CONVÉM FALAR?

otimSe a formação da inteligência do adolescente exige sérios estudos e o hábito da reflexão, a do coração e da vontade impõe a concepção de um ideal moral, que ajudará o jovem a expulsar de seu pensamento tudo aquilo que poderia deturpá-lo.

É evidente que se a pureza requer educação específica, esta só produzirá efeitos se for precedida de uma formação de consciência.

Ensinar a criança a amar o bem sob todas as suas formas, a detestar o mal mesmo quando se apresente sob aspectos agradáveis, a agir de modo que todas as suas disposições morais resumam-se no temor de desagradar a Deus e na vontade de agradá-lo, tais devem ser as preocupações constantes do educador.

É lógico que a consciência da criança discernirá tanto mais facilmente o mal no terreno da pureza, quanto maior for a sua formação nos outros setores. Mas daí não se deve concluir que seja suficiente uma formação geral, e, por conseguinte, desnecessário prevenir a criança contra os perigos que, um dia, poderão ameaçar a sua pureza.

Ao contrário, julgamos que o maior dano que se possa fazer à juventude é recusar-lhe as explicações que devem guiá-la e esclarecê-la, quando surgem as primeiras curiosidades do espírito e os sintomas da puberdade.

O principal feito do silêncio seria de fazer com que o adolescente julgue que, nesses assuntos delicados, pode prescindir de guia, e seguir tranquilamente os desejos e movimentos de sua natureza. Talvez, por essa porta aberta chegue a esse comodismo e complacência modernos e à conclusão de que as regras da moral sobre os outros domínios não tem mais consistência que sobre o da vida sexual; não tardaria, então, a abandonar o conjunto das disciplinas que foram aplicadas na formação de sua consciência infantil.

Ainda que essas explicações exijam delicadeza e tato, embora inábeis, valeriam mais do que um silêncio cúmplice do mal. Aliás, os esclarecimentos provocam a confiança e conduzem, naturalmente, a criança a relatar aos pais o que vê e o que ouve e as inquietações que podem surgir em seu espírito. O silêncio, porém, incita-a a procurar na rua ou junto de colegas impuros a resposta às perguntas que a atormentam.

Teoricamente, e sob o ponto de vista de uma pedagogia ideal, seria preferível fazer as revelações necessárias o mais tarde possível. Pois a inocência é, por si mesma, uma proteção contra a imaginação e as reflexões, quiçá perturbadoras dos adultos, sobre os órgãos e os atos sexuais. Torna-se, às vezes, uma garantia mais segura contra as tentações do que um conhecimento explícito. Infelizmente, esse método é hoje inaplicável, porquanto a infância é contornada de tantos perigos que esses assuntos lhe serão apresentados de maneira a mais impura; é preciso, pois, que lhe dêem, no devido tempo, as necessárias explicações.

Não há mais escolha entre inocência e conhecimento, mas sim, entre “conhecimento puro” e “conhecimento impuro”.

Cabe aos pais o dever de prevenir os filhos contra os perigos que os podem assaltar. É inadmissível que a sua influência termine precisamente na idade em que mais necessitam de suas luzes e direção. O sacerdote e o educador podem auxiliar os pais, porém nunca poderão substituí-los. É aos pais que Deus confiou a missão expressa de conduzir os filhos até o término da adolescência. Aliás, o padre e o mestre, salvo exceções, não vivem bastante intimamente com a criança para se certificar de sua natureza e de seu desenvolvimento moral. Os pais, por menos atentos que estejam, assistem à eclosão dos sentimentos, e podem facilmente adaptar seu ensino às disposições de cada um.

A educação do pudor e do sentimento – Jean Viollet