HOMENAGEM A SÃO PIO X POR OCASIÃO DO 65º ANIVERSÁRIO DE SUA CANONIZAÇÃO

Fonte: DICI – Tradução: Dominus Est

Em 29 de maio de 1954, há 65 anos, o papa Pio XII canonizava o papa Pio X diante de uma inumerável multidão. Esta canonização mostrou-se extraordinária, pois fez remontar a 1712 – ano em que Clemente XI inscreveu no catálogo dos santos o nome de Pio V, o Papa do Rosário, de Lepanto e da Missa – para assim ver exaltada a figura de um soberano pontífice. 

Através de São Pio X, papa de 1903 a 1914, Pio XII quis dar um exemplo para toda a Igreja da santidade do cabeça, uma “santidade papal” [1] capaz de guiar as ovelhas em tempos difíceis. No resumo da beatificação (3 de junho de 1951), Pio XII enumerou os principais traços dignos da atenção e admiração das multidões:

1- A preocupação com a santidade do clero,pedra angular para renovar todas as coisas em Cristo, segundo seu sublime lema [2]. Pio X quis um clero caracterizado pela sua piedade, sua obediência e sua ciência.  

2 – A renovação dos estudos eclesiásticos. Pio X exorta os filósofos cristãos a defenderem a verdade sob a bandeira de Santo Tomás de Aquino. Ele fundou, em Roma, o Pontifício Instituto Bíblico, encorajou as ciências teológicas, uma exegese inspirada e uma pregação cuidadosa por parte do clero. 

3 – A preocupação da salvação eterna das almas. Se Pio X queria um clero santo, era para a instrução dos fiéis a quem dava um catecismo, destinado tanto a adultos quanto a crianças. Para estes, ele permanecerá sendo sempre o Papa da Eucaristia, favorecendo a comunhão precoce, mas também – e para todos – a comunhão frequente e mesmo cotidiana. 

4 – A defesa da fé íntegra e pura. As falsas doutrinas que sintetizavam um conjunto de erros foram desmascaradas sob o nome de modernismo, e sabiamente reprimidas (Encíclica Pascendi, 8 de setembro de 1907). Nestas circunstâncias, como em seu combate contra as leis anti-clericais e a laica separação dos Estados, São Pio X foi, nas palavras do Pastor angelico, um “mestre infalível da fé”, o “vingador intrépdo da religião” e ” guardião da liberdade da Igreja “.

5 – O amor à liturgia. Iniciador de um autêntico movimento litúrgico, Pio X renovou a música sacra, e também o Breviário, o calendário das festas de modo a orientar “resolutamente a Igreja para uma vida litúrgica impregnada de piedade tradicionais, de graça sacramental e beleza inspirada [3]

Estas são as principais características da santidade de Pio X, santidade de um governo imbuído de magnitudes e riquezas sobrenaturais que são o tesouro da Igreja. Pio XII mencionou também o trabalho de reforma realizado na Cúria Romana, nas escolas e nas paróquias, o formidável trabalho de reunir em um só corpo, adaptado às condições da sociedade, as leis da Igreja até então dispersas (Código de Direito Canônico, promulgado em 1917). Sem esquecer da atenção dada às missões evangelizadoras e até mesmo os apelos à união para com os “orientais separados”. 

Esta santidade pontifical, Pio XII a canonizou para um propósito muito mais específico: “dispor os espíritos a enfrentar nossas próprias lutas e para assegurar nossas vitórias e as das gerações vindouras” [4]. Proclamado “santo e guia dos homens de hoje“, “apóstolo da vida interior“, São Pio X é dado como “exemplo providencial para o mundo moderno na qual a sociedade terrestre se torna cada vez mais uma espécie de enigma a si mesma, procura ansiosamente uma solução para recompor para si uma alma! Que ele seja visto, portanto, como um modelo para a Igreja reunida em torno de seus altares “[5]. Por este Papa “despertou-se em todos os lugares um imenso movimento de retorno ao esplendor da liturgia e música sacra, e baniu a fealdade fora do templo sagrado de Deus” [6].

