FINALIDADE DA CORREÇÃO DOS FILHOS

abcÉ triplice a finalidade da correção, cada uma marcada por valores, ligada à ordem social.

Restaurar a ordem moral

Essencial para qualquer pessoa, este aspecto é ainda mais importante para as crianças, cujo critério para distinguir o bem e o mal, é às vezes, exclusivamente, o modo de agir dos educadores. Se ela cometeu uma falta contra a moral – um pequeno furto, uma desobediência, uma mentira, etc. – , e não lhe exigimos a reparação, pode parecer-lhe não ser mal o que fez. Ou se lhe exigirmos umas vezes, e outras não, causamo-lhes confusão, pois não sabe se o seu ato foi bom ou mau.

Esse sentido de restauração da ordem moral, superior aos homens porque pertence à essencia das coisas, é indispensável à pedagogia da correção.

Emendar a criança

Do interesse pessoal do educando, aqui está o mais importante da correção. No que tange à ordem moral e à social, o trabalho seria mais fácil. A face pedagógica é mais delicada e complexa, porque lida diretamente com a criança. Em que consiste?

Fazer que a criança “compreenda o erro” cometido e “procure evitá-lo” no futuro.

– Não deseja punir, mas melhorar. Se a criança ainda não é capaz de compreensão propriamente dita, vai-se amestrando, lastreando o subconsciente e canalizando as energias para o bem. Sendo capaz de compreender, o trabalho do educador é movê-la ao desejo de corrigir-se, conseguir-lhe o arrependimento da falta e a deliberação de evitá-la.

Impedir os maus hábitos e facilitar os bons. – Formentando o desenvolvimento dos bons germes e combatndo os maus, iremos afastando a criança do vício e afeiçoando-a à virtude. Por sua natural inexperiência, ela errará muitas vezes os caminhos da vida: nós a faremos voltar sobre si e tomar os caminhos certos, até que os aprenda, até que os possa acertar por si, sem mais precisar de guia.

(Para a formação dos hábitos não basta a repetição dos atos, a qual não representa educação. O hábito só é durável quando vem de dentro para fora, parte da convicção e da vontade do sujeito. O trabalho do educador está em dar à criança a convicção da necessidade e o desejo de realizá-la.)

Inclinar para o dever. – A correção não é trabalho de adestramento de animais: mero repetir mecânico até o hábito, firmado em reflexos condicionados. nem se contenta em castigar, para que a criança evite o erro por medo. Ela é, na verdade, meio educativo: quer formar a consciência, aguçar o senso moral, ensinar a julgar, dar autodisciplina, ensinar o cumprimento do dever.

Ensinar “como” proceder bem. – A correção visa ao ideal: orienta-se para ele, e não o perde vista – como tudo o que é realmente educativo. Mas caminha para ele passo a passo. É método: diz “como” agir, ensina a fazer, facilita a tarefa. É ajuda pessoal, de ordem prática, de mestre a aprendiz;

Criar facilidades à virtude – Posta em condições favoráveis, a criança terá facilidades maiores para o dever e a perfeição. Mais do que o adulto, ela cede às sugestões do meio.

Por isso, temos maior obrigação de aplainar-lhe o caminho do bem:

* ajudando-a a superar os defeitos, fraquezas e más tendências naturais;

* suprimindo ou enfraquecendo as influências nocivas a sua formação – no lar, na sociedade, na escola;

* dando-lhe resistência para as inevitáveis ocasiões de tropeço: na rua, na escola, nas visitas… – pois são perigos normais, a que ela deve saber resistir, uma vez que não a queremos educar artificialmente, em redoma ou estufa, mas no mundo, ensinando-lhe a superá-lo, tal como fez Jesus com seus discípulos: “Não peço que os tire do mundo, mas que os preserves do mal” (Jo 17,15);

* desenvolvendo-lhe a vida espiritual, a fim de que, pela graça, pela oração, pelo temor a Deus, pelo exemplo dos nossos maiores na fé, ela “não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal pelo bem” (Rm 12,21), e – melhor ainda – faça do mal que lhe aparecer uma ocasião de apostolado.

Assegurar a ordem

Não subsistirá uma sociedade que não respeita os princípios morais. A impunidade de crimes e vícios é grande responsável pelas desordens que afligem os nossos tempos. Não corrigir os culpados é abrir caminho a novas faltas dele e dos outros. A experiência nos é por demais farta e onerosa, e dispensa insistência.

Se isto é verdade para adultos, quanto mais para crianças! Negligenciada a correção, abre-se a brecha: a nau da disciplina entra a fazer água, e não tardará o naufrágio, a menos que lhe acudam com redobrados trabalhos.

Corrija o seu filho – Mons. Álvaro Negromonte