã. Contra este último convidou os príncipes católicos a contrair uma aliança, mas todos eles, ocupados por seus problemas internos, não responderam à iniciativa. Em 1569 os otomanos souberam que o arsenal veneziano havia sido destruído pelo fogo, e que além disso toda a península itálica estava ameaçada pela fome devido a uma má colheita. Selim II aproveitou a ocasião para romper a trégua com Veneza e enviou um ultimato: ou entregaria a preciosa posse de Chipre, ou lhe declararia guerra. Veneza pediu auxílio, mas não queria fazer aliança com a Espanha, nem a Espanha com Veneza, pois Veneza várias vezes fizera aliança com os turcos. São Pio V interveio exortando a Espanha a enviar uma armada para proteger Malta e garantir a rota que levaria auxílio até a Ilha de Chipre.

Felipe II aceitou e enviou seus embaixadores, diante do qual Sua Santidade nomeou Marco Antonio Colonna, bem visto por Filipe II e Veneza, como chefe da armada pontifícia. Sob o comando e mediação do Supremo Pontífice tiveram início as negociações entre a Espanha e Veneza, mas desconfiança mútua e os interesses de ambas as partes, influenciara na demora dos acordos. São Pio V mediou nas discussões com paciência heroica e cordura, e sugeriu a Dom João da Áustria, bastardo irmão de Felipe II, então jovem de 24 anos, como generalíssimo dos exércitos cristãos.

Durante as negociações, uma peste dizimou a esquadra veneziana, e os turcos conquistaram a ilha de Chipre, após 48 dias de resistência heroica. A perda de Chipre desanimou toda a Cristandade. São Pio V culpou os príncipes católicos por aquela perda, que deveriam abandonar suas atitudes antes que fosse tarde demais, e só expiariam suas culpas se resolvessem se unir em defesa da Cristandade. Continuar lendo

O ACORDO ROMA-MOSCOU

O artigo seguinte trata de uma das páginas mais tristes de nossa história, o acordo Roma-Moscou firmado em 1962. Ele nos ajuda a compreender o porquê do Vaticano ter se calado sobre o comunismo no Concílio, bem como as origens da atual política de simpatia por políticos e personalidades de esquerda. 

Revelado inicialmente pela imprensa comunista, foi confirmado posteriormente por publicações progressistas e comentado no periódico católico “Itinéraires”. Mas ninguém leu, ou se leu, não acreditou, ou se acreditou, deu ao acordo uma interpretação complacente que não mais se pode manter.

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Jean Madiran

A negociação secreta entre a Santa Sé e o Kremlin efetivamente realizou-se. Concluiu-se realmente o acordo. Roma comprometeu-se de verdade. Tudo mostra que o pacto continua em vigor, embora não seja de ontem mas de anteontem. Ele é de 1962. Há 22 anos a atitude mundial da Igreja Católica em face do comunismo está subordinada às promessas feitas aos negociadores soviéticos.

Não revelo segredo algum. Relembro o que todos deviam saber, mas esqueceram, ou jamais souberam ou fingem ignorar. No entanto, publicaram-se, em 1962, três coisas na imprensa comunista e na católica: 1) a existência da negociação; 2) a conclusão do acordo; 3) as promessas feitas pela Santa Sé. O essencial foi dito, escrito, impresso sob completa desatenção. Os comentadores mais bem informados baixaram os olhos pudicamente. Não se registrou nenhum comentário pormenorizado, salvo em “Itinéraires”. Admitindo-se que, na época, a distração, real ou fictícia, foi universal, hoje a ignorância é completa. De sorte que, resumindo o assunto em algumas dezenas de linhas em “Présent” de 30 de dezembro de 1983, provoquei a estupefação dos mais experimentados na matéria e topei freqüentemente com uma incredulidade desdenhosa ou indignada. Era esse o meu resumo: “João XXIII comprometeu-se com o negociador soviético — que era Mons. Nicodemo — a não atacar o povo nem o REGIME da Rússia. Isso era para que Moscou permitisse que os observadores ortodoxos russos comparecessem ao Concílio. Desde então a Santa Sé considera-se ligada pelos compromissos de João XXIII. Já não se nomeia o comunismo em nenhum documento pontifício”. Diante dessas linhas, as pessoas reagiram como se jamais tivessem ouvido falar dessa negociação e dessa promessa. Continuar lendo

