CUIDADOS QUE RECLAMAM A VIDA E A SAÚDE DA CRIANÇA

Não ameis só com a boca e com as palavras, diz o Espírito Santo, mas amai com as obras e com a verdade. Deus não ordena só à mãe cristã um amor de afeição e de puro sentimento, para com os seus filhos, mas também uma dedicação eficaz e generosa, que tanto tome cuidado do corpo, como da alma. Seria estéril e vã a ternura da mãe, que não desse a seus filhos os cuidados corporais e espirituais que trataremos de expor, no decurso desta obra.

Os primeiros cuidados corporais que a mãe deve a seus filhos têm por objeto a vida e a saúde destes tenros seres, cujo desenvolvimento físico Deus lhes manda vigiar. A solicitude da mulher, pela saúde e pela vida de seu filho, deve começar desde o instante em que começa a ser mãe. É para ela um dever rigoroso evitar tudo o que poderia prejudicar o fruto que traz no seio, pela benção do Céu. Durante o tempo de gravidez e sobretudo durante o segundo e terceiro mês, segundo afirmam os médicos, a vida da criança é mais frágil, e seria da parte duma mulher uma culpável imprudência levar carretos pesados, ou entregar-se a graves excessos de intemperança, a trabalhos muito puníveis, a violentos excessos de cólera, a longos e amargos pesares. 

Quantas crianças nascem disformes, por culpa de sua mãe, e quantas morrem antes de nascer, sendo ao mesmo tempo privadas da vida do corpo e da alma. Desgraça irreparável que uma mulher deve prever e prevenir, pela mais atenta vigilância. Se semelhante desgraça acontecesse por sua culpa, seria para encher a sua vida de tristeza e de remorso. «Também com que respeito religioso traz uma mulher cristã no seu seio, como num santuário abençoado por Deus, a graça que dele recebeu. Com que inefável solicitude ela pensa nesse fraco corpo, que faz parte do seu próprio! Que santa gravidade, que reserva, que sossego de todas as paixões, a fim de que a vida da criança se forme sem abalo, na profunda paz duma alma tranquila, e para que assim esteja predisposta, tanto quanto possível, para costumes pacíficos e virtuosos!»[1]

Depois do nascimento da criança, de que nova solicitude não é preciso rodear, especialmente durante os primeiros meses, esta existência tão frágil e delicada? Que atenção para não deixar a criança sofrer frio ou fome, para preservá-la do ar úmido ou viciado, nunca pondo o berço num sítio fresco ou imundo! Quem o ignora? A humidade ou pouca limpeza do berço e do vestuário são a origem duma multidão de doenças. Bastantes mães na aldeia podem acusar-se neste ponto. Ninguém o ignora: uma mulher tornar-se-ia culpada, deitando na sua cama, em riscos de sufocá-la, uma criança que tivesse menos de um ano.

E não será também uma censurável negligência deixar por muito tempo as crianças sós, expostas a deitaram fogo à casa, a darem quedas perigosas, a ficarem debaixo dos pés de algum animal, ou confiando-as a outras crianças muito fracas para as trazerem, e incapazes de as defenderem? Quantas imprudências deste gênero se cometem todos os dias? É verdade que raras vezes são seguidas de acidentes graves, mas se os anjos da guarda das crianças as preservam dos perigos a que são expostas, as mães serão inocentes perante Deus? É necessário ainda não embalar rudemente as criancinhas, nem consentir que se deitem com pessoas adultas ou doentes.

Quando, protegida pela ternura materna, a criança cresce e se fortifica, é preciso cuidado em não a ocupar em trabalhos superiores às suas forças, especialmente sendo assíduos e prolongados; seria arruinar a saúde duma criança submeter-lhe o corpo a muito rudes trabalhos. Muitos jovens têm uma estatura estiolada, são contrafeitos e gastos aos vinte anos, por causa de excessos de trabalho, a que foi condenada a sua infância. É preciso olhar por isso, e decidir-se se devem ou não admitir-se crianças de dez a quinze anos em oficinas ou fábricas, onde, se diz, ganham a vida cedo, mas onde muitas vezes também, ganham bem cedo a morte.

Haverá pais cristãos, que levem a dureza a ponto de fazerem sofrer maus tratos a seus filhos, que tão funestos são ao temperamento moral, como à saúde? Poderia uma mãe recuar covardemente diante das despesas dum médico e dos remédios para um seu filho doente? A pobreza impõe, é fato, a dura necessidade de ver sofrer aqueles que se amam, sem poder procurar-lhes alívio; mas então uma mulher cristã sente mais do que o filho os sofrimentos que não pode mitigar.

M.me Acarie tratava os próprios filhos, quando estavam doentes, passava as noites junto deles, e prestava-lhes todos os serviços de que careciam. Quando eles lhe diziam que se deitasse, ela respondia que a sua consolação era aliviá-los. E a caridade com que tratava os filhos, os animava a sofrer as doenças com paciência; prestavam-se a tudo, para lhe pouparem fadigas, por sua própria cura; enfim aprendiam dela a vencer-se, quando era preciso prestar aos outros os mesmos serviços[2].

Notas:

[1] Mgr. Dupanloup.

[2] Estes fatos são atestados pelo Abade Boucher. Sabe-se que M.me Acarie, depois de ter edificado o mundo pelo espetáculo das suas virtudes, entrou num mosteiro de Carmelitas. À Igreja declarou-a Bem-aventurada.

A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S