COMO EDUCAR OS FILHOS MEDROSOS

medoHá medos instintivos: como a galinha foge ao ver pela primeira vez a raposa, o homem recua diante do que lhe representa perigo. Quando o perigo é determinado e conhecido, o medo revigora o homem para a luta ou para a fuga. Quando, porém, a pessoa teme sem saber ao certo o que nem porque, não tendo para onde fugir, toma o tormentoso caminho da angústia.

É instintivamente que as crianças de dois meses estremecem com ruídos súbitos ou com uma luz mais viva que de repente se acende. E mais tarde choram em face de um desconhecido, correm de animais, recuam ante o fogo, gritam quando as suspendem bruscamente ou as giram, etc.

Medo ao desconhecido

Tudo o que é súbito, intenso ou desconhecido produz medo à criança. É por isso que seus terrores são tanto mais numerosos quanto maior é sua ignorância das coisas. Vejam como se apavora facilmente um pequenino de dois a quatro anos. À medida que ele for tomando conhecimento da vida, vai perdendo muitos medos, a menos que uma errada educação os agrave e multiplique.

Ensina-se o medo

A criança é extremamente sugestionável: aprende com facilidade o que vê e escuta.

Se vê a mãe subir à cadeira por causa de uma barata, o pai espavorido com o número 13, as irmãs apavoradas com o trovão, etc., é natural que tome as mesmas ridículas atitudes. Assim se explicam os idiotas pavores de escuro, máscaras, cor preta, soldado, velho mendigo, sangue, etc.

Do ambiente doméstico lhe vêm outros medos: lobisomem, fantasmas, almas de outro mundo, cadáveres, doenças, micróbios, tabus alimentares, supertições mil, personagens imaginários e até reais, mas que antes devem infundir simpatia – soldado, padre, médico, dentista, mendigo…

Há medos cultivados pelos adultos. Pais, incapazes de se fazerem obedecer, apelam para intimidações; empregadas, para acalmarem as crianças, ou as fazerem comer, dormir, etc., ameaçam-nas com a guarda ou bicho-papão! Mães os sugerem a ponto de deformar a criança.

As sugestões provêm também de histórias macabras, filmes impressionantes (entre estes citamos os “infantis” “Branca de Neve” e “Chapeuzinho Vermelho”), certas revistas de quadrinhos, que vão povoando a imaginação das crianças de cenas de violências e sangue, de personagens agressivos e medonhos, e de perigos que ameaçaram outras crianças.

Recomendações excessivas

– “Não subam nas árvores, para não caírem

– “Não joguem bola, para não se feriem”

– “Não corram na bicicleta, para não quebrarem a espinha”

– “Não se debrucem na janela, que é muito perigoso”

– “Não tomem chuviscos, para não ficarem tuberculosos”

São lições de poltroneria, de falta de iniciativa, de caráter varonil! O que vale é que, em sua maioria, as crianças as desprezam… E se as não desprezam prejudicam-se!

Vida doméstica

Calma e tranqüila, a vida da família espalha nas crianças confiança e bem-estar. Agitada e procelosa, infunde-lhes desassossego e insegurança, levando-as ao medo difuso, gerador de angústias. Se a família é agitada por brigas do casal, por cenas de alcoolismo ou perturbação mental, não admira sejam os filhos agitados por sobressaltos ao menor ruído ou alteração de vozes…

Evitemos o medo

Não pretendemos extirpar da criança todos os medos. Não creio que seja isto possível aos adultos normais. Por mais fortes que sejamos, temos sempre algum medo, embora não o confessemos com facilidade, pois não é lá muito honroso… Procuremos, contudo, evitá-lo nas crianças.

Dar segurança

Um ambiente de segurança, em que os adultos não falem de medos e não os tenham desnecessariamente, é condição essencial. Medo gera medo; segurança estabelece segurança. Amadas, felizes, sentir-se-ão em garantia as crianças. Mesmo em face de perigos, portem-se os pais com moderação e tranqüilidade, sem espantos, porque espanto produz medo.

Ambiente normal

Dê-se aos pequeninos um ambiente normal, habituando-os aos rumores comuns da casa (sem exagerados silêncios para dormirem), à meia luz do quarto para repouso diurno, à escuridão para a noite (e assim se elimina o medo à escuridão).

A criança forte

É necessário dar à criança confiança em si : sono suficiente, alimento, exercício físico, jogos de bola, corrida, exercícios de bicicleta… Isso lhe dá segurança. Arranhou? Mercúrio-cromo… Quebrou? Engessa… Se os companheiros fazem isto tudo, e ela não o faz, por medo, sentir-se-á inferiorizada. O essencial é educar uma criança sadia de corpo e espírito.

Não meter medo

Vigiar para não se falar do que mete medo às crianças; nem a família, nem as empregadas. E quando elas o ouvirem de estranhos, reduzir as coisas a suas verdadeiras dimensões, apontando o ridículo dos que temem o inofensivo.

Não ridicularizar

Quando a criança tem medo (é impossível não o ter), evite-se ridicularizá-la. Mesmo que não haja motivo real, há o subjetivo: ela vê o perigo, porque crê nele! Ridicularizar outros medrosos está certo; a própria criança não, porque isso a inibe e a inferioriza.

Confiança em Deus

Nós, que não compreendemos a educação sem o fator religioso, devemos valorizar, com a criança, a confiança em Deus: Ele nos protege. Pense a criança em Deus, invoque-O, e fique tranqüila.

Temores benéficos

Sempre que haja um perigo real, a criança deve saber temê-lo, a fim de evitá-lo. O melhor será saber com evitá-lo… A boa educação requer que não apenas se conheçam os perigos, mas se saiba evitá-los – preparando a criança para isto.

O temor de Deus

O grande temor de que o educador deve impregnar seus pupilos é aquele a que o Espírito Santo chama “o princípio da sabedoria” (Prov. 1,7). Quem tem na alma, firme e profundo, o temor de Deus, está em condições de resistir a todos os perigos e vencer todos os temores.

Teme-se o pecado, porque é ofensa ao Pai, muito mais do que pela conseqüência de levar ao inferno. Teme-se o perigo de pecar, porque as fragilidades da natureza não precisam mais de experiências para prová-las. Teme-se as más companhias, porque são elementos de perdição mais perniciosos que o próprio demônio.

Educar para o temor de Deus é educar para a sabedoria, porque o “temor do Senhor é a própria sabedoria” (Jo 28,28). É educar para o horror ao mal e o amor ao bem. É educar para a coragem, a fortaleza, a energia, a coerência – virtudes que estão faltando assustadoramente a nossos contemporâneos. É preparar homens que, em face do dever, saberão cumpri-lo sem olhar conveniências subalternas, porque desconhecem o medo da opinião alheia e não se apavoram dos instáveis julgamentos humanos.

É para esta educação que nos devemos orientar.

Corrija o seu filho – Pe. Álvaro Negromonte