BRASIL CATÓLICO

Resultado de imagem para brasil católicoO Brasil, durante muito tempo, foi considerado o maior país católico do mundo. Parece que houve épocas em que mais de 90% dos brasileiros eram católicos. Não é para espantar. Os países colonizados pelos portugueses e espanhóis foram fundados por homens que tinham uma preocupação grande com a salvação das almas. Apesar de muitas mentiras contadas para as nossas crianças nos livros escolares onde o papel civilizador e santificador da Igreja Católica é enegrecido e brutalizado por calúnias, a verdade límpida e pura é evidente: houve abusos, houve comércio, enriquecimento de alguns, ganância e crimes, certamente, porque em todo empreendimento humano sempre será desta forma; houve sim porque nem sempre os portugueses ou espanhóis que vieram para cá foram homens católicos ou, pelo menos, que vivessem o catolicismo de modo puro e sincero. Ao contrário, havia até condenados pela justiça que encontraram nos riscos de tal aventura um meio de escapar da prisão. Mas o que faziam os missionários dentro daquelas cascas de noz que atravessavam o Atlântico? O que queriam? Possuir terras e riquezas? Ouro? É curioso como se inverte a realidade. Se assim fosse, não seria mais lógico que primeiro deixassem que o ouro fosse descoberto para depois vir participar da “divisão”? Porque os padres e religiosos viriam sem saber se ouro havia? Porque eles sabiam de uma só coisa, e era suficiente: havia gente. Havia povos pagãos que precisavam do Evangelho para conseguir ir para o céu. E os mentirosos como o sr. Mário Smith, autor nefasto de livros de História envenenam grande quantidade de crianças brasileiras com carimbos e chancelas dos nossos ministérios. Gente como este senhor precisava responder a processos judiciais por envenenamento de almas. Ele faz o contrário do que faziam os missionários, ele corrompe, mente, debocha, destruindo nas consciências dóceis das crianças o amor por nosso passado, por nossa cultura católica, por nossa Pátria.

Onde estão os católicos do nosso país para denunciar esta corrupção da verdade? Onde estão os bispos brasileiros para proibir aos seus fiéis o uso de tal medíocre e mentiroso livro?

O Brasil era um país católico. Chamou-se Terra da Santa Cruz porque foi batizado próximo da festa da Invenção da Santa Cruz, no dia 3 de maio, que celebra a descoberta da verdadeira Cruz de Nosso Senhor, por Santa Helena, em Jerusalém. A sociedade brasileira, apesar de seus governos liberais, maçônicos, anti-católicos, manteve sempre acesa a luz da Fé e chegou aos meados do século XX como essa grande nação católica, que causava admiração a tantos, pela simplicidade e pela convicção do seu povo. Continuar lendo

NOVA PÁGINA DO BLOG – PALESTRAS FSSPX: DVDs À VENDA

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Prezados amigos, leitores e benfeitores, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Criamos uma página exclusiva aqui no blog para venda dos DVDs das palestras proferidas pelos padres do Priorado da FSSPX em Santa Maria.

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Sempre que tivermos novidades nos títulos e mas quantidade disponíveis  essa página será atualizada.

É uma grande oportunidade para instrução/formação pessoal e também conhecimento do trabalho da FSSPX.

Nesse mar de heresias e ambiguidades pós-conciliares, nada melhor que o porto seguro da verdadeira Doutrina Católica.

FORMAÇÃO FSSPX: OUTROS TÍTULOS À VENDA EM DVD

Resultado de imagem para fsspxPrezados amigos, leitores e benfeitores, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Estamos disponibilizando novamente mais algumas palestras proferidas pelos padres da FSSPX (Priorado de Santa Maria).

Os primeiros a enviarem email (gespiox@yahoo.com.br) com a solicitação terão prioridade na aquisição.

O valor de cada título já contempla o frete na modalidade PAC.

As descrições e as quantidades disponíveis estão abaixo:

OS RITOS DA MISSA (TRIDENTINA) – EXPLICAÇÃO DAS ORAÇÕES E CERIMÔNIAS (R$ 50,00)

(QTE À DISPOSIÇÃO: 22)

  • Introdução Geral
  • Teologia da Redenção
  • Visão de Conjunto
  • Ofertório
  • Canone Comunhão
  • Conclusão

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FÁTIMA E A EXPERIÊNCIA SOVIÉTICA (R$ 40,00)

(QTE À DISPOSIÇÃO: 18)

  • Introdução Geral
  • As Cinco Rússias
  • Liberalismo E Niilismo
  • Revolução Soviética
  • “Nossa Senhora Disse-Me” (Resumo Das Aparições)
  • “A Rússia Espalhará Os Seus Erros Pelo Mundo” (Natureza Do Comunismo)
  • Conclusão: França E Rússia

