DA OBRIGAÇÃO DE INCUTIR CEDO A VIRTUDE À CRIANÇA

Resultado de imagem para mãe e filha pinturaJá atrás observamos que contentarem-se os pais com ensinar à criança as verdades e os deveres do cristianismo, sem lhes fazerem compreender o espí­rito, sem lhes incutirem a prática da lei de Deus, seria uma obra muito incompleta. Também, depois de ter ordenado à mãe que instruísse os seus filhos, Deus acrescenta: Cultivai-os e vergai-os sob o jugo da virtude, desde a mais tenra mocidade. É preciso efetivamente começar cedo esta cultura do cora­cão, porque é tanto mais fácil ensinar para o bem as crianças, quanto elas são mais novas e mais tenras. Além disso, as primeiras impressões que recebe a criança são as mais vivas e as que ficam mais tempo gravadas no coração. É como um vaso novo, que conserva sempre o cheiro do primeiro lí­quido que conteve. Fénelon queria que se formasse a criança para a virtude, mesmo antes de falar.

«Talvez pensem que exagero, escrevia ele, mas basta considerar quanto, nesta idade, as crianças procuram as pessoas que as afagam, e evitam as que as contrariam, e como elas sabem gritar e calar-se, para lhes darem aquilo que desejam. Pode-se, pois, coligir que elas conhecem desde então mais, do que de ordinário se imagina. Pode-se, pois, logo nessa idade por gestos, inspirar-lhes o amor das pessoas virtuosas e o horror dos defeitos que mostram as outras crianças. Esses princípios não se devem des­prezar.»

Ocupando-se com inteligência das crianças, desde os mais tenros anos, reprimindo-lhes os primeiros movimentos das paixões, implantando na sua alma, como numa terra própria, os germens das virtudes, não hesitamos em afirmar com o imortal arcebispo de Cambrai: — «Por pouco que o seu natural seja bom, podem-se tornar meigas, pacientes, firmes, alegres e tranqüilas; se, porém, se despreza esta educação na primeira infância, tornam-se ardentes e inquietas durante toda a sua vida. Formam-se os costumes; o corpo ainda tenro, e a alma sem outros recursos, voltam-se para o mal. Forma-se neles uma espécie de segundo pecado original que é a origem de mil desordens quando elas crescem. É dessa forma que as silvas nascem e crescem num campo inculto, o quanto mais fértil é o terreno, mais más ervas produz, não sendo cultivado; enquanto que o mais ingrato terreno produz frutos, sendo bem cultivado, e a árvore estéril dá frutos, sendo enxertada.

A mãe de S. Francisco de Sales tanto tinha sa­bido inspirar a virtude a seu filho, desde o berço, que esta santa criança pedia, por meio de gestos e olhares, esmola para todos os pobres que encon­trava, de sorte que a ama era obrigada a trazer sempre fruta consigo. Um dia, que ela não tinha nada que desse a uma criancinha pobre, que encon­traram, Francisco obrigou-a a oferecer-lhe o seio, e sustentou, muito alegre, com as suas mãozinhos, a cabeça dessa criança, enquanto ela sucava o leite da sua ama. Quando, mais tarde foi bispo de Génebra. Francisco de Sales recomendava à santa senhora do Chantal, que tivesse grande zelo em apoderar-se, sem perder tempo, dos pensamentos de seus filhos, e de suas afeições nascentes, a fim de os virar para Deus. Segui este conselho, piedosas mães. Hoje, muitas crianças recebem logo as funestas tentações do vício, que facilmente se poderiam ter evitado, fazendo voltar cedo todas as suas afeições para o bem. São os frutos que o lavrador procura fazer produzir no seu campo; prefere-os as mais brilhantes flores. 

Longe de vós, pois, a loucura dessas mulheres que põem todo o seu zelo em ensinar galanteios aos filhos, ou a prática de deveres estéreis do mundo, sem pensarem em fazer-lhes participar dos frutos das virtudes cristãs. — «Mas dirão talvez algumas das nossas leitoras, não pretendemos fazer os nossos filhos padres. S. Crisóstomo responde-lhes: — «Não é necessário efetivamente que todos os vossos filhos sejam padres ou religiosos; mas exorto-vos a fazê-los cristãos, levando-os, por palavras e exemplos, a conformarem a sua vida com as máximas do cristia­nismo. É esse para vós um dever, tanto mais impe­rioso, quanto mais vivamente desejardes que eles vivam no mundo, onde encontrarão tantos perigos, de que os preservaria a solidão de um claustro. Um navio, navegando, no meio do mar, não care­cerá mais urgentemente de um leme e de um piloto, do que o que está ancorado no porto, ao abrigo dos ventos e das tempestades?

A Mãe segundo a vontade de Deus – Pe. J. Berthier, M.S