NOVOS SEMINÁRIOS PARA UMA “NOVA” IGREJA

Foi um processo aplicado em todas as articulações do corpo da estrutura Católica Romana — em nível paroquial, diocesano, nacional, regional e, em última análise, em nível romano. Foi um caso sutilmente calculado por mentes e vontades empenhadas em liquidar a organização tradicional da Igreja. E conseguiram.

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Pe. Malachi Martin (*) | Tradução Sensus fidei: Em apenas dezoito meses — o tempo que passou no Seminário Menor de Nova Orleans — Paul Gladstone seguiu os mesmos passos de muitos Católicos Romanos bem-intencionados, mas carentes de orientações, nos anos setenta: tornou-se uma vítima de circunstâncias alheias a seu controle.

Em grande parte, ele fora protegido das mudanças abruptas e perturbadoras na Igreja. Embora poderosa, a tempestade da mudança não chegou a todos os lugares ao mesmo tempo. Foi um processo aplicado em todas as articulações do corpo da estrutura Católica Romana — em nível paroquial, diocesano, nacional, regional e, em última análise, em nível romano. Foi um caso sutilmente calculado por mentes e vontades empenhadas em liquidar a organização tradicional da Igreja. E conseguiram.

Paul entrou no Seminário Menor da Diocese de Nova Orleans em 1972. Durante o primeiro semestre, ele e seus colegas seminaristas foram informados, oficialmente, para deixar suas batinas clericais e usar roupas comuns de passeio. Em seus estudos, o domínio do latim já não era obrigatório. A maioria de seus professores os convidava a pensar livremente sobre o que antes eram doutrinas sacrossantas e ensinamentos fundamentais. Sobre a existência de Deus. Sobre a divindade de Jesus. Sobre a presença real de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Sobre a autoridade do Papa. Sobre toda a gama de crenças e leis Católicas Romanas.

Além disso, durante as horas de lazer, incentivavam-se os seminaristas a se alternarem com mulheres para ampliar sua experiência com o namoro. Ao mesmo tempo, muitos acharam fácil estabelecer vínculos homossexuais em seu próprio círculo, já que se lhes aconselhavam que uma atitude positiva em relação à homossexualidade os tornaria “pastoralmente sensíveis”.

Na transformação da antiga Igreja em “casa dos ventos ecumênicos”, Paul comprovou que no seminário todos seus valores familiares foram varridos ao esquecimento. Já não se exigia dos seminaristas assistir às orações da manhã, nem à Missa diária. Mas, aqueles que, como Paul, que optaram por fazê-lo, depararam-se com uma mudança: mesmo na Capela do Seminário uma mesa comum havia substituído o Altar. Estátuas, Estações da Cruz, bancos, mosaicos — até o Tabernáculo, as balaustradas do Altar e os Crucifixos, brilhavam por sua ausência. Nos confessionários que não haviam sido retirados, era mais provável encontrar material de limpeza do que um padre. Os pecados da sociedade e da humanidade eram lamentados continuamente, é claro, mas o pecado pessoal nunca era mencionado.

Um padre de camiseta e calças jeans — e, talvez, com uma estola ou um chale sobre os ombros — saudava os seminaristas e o público em geral às novas cerimônias com um caloroso: “Bom dia a todos!” Os seminaristas eram instruídos a dar o exemplo como homens livres e filhos de Deus. Deveriam se sentar ou ficar como quisessem, mas, nunca ajoelhar. Dançarinas “litúrgicas” atuavam com collants, e sob o acompanhamento de guitarras, banjos, cavaquinhos, pandeiros e castanholas.

Ao longo dos meses, Paul viu como as reuniões litúrgicas se transformavam em algo parecido, essencialmente, “a um banquete”, ou ritos tribais do grande Potlatch dos índios Kwakiutl, do noroeste do Pacífico, onde o chefe dava muito de sua riqueza a fim de atrair e impressionar mais e mais convidados que, no final, nada mais restava que seu prestígio de “o grande doador”. Nesses encontros litúrgicos admitia-se qualquer coisa de outras religiões em igualdade de condições. Paul foi submetido a uma miscelânea de meditações budistas, dualismo taoísta, preces sufis, rodas oratórias tibetanas, mitologia indígena norte-americana, antigos deuses e deusas gregos, música de rock pesado e heavy metal, o culto hindu a Shiva e Kali, culto e adoração da mãe terra Gaia e Sofia.

Paul Gladstone interpretou tudo aquilo como contraditório, hipócrita e, afinal de contas, destrutivo para a verdadeira fé Católica. Em sua opinião, a maioria dos Católicos aceitou tudo como um esforço de democratização total da religião tradicional Católica Romana. Onde quer que fosse o centro da atenção das igrejas Católicas era agora a “mesa da ceia”, em torno da qual o “povo de Deus” se reunia para celebrar sua própria liberdade em um banquete festivo.

Finalmente, sua breve intimidade com a “Igreja Conciliar” surtiu efeitos nocivos em Paul Gladstone. Incapaz de tolerar por mais tempo o mau gosto do obsceno ambiente do que antes havia sido um seminário disciplinado, um belo dia, pela manhã, comunicou ao Reitor que se despedia, com uma ingenuidade tão brutal que mesmo para Cessi [sua mãe] teria sido difícil igualar.

— Eu não estou sendo preparado com nada parecido a uma formação sacerdotal para oferecer o Sacrifício como oferenda pelo perdão dos pecados — disparou Paul, que tinha chamas em seus olhos. — Se eu ficar aqui acabarei como um descabelado distribuidor de quinquilharias inúteis no Grande Potlatch Católico Americano.

Atônito e quase sem fala ante tal rebelião sem precedentes, o Reitor conseguiu dizer algumas palavras convencionais em defesa dos mandatos do Concílio Vaticano II, para pronunciar o que Paul só poderia considerar como um cômico apelo à obediência.

— Eu não sei como ser padre — replicou com uma frieza que congelou a atmosfera da sala. — Eu nem sei o que significa ser padre em uma igreja onde o centro da atenção não é nada mais do que uma “mesa de ceia”. Oh, eu sei, eu ouvi repetidas vezes como essa nova “Igreja Conciliar” de vocês apresentará um rosto mais humano para o mundo. Mas, permita-me que lhe diga isto: Eu não vou pregar para o “povo de Deus” que, quando se reúne, não só “converte-se em Igreja”, mas, além disso, “forma Cristo”. Não consigo entender esse jargão sem sentido.

Estupefato com tão flagrante falta de disciplina, o Reitor tentou dar a Gladstone uma dose de seu próprio remédio. Com sua equivocada explosão e inadequado arrebatamento, advertiu o Reitor, Paul punha em risco sua carreira sacerdotal.

— Não fui claro o bastante, Padre Reitor? — Paul já estava a meio caminho fora da porta. — Prefiro ser um leigo Católico decente cooperando com a Igreja, do que um fantoche nesta pocilga irreligiosa de mau gosto.

(*) Excerto do