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A EDUCAÇÃO CATÓLICA DOS FILHOS (R$ 40,00)

(QTE À DISPOSIÇÃO: ESGOTADO)

  • A Família, Base da Educação
  • A Alma Humana
  • A Prudência da Educação
  • A Ordem do Bem Comum
  • A Cidade de Deus
  • Conclusão

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HÁ 100 ANOS ATRÁS, O COMUNISMO ATACOU A IGREJA E O MUNDO

news-header-imageEm Março de 1917, Lênin vivia na pobreza em Zurique. Ele era o líder exilado de um pequeno, extremista e revolucionário partido. Oito meses depois, em Outubro de 1917, ele se tornaria o mestre da Rússia, um país com mais de 160 milhões de habitantes e superfície geográfica cobrindo um sexto das terras inabitadas da Terra. Ele estabeleceu neste país um dos piores regimes que o mundo já teve conhecimento.

Fonte: SSPX – USA — Tradução gentilmente cedida pelo nosso amigo Sr. Fernando Scorsin 

Antes de encontrar seu caminho de volta a Rússia, Vladimir Ilitich Oulianov estava vivendo uma vida medíocre em Zurique, gastando seu tempo em escrever artigos para publicações Marxistas obscuras e em desprender longos debates nas cafeterias.

Mas no meio da Primeira Guerra Mundial, com o apoio do governo do Kaiser Guilherme II, Lênin viajou pela Alemanha e Escandinávia para retornar a Rússia. Esta viagem de oito dias, de 27 de Março a 3 de Abril, 1917, mudou o aspecto do mundo.

Milhões de projéteis destrutivos foram atirados durante a guerra mundial”, escreveu Stefan Zweig no Le Wagon-pomblé (o vagão-guia que transportava Lênin e cerca de trinta bolcheviques pela Europa, nota da tradução), mas “nenhum voou mais longe, nenhum teve papel mais decisivo em toda a história recente que este trem saído da fronteira Suíça, carregado com os mais perigosos e determinados revolucionários do século, que atravessou a Alemanha e pousou em São Petersburgo, onde explodiu a ordem a reinante”.

Ele era um homem insignificante e preocupado quando chegou em Petrogrado, na noite de 16 de Abril de 1917; ele temia a possibilidade de ser preso por traição, assim que desembarcasse do trem, pelo governo temporário regido pelo Príncipe Georgy Lvov, que estava no cargo desde de abdicação do Czar. Durante esta jornada, ele escreveu suas Teses de Abril, advogando por uma revolução radical proletária, a qual não incluía a revolução da classe-média prescrita pela teoria Marxista. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 4/4

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Meeting_of_doctors_at_the_university_of_Paris.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 269 – Tradução: Dominus Est

Por mais pertinente que sejam os campos de ação do Apóstolo, e por mais elevado que esse campo seja na sociedade, sua eficácia depende necessariamente de algumas condições pessoais.

Ora, o católico que deseja ver o reino de Jesus Cristo intervém em dois tipos de esfera bem distintas: uma puramente espiritual e a outra puramente temporal. Além disso, o verdadeiro apóstolo deve ser dotado de qualidade espirituais e humanas.

Meios sobrenaturais

Um adágio filosófico extremamente simples ensina que a causa é proporcional ao efeito. Se o apóstolo pretende fazer uma obra sobrenatural, ele mesmo deve ser profundamente sobrenatural. Caso contrário, sua ação será humana e o fruto… humano. Se o apóstolo quer obter um fruto bem profundo e durável, ele mesmo deve ter um vida interior profunda.

O apóstolo deve, portanto, ter necessariamente como apoio uma profunda vida interior. Por isso é que os papas insistem tanto na vida de oração que deve dirigir toda a ação católica, que por sua vez é um prolongamento da ação salvífica de Cristo e dos Apóstolos. E, com efeito, trata-se de uma verdadeira vida de oração, e não do cumprimento de alguns exercícios de piedade. É uma vida de piedade, e não um verniz de piedade que não teria qualquer influência sobre a maneira de viver e julgar.

Essa vida de oração deve igualmente ser acompanhada de uma vida de fé sólida e instruída. E a formação doutrinal deve também ter uma importância de primeira ordem. Enfim, o apóstolo não deve poupar-se de um verdadeiro espírito de sacrifício.