Uma luz para nossos tempos

Mais do que nunca hoje, como há 65 anos atrás, a Igreja encontra em São Pio X, verdadeiro santo do papado, um modelo e um guia para o clero, a fim de recuperar o sentido de sua eminente dignidade e sua vocação de estar acima de todos os homens de Deus, dedicados à seu culto e louvor. Os sacrossantos ritos da liturgia formam primeiro um culto público oferecido à divina Majestade, o próprio ato do sacrifício ofertado pelo único Salvador dos homens. Não se trata da animação de uma Ceia mais ou menos protestantezada, sem magnitude nem sacerdócio claramente definido. É sobre devolver a cada sacerdote sua própria identidade: ser um outro Cristo, mediador entre Deus e os homens, encarregado ​​de perdoar os pecados, de distribuir as bênçãos divinas às almas e conduzi-las ao céu. Para os fiéis e todo o povo cristão, que compreendam a ardente necessidade de salvar suas almas, de santificar sua casa, seu trabalho e sua cidade. Sabiamente instruídos em sua santa religião, que saibam como se proteger da corrupção do mundo, especialmente a corrupção moral e intelectual. São Pio X queria que o povo meditasse sobre beleza e “reconhecesse na Eucaristia o poder de nutrir substancialmente sua vida íntima” [7].

Ele organizou sobre uma base sólida a Ação Católica e promoveu as atividades sociais e profissionais dos católicos em um ambiente confessional para o povo e todas as pessoas de boa vontade, a fim de que encontrem na Igreja o acesso a Jesus Cristo. Esta foi sua primeira preocupação, explica Pio XII, porque Deus “é a origem e o fundamento de toda a ordem, de toda justiça, de todos os direitos do mundo. Onde Deus reina pela ordem, justiça e direito”. Daí o grande projeto do pontificado de São Pio X para organizar a lei da Igreja. Daí a primazia da fé e da sã doutrina, que foi “um serviço de extrema caridade, prestado por um santo, enquanto cabeça da Igreja, à toda a humanidade” [8].

Finalmente, para os inimigos da Igreja, a fim de que possam conhecer a intrepidez e a força que só Deus pode dar ao seu Vigário na terra e, através dele, aos seus filhos espalhados pelo mundo inteiro. Emblemática foi a coragem com que Pio X rejeitou as leis da separação da Igreja e do Estado; ele “deu à França, cruelmente perseguida, novos bispos e resistiu aos ataques dos ímpios” [9]. Sessenta anos atrás, foi o que Pio XII mostrou como um exemplo para o mundo. A santidade papal de um digno e verdadeiro sucessor de Pedro. Ele aceitou a honra do pontificado supremo “como uma cruz” – accepto in crucem e a cumpriu como um santo. 

*****************

[1] Expressão do Pe. V.-A. Berto, em artigo publicado em Pensamento Católico,1951, nº 19, p. 27 e republicada na coleção Pela santa Igreja Romana, edição do Cedro, 1976, p. 95.

[2] “Omnia institutare in Christo”; frase de São Paulo (Ef 1, 10) tomada como lema do pontificado na primeira encíclica de São Pio X, E supremi apostolatus, 4 de outubro de 1903.

[3] O. Rousseau, História do movimento litúrgico, Paris, Cerf, 1945, p. 201.

[4] Alocução de de 3 de junho de 1951 (beatificação) na Documentação Católica nº 1097, col. 713-720.

[5] Alocução de 29 de maio de 1954 (canonização) na Documentação Católica nº 1175, col. 711-716.

[6] Pe. Victor-Alain Berto, “Santidade de Pio X”, em Para a Santa Igreja Romana, op. cit., p. 98.

[7] Alocução de 29 de maio de 1954.

[8] Ibidem.

[9] Ibidem.

*********************

Nota do blog: Outro excelente texto sobre o grande São Pio X pode ser lido CLICANDO AQUI.