FUGA DE JESUS PARA O EGITO

fugaSurge, et accipe puerum et matrem eius, et fuge in Aegyptum — “Levanta-te, e toma contigo o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito” (Matth. 2, 13).

Sumário. Considera que Jesus apenas nascido é perseguido de morte por Herodes, sendo assim obrigado a fugir para o Egito, a fim de salvar a vida. Quão penosa devia ser aquela fuga para a sagrada Família e especialmente para o Coração extremamente sensível do Menino Jesus. Minha alma, associa-te àqueles três pobres exilados, compadece-te deles, e quando o Senhor te provar com tribulações, une os teus padecimentos aos daqueles santos personagens. Considera igualmente que pelos pecados que cometeste, renovaste para Jesus a perseguição de Herodes.

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O Anjo aparece em sonhos a São José e lhe dá a entender que Herodes vai procurar o Menino Jesus, para Lhe tirar a vida.Surge, et accipe puerum et matrem eius, et fuge in Aegyptum— “Levanta-te, e toma contigo o Menino e sua Mãe, e foge para o Egito”. Eis como Jesus apenas nascido é perseguido de morte. — Herodes é figura daqueles miseráveis pecadores que vendo Jesus Cristo apenas renascido em sua alma pelo perdão obtido, novamente o perseguem à morte, tornando a pecar: quaerunt puerum ad perdendum eum.

José, tendo recebido a ordem do Anjo, obedece logo, sem demora, e avisa a sua santa Esposa. Ajunta a pouca ferramenta que podia carregar, a fim de exercer o seu ofício no Egito, e deste modo sustentar a sua pobre família. — Maria, por seu lado, faz uma pequena trouxa dos paninhos, ao uso do divino Menino. Depois entra na pobre morada, ajoelha junto ao berço de seu tenro Filhinho, beija-Lhe os pés, e derramando lágrimas de ternura, lhe diz: Ó meu Filho e meu Deus, acabas de nascer e de vir ao mundo para salvar os homens e já os homens vêm procurar-Te para Te matarem! — Toma em seguida o Menino nos braços e enquanto os santos Esposos choram, saem da casa, fecham a porta e na mesma noite se põem em caminho para o Egito.

Considera em espírito quais foram as ocupações daqueles santos viajantes durante a jornada. Não falam senão sobre seu caro Jesus, sobre a sua paciência e o seu amor, e desta maneira consolavam-se nas dificuldades e incômodos de tão longo caminho. Oh! Quão doce é o sofrimento quando se olha para Jesus que sofre! Associa-te, minha alma, diz São Boaventura, a esses três santos e pobres exilados; compadece-te deles na viagem tão penosa, longa e incômoda, que estão fazendo. Roga a Maria que te faça sempre trazer o seu Filho divino em teu coração.

Considera ainda o que os santos peregrinos tiveram que sofrer, especialmente nas noites que passaram no deserto do Egito. O seu leito foi a terra nua ao ar livre e frio. O Menino chora, e também Maria e José choram de compaixão. Ó santa fé! Quem não havia de chorar ao ver o Filho de Deus, feito criancinha, que, pobre e desamparado, foge pelo deserto a fim de se subtrair à morte?

Ó meu amado Jesus, Vós sois o rei do céu; mas agora Vos vejo como criança errando sobre a terra. Dizei-me, o que estais procurando? Compadeço-me de Vós, vendo-Vos tão pobre e tão humilhado; porém, mais compaixão sinto vendo-Vos tratado com tamanha ingratidão por aqueles mesmos que viestes salvar. Estais chorando, mas eu também quero chorar por ter sido um daqueles que em tempos passados Vos desprezaram e perseguiram. Hoje estimo mais a vossa graça do que todos os reinos do mundo. Perdoai-me, ó Jesus meu, todas as minhas ingratidões para convosco. Permiti que assim como na sua fuga para o Egito Maria Vos trouxe nos braços, assim eu possa trazer-Vos sempre em meu coração durante a minha viagem para a eternidade.

Ó meu Redentor amado, muitas vezes Vos tenho expulso da minha alma, mas espero que já tornastes a tomar posse dela. Ah! Uni-me a Vós pelos doces lações do vosso amor. Não quero mais repelir-Vos de mim. Tenho, porém, medo que de novo venha a abandonar-Vos, assim como tenho feito em outros tempos. Meu Senhor, mandai-me a morte, antes que venha a usar para convosco de uma nova e mais horrenda ingratidão. Amo-Vos, ó bondade infinita, e sempre quero dizê-lo: amo-Vos, amo-Vos, amo-Vos; repetindo-o sempre, espero morrer amando-Vos: Deus cordis mei, et pars mea Deus in aeternum (1) — “Deus do meu coração, e a minha porção é Deus para sempre”.

Ó meu Jesus, Vós sois infinitamente bom e digno de ser amado; por piedade, fazei-Vos amar. Fazei-Vos amar de tantos pecadores que Vos perseguem; dai-lhes luz e fazei que conheçam o amor que lhes tendes dedicado, e o amor que mereceis, já que andais errando pela terra, como criancinha pobre, chorando, tiritando de frio, em busca de almas que Vos queiram amar. — Ó Maria, ó Virgenzinha santa, ó Mãe querida e companheira dos sofrimentos de Jesus, ajudai-me a trazer e guardar sempre o vosso Filho em meu coração, tanto na vida como na morte. (II 379.)

  1. Ps. 72, 26.

Meditações para todos os dias e festas do ano – Tomo I – Santo Afonso