Conforme escreveu São Pio X, «Antes de tudo, é preciso estar profundamente convencido de que o instrumento é inútil se ele não é apropriado ao trabalho que se quer executar. Conforme o que foi evidenciado acima, a ação católica, na medida em que se propõe a restaurar todas as coisas em Cristo, constitui um verdadeiro apostolado para a honra e glória do próprio Cristo. Para bem cumpri-lo é preciso que se tenha a graça divina e que o apóstolo só a receba se estiver unido a Cristo. Somente quando tivermos formado em nós Jesus Cristo é que podemos mais facilmente trazê-Lo às famílias e à sociedade. Todos aqueles que são chamados a dirigir ou que se consagram à promover o movimento católico, devem ser católicos à toda prova, convictos de sua fé, firmemente instruídos nos assuntos religiosos, sinceramente submissos à Igreja e especialmente à suprema Sé Apostólica e ao Vigário de Jesus Cristo sobre a terra; eles devem ser homens de piedade verdadeira, de varonil virtude, íntegros nos costumes e de uma vida de tal modo intemerata que eles sirvam a todos de eficaz exemplo. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 3/4

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/a3/Leo_XIII.jpg/240px-Leo_XIII.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 268 – Tradução: Dominus Est

Cristianizar a sociedade em todos os seus elementos e fazer irradiar Cristo Rei: tal é o desejo caro a muitos corações católicos.

Ainda é preciso saber como se tomar uma decisão acerca dos meios. Por isso, após ter evocado os grandes princípios da Ação católica, resta-nos ver como aplicá-los: em quais campos de ação[1] e segundo quais condições.

«Ademais, importa — observa São Pio X — definir claramente as obras pelas quais as forças católicas devem se esforçar empregando toda sua energia e constância. Essas obras devem ser de uma tão evidente importância, responder de tal maneira aos desejos da sociedade atual, adaptar-se tão bem aos interesses morais e materiais — sobretudo os do povo e das classes mais pobres —, que, enquanto instiga nos promotores da ação católica a melhor atividade para obter os resultados importantes e certos que se devem esperar dessas obras, elas sejam também facilmente compreendidas e alegremente bem-vindas por todos»[2].

Privilegiar as estruturas

Além disso, mantidas inalteradas todas as outras coisas, parece necessário visar ainda mais as estruturas[3] que os indivíduos. O indivíduo afeta os demais indivíduos e desaparece em seguida. A estrutura permanece.

Privilegiar as estruturas já existentes

Essa atenção às instituições é dupla. Por um lado ela visa dar novamente um respiro às estruturas existentes, isto é, dar um verdadeiro espírito cristão; por outro lado ela visa fundar novas estruturas.

Esse apostolado pode então se ordenar em duas palavras: conservar e desenvolver. Antes de fazer melhor do que aquilo que existe, convém antes fazer bem aquilo que existe. Também vale mais proteger e desenvolver as obras existentes.

Infelizmente, esse princípio é frequentemente esquecido. Seduzido por uma idéia que lhe parece genial, o apóstolo se lança de cabeça numa obra que aos seus olhos parece indispensável: uma nova confraria, um novo círculo, um grupo de oração em torno de uma devoção esquecida há muito e que lhe parece imperativo ressuscitar[4]. Na Ação católica, assim como em tudo, é preciso desconfiar da tentação que tem aparência de bem.

Com efeito, frequentemente é preferível apoiar o que já existe. Além disso, é um meio certo de evitar o apego à uma obra pessoal e todos os inconvenientes humanos que ela traz consigo. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 2/4

https://www.herodote.net/_images/8-papaute2-henri4-agenouille-gregoire7-vatican.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 260 – Tradução: Dominus Est

No artigo anterior foram evocados os objetivos assim como os três princípios da ação católica tais como o Magistério nos deu em seus ensinamentos:

O objetivo da ação católica é contribuir para a instauração do Reino de Jesus Cristo nos indivíduos, nas famílias e nas sociedades.

Esses três primeiros princípios[1] da ação católica são os seguintes:

A ação católica deve se adaptar à ordem natural e impregná-la da graça. Em poucas palavras, ela deve cristianizar a ordem das coisas.

Sendo a natureza do homem sociável, a ação católica deve impregnar sem destruir toda a vida social e política do homem, ou seja, cristianizar os corpos intermediários e, finalmente, todas as instituições sociais e políticas.

Sendo dupla a natureza das obras humanas — temporal e espiritual —, os princípios da ação católica variam de acordo com esses dois modos. E esses princípios engendram outros:

Quarto princípio: a ação católica deve estar submissa à autoridade eclesiástica

Se a ação católica visa instaurar o Reinado de Nosso Senhor na ordem puramente espiritual ou temporal, sua ação é eminentemente sobrenatural e diz respeito à ordem da graça. Ora, o que diz respeito à ordem da graça diz respeito à autoridade eclesiástica. Por conseguinte, a obediência condiciona o sucesso do apostolado, conforme ensina Pio XII:

«Essa estreita colaboração do laicato ao apostolado hierárquico, em uma inteligente e alegre obediência em relação aos chefes espirituais que o Espírito Santo colocou para reger a Igreja de Deus, é a garantia de sucessos sobrenaturais divinamente prometidos aos mensageiros do Evangelho (…)»[2].

Contrariamente a isso, afastar-se da tutela eclesiástica nas esferas que lhe pertencem equivale a se privar das bênçãos do Céu. Continuar lendo

OS PRINCÍPIOS DA AÇÃO CATÓLICA – PARTE 1/4

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/65/Chlodwigs_taufe.jpg/300px-Chlodwigs_taufe.jpgPelo Pe. François-Marie Chautard

Fonte: Le Chardonnet nº 260 – Tradução: Dominus Est

Conforme diagnosticou São Pio X na sua encíclica Notre charge apostolique de 25 de agosto de 1910, o «pecado original» do Sillon não consistia numa falta de generosidade, mas sim numa falta de formação.

Esse fato é importante: M. Sangnier e seus adeptos foram católicos piedosos e zelosos; infelizmente esse ardor foi desviado por uma cruel falta de conhecimento, e por se emanciparem da autoridade eclesiástica. É por isso que, antes de se lançar no campo da ação[1], é indispensável instruir-se.

Ademais, antes mesmo de buscar os princípios da ação católica, é importante conhecer a natureza da ação católica. Mas para aprender isso convém examinar o objetivo da ação católica.

I – OBJETIVO DA AÇÃO CATÓLICA: A CRISTANDADE

São Pio X forneceu uma descrição da natureza da Ação católica em sua magistral encíclica Il fermo proposito de 11 de junho de 1905:

«Com efeito, todos nós da Igreja de Deus somos chamados à formar um único corpo cuja cabeça é Cristo; corpo do qual, conforme ensina o Apóstolo Paulo, “coligado e unido por todas as juntas, por onde se lhe subministra o alimento, obrando à proporção de cada membro, toma aumento de um corpo perfeito para se edificar em caridade”.

E assim nessa obra de “edificação do Corpo de Cristo” (…) Nosso primeiro dever é o de ensinar, de indicar o método a seguir e os meios a se empregar, de advertir e de exortar paternalmente; é também dever de todos Nossos caríssimos filhos ao redor do mundo ouvir Nossos conselhos e de aplicá-los antes em si mesmos e cooperar eficazmente para que eles também sejam comunicados aos demais, cada um conforme a graça que recebeu de Deus, conforme seu estado e suas funções e conforme o zelo que inflamar em seu coração.

Aqui Nós queremos somente relembrar essas múltiplas obras de zelo para o bem da Igreja, da sociedade e dos indivíduos — comumente designadas pelo nome de Ação Católica — que, pela graça de Deus, florescem em todos os lugares…». Continuar lendo

AS DIFERENTES POSIÇÕES DOS CATÓLICOS NO PÓS-CONCÍLIO

Devido ao grande número de questionamentos que recebemos – desde pessoas que querem, humildemente, entender a posição da FSSPX e crise de fé que abala a Igreja até alguns “grandes sábios de redes sociais” que nos acusam de coisas que, além de nos causar grandes risadas, mostram nitidamente que não entendem nada sobre a Tradição, relinchando jargões já refutados há décadas – republicamos um texto da década de 80, escrito pelos até então “Padres Tradicionalistas de Campos” (hoje acordistas) e que permanece atual, para que cada um, de uma maneira simples, analise sua posição de católicos nessa crise pós conciliar.

AS VÁRIAS POSIÇÕES TOMADAS NA CRISE ATUAL

frame-crise-na-igreja1) PROGRESSISMOse subdivide em diversas categorias:

a) Obediência cega: aqueles que não admitem resistência às autoridades. É a posição mais cômoda na crise atual. Tem vários graus. Há até aqueles que dizem: “Prefiro errar com o Papa a acertar sem ele”“Se o Papa fosse para o inferno eu iria junto”. Peca por excesso: chama-se subserviência. Destes tais dizia São Bernardo: “Aquele que faz o mal, sob o pretexto de obediência, faz antes um ato de rebeldia do que de obediência”.

b) Ultra-progressismo: são aqueles que, seguindo os princípios do Concílio Vaticano II, são mais lógicos e vão até às últimas conseqüências, sendo mais avançados do que as próprias autoridades auto-demolidoras da Igreja, não respeitando os freios que estas, por receio de escândalo, tentam impor. São os que, por exemplo, promovem os cultos afros, na linha da inculturação preconizada por João Paulo II; são os que pregam o ecumenismo total, na linha do encontro ecumênico de Assis; são os que apóiam as invasões de terra e o socialismo, na linha da teologia da libertação, etc.

c) Oficialismo: é a posição daqueles que, talvez pelo receio de serem chamados cismáticos, procuram tranqüilizar a própria consciência dizendo que seguem as autoridades oficiais da Igreja, mesmo quando favorecem à autodemolição. É a tentação da oficialidade, que reconhecemos ser bastante forte e sedutora, como se viu na Paixão de Jesus, quando a grande maioria do povo preferiu ficar do lado das autoridades religiosas oficiais que condenavam injustamente a Jesus, que ficou com poucos amigos fiéis.

Os que defendem tal posição teriam ficado com Aarão, sumo sacerdote oficial escolhido por Deus, que levou o povo a adorar o bezerro de ouro; teriam ficado com Caifás, sumo sacerdote oficial, que condenou a Jesus, teriam ficado com o Papa Libério, que favoreceu ao semi-arianismo e excomungou Santo Atanásio; teriam ficado com o Papa Honório que foi anatematizado pela Igreja, após sua morte, por ter também favorecido à heresia.

d) Conservadorismo: são os tidos como “conservadores”, querem conservar os ritos antigos, sem resistir aos novos ritos e às novas doutrinas instaladas na Igreja. Subdividem-se em:

Bi-ritualismo, “ralliés”: São os que gostariam de conservar a Tradição (Liturgia tradicional) ao mesmo tempo que a obediência às autoridades atuais e aos seus princípios, sobretudo aos princípios inovadores do Concílio Vaticano II, aceitando a legitimidade e exatidão doutrinária do Novus Ordo. Calam-se sobre pontos da doutrina tradicional, como preço pago a serem reconhecidos na Igreja hoje. Neste grupo se incluem o Barroux, a Fraternidade São Pedro, o Instituto Cristo Rei. São os que pleiteiam a “missa do indulto” e o bi-ritualismo, isto é, a legitimidade dos dois ritos, o da Missa tradicional e o da Missa nova.

“Sirismo”: Posição do Cardeal Siri, e dos que se assemelham a ele: “Mesmo que Paulo VI seja um papa pouco ortodoxo, é preciso se submeter a ele. … A nova missa é um castigo de Deus para os padres que celebravam mal a missa antes do Concílio” (Card. Siri). Esta posição consiste em aceitar as novidades da autodemolição por espírito de submissão e sofrer com isso. Obedecer e sofrer. Posição muito espalhada também.

2) SEDEVACANTISMO (de várias gamas: desde os mais extremistas até aos mais moderados): baseia-se no mesmo princípio equivocado anterior de não admitir resistência às autoridades. Levados, talvez, até pelo zelo da ortodoxia na Igreja e não podendo conceber que as autoridades favoreçam à heresia, classificam esses desvios doutrinários como heresias formais e concluem que perderam os seus cargos. Os mais extremistas acham que se deva eleger outro Papa e organizar outra hierarquia. Outros acham que a Igreja visível acabou (=heresia!). Alguns acham que a Igreja está sem Papa desde Pio XII. Dividem-se, porém, sobre a causa exata e a data em que tal coisa aconteceu.

3) CISMÁTICOS (recentes)São aqueles que acham que a Igreja atual falhou, separaram-se dela e elegeram um outro Papa. Assim são, por exemplo, os seguidores da igreja de Palmar de Troya, na Espanha e do movimento de Santa Jovita, no Canadá.

4) NOSSA POSIÇÃO NESSA CRISE: Nós, padres de Campos que formamos a União Sacerdotal São João Batista Maria Vianney, (FSSPX) somos católicos apostólicos romanos. Não somos “lefebvristas”, porque não existe, nem nunca existiu “lefebvrismo”, porquanto Dom Marcel Lefebvre não tinha doutrina própria nem formou uma hierarquia própria. Não somos “tradicionalistas”, no sentido de que “tradicionalismo” identifica um partido na Igreja. Somos fiéis à Tradição da Igreja como todo católico sempre foi e sempre deverá ser. Nem cismáticos, nem excomungados como nos acusam, a fim de impressionar a imaginação coletiva e formar um vazio ao nosso redor.

Esta é a também a posição de Dom Marcel Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer, Fraternidade São Pio X, e dos fiéis em geral ligados à Tradição.

Fonte: Católicos Apostólicos Romanos – Nossa posição, na atual crise da Igreja – Livreto editado pelos “Padres Tradicionalistas de Campos”, antes do acordo com Roma

Publicado originalmente em dez/2015

QUEM QUER DESTRUIR A ORDEM DE MALTA

Por Roberto de Mattei, Corrispondenza Romana, Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum.com: 

“Muito antes que as Nações tivessem chegado a estabelecer uma lei internacional; muito antes que tivessem podido forjar o sonho – ainda não realizado – de uma força armada comum para proteção da sã liberdade humana, da independência dos povos e de uma pacífica equidade nas suas relações mútuas, a Ordem de São João já havia reunido em uma irmandade religiosa e sob a disciplina militar, homens de oito ‘línguas’ diferentes, votados à defesa dos valores espirituais, que constituem o apanágio comum da Cristandade:  a fé, a justiça, a ordem social e a paz.”

ordine-di-maltaEssas palavras, dirigidas em 8 de janeiro de 1940 pelo Papa Pio XII aos Cavaleiros da Soberana Ordem Militar de São João de Jerusalém, dita de Rodes e depois de Malta, resumem as características da mais antiga das Ordens de Cavalaria, o único Estado soberano cuja bandeira ondulou no campo das Cruzadas. Uma ordem cujo carisma tem sido sempre o da “Tuitio fidei et Obsequium pauperum” [Defesa da fé e serviço dos pobres]. É imaginável que um Papa queira destruir essa instituição, glória da Cristandade? Infelizmente, é precisamente esta a impressão que se tem  dos últimos acontecimentos relativos à Ordem de Malta.

Correspondência Romana ofereceu uma primeira reconstrução dos fatos em 24 de dezembro de 2016. Edward Pentin aprofundou e enriqueceu o cenário com novos detalhes no National Catholic Register de 7 de janeiro de 2017. O quadro, em resumo, é o seguinte: em 6 de dezembro, o Grão-Mestre da Ordem de Malta, Fra Matthew Festing, na presença de duas testemunhas, uma das quais era o cardeal-patrono Raymond Leo Burke, pediu ao chanceler Albrecht Freiherr von Boeselager que renunciasse. Com efeito, tinha vindo à luz que o chanceler Boeselager, durante o período em que foi o Grande Hospitalário da Ordem, havia abusado de seu poder promovendo a distribuição de milhares de preservativos e contraceptivos, inclusive abortivos, em alguns países do Terceiro Mundo. Apesar da promessa de obediência que o liga ao Grão-Mestre, o Grão-Chanceler recusou-se a renunciar. Contra ele foi então iniciado um procedimento para suspendê-lo de todas as posições que ocupava. Continuar lendo

A REPRESENTAÇÃO DA NATIVIDADE MAIS ANTIGA TERIA 5000 ANOS

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Um menino ao lado de seus pais, dois animais próximos, um astro no céu: esta poderia ser a mais antiga “Natividade” anterior à escrita jamais descoberta até hoje. Essa pintura rupestre foi desenhada há 5000 anos em uma pequena gruta do Saara egípcio, rebatizada de “Gruta dos pais”.

Essa informação “insólita” nos é relatada pela ANSA (Agência Nacional de imprensa italiana), que atribui a descoberta ao geólogo Marco Morelli, diretor do Museu das Ciências Planetárias do Prato, que descreve assim essa “pequena piscadela” da Providência:

Nossa expedição geo-arqueológica nascera com o objetivo de explorar alguns sítios entre o vale do Nilo e o Gilf el-Kébir. Em busca de estruturas geológicas semelhantes a crateras de impacto, de pinturas rupestres já conhecidas e de algumas caves de ocre utilizadas pelos egípcios. Depois de 20 dias no deserto, tinha terminado meu trabalho de geólogo. E, assim, por curiosidade, me aventurei sozinho ao longo de um canal que se ramificava no fundo do vale principal.

Quando chegou a uma zona isolada, o pesquisador tropeçou em uma pequena cavidade semelhante a uma gruta, perfurada pela água na rocha. Continuar lendo

O LIBERALISMO DE TODO MATIZ E CARÁTER FOI JÁ FORMALMENTE CONDENADO PELA IGREJA?

Pe. Félix Sardá y Salvany

Sim, o liberalismo, em todos os seus graus e em todas as suas formas, foi formalmente condenado; de modo que, além das razões de malícia intrínseca que o fazem mau e criminoso, todo fiel católico tem acesso à suprema e definitiva declaração da Igreja a respeito do liberalismo: ela o julgou e anatematizou. Não se podia permitir que um erro de tal transcendência deixasse de ser incluído no catálogo das doutrinas oficialmente reprovadas, e aliás foi ele incluído em várias ocasiões.

Já quando apareceu na França, durante sua primeira Revolução, a famosa Declaração dos Direitos do Homem, que continha em germe todos os desatinos do moderno liberalismo, foi condenada por Pio VI.

Mais tarde, essa doutrina funesta foi desenvolvida e aceita por quase todos os governos da Europa, até pelos príncipes soberanos, o que é uma das mais terríveis cegueiras que ofereceu a história das monarquias. Tomou em Espanha o nome pelo qual hoje é conhecida em toda parte: liberalismo.

Ocorreram as terríveis contendas entre monarquistas e constitucionalistas, os quais se designaram mutuamente com os nomes de servis e liberais. Da Espanha essa denominação estendeu-se a toda a Europa. Pois bem, na maior força da luta, por ocasião dos primeiros erros de Lamennais, Gregório XVI publicou sua Encíclica Mirari vos[1], condenação explícita do liberalismo, tal como era então entendido, ensinado e praticado pelos governos constitucionais.

Mais tarde, quando a corrente invasora dessas idéais funestas cresceu, tomando até sob o influxo de alguns talentos extraviados a máscara de catolicismo, suscitou Deus à sua Igreja o Pontífice Pio IX, que, com toda a razão, passará à história com o título de açoite do liberalismo.

O erro liberal, em todas suas faces e seus matizes, foi desmascarado por este papa. Para que mais autoridade tivessem suas palavras neste assunto, dispôs a Providência que a repetida condenação do liberalismo saísse dos lábios de um Pontífice que os liberais, desde o princípio, procuraram apresentar como seu partidário. Depois dele, já não restou mais subterfúgio algum ao qual pudesse recorrer este erro. Os numerosos Breves e Alocuções de Pio IX mostraram ao povo cristão o liberalismo tal qual ele é, e o Syllabus colocou o último selo na condenação. Continuar lendo

O SUICÍDIO DE LUTERO

Étienne Couvert

Em 20 de maio de 1505, Lutero iniciara seus estudos de Direito na Universidade de Erfurt. Pouco tempo depois, porém, uma desgraça ocorreu. Tendo encontrado seu amigo Jerônimo Buntz, desentenderam-se, travaram um duelo e Lutero acabou por matar seu companheiro. Em junho daquele mesmo ano, preocupado com as consequências da morte, Martinho buscou seu protetor e amigo, João Braun, vigário colegial em Eisenach, para lhe pedir conselho. Este o estimulou a tornar-se religioso, a fim de evitar as consequências judiciais do caso. Lutero acatou a sugestão e em 17 de julho de 1505 entrou para o convento dos Eremitas de Santo Agostinho, em Erfurt. Beneficiou-se assim do direito de asilo, então reconhecido pela justiça civil. Seu primeiro tratado, redigido por ele mesmo, intitula-se: “Sobre aqueles que se refugiam nas igrejas, muito útil para os juízes seculares e para os reitores de uma igreja e os prelados de mosteiros”. (“De his qui ad ecclesiam confugiunt tam judicibus secularibus quam Ecclesiae Rectoribus et Monasterioum Praelatis perutilis”). A obra foi publicada anonimamente em 1517, e depois em 1520 com o nome de Lutero. Nela, é lembrado que quem mata sem ter sido inimigo, por erro ou sem premeditação, não é culpado segundo a lei de Moisés.

Em seu mosteiro, porém, Lutero não encontrou paz de espírito. Sua vocação, bastante questionável, foi resultado mais de medo que de um chamado divino ou amor à oração e à solidão.

Devido a seu temperamento hereditário, em acréscimo à sua educação familiar, Martinho era dotado de um caráter violento e explosivo, de tipo primário, que no primeiro impulso age sem refletir, além de uma alma escrupulosa que depois de ter agido, rumina bastante sobre o erro ou a falta cometida desnecessariamente e que podia ter sido evitada com um pouco de reflexão. É um tipo de humanidade bastante comum neste mundo e que não deveria, de modo algum, provocar uma angústia suicida.

Uma morte cometida durante uma rixa, certamente mais acidental que premeditada, não deveria jamais provocar essa crise, que não fez senão acentuar-se ao longo de sua existência, até o suicídio final. A isso é preciso acrescentar outro fator. Continuar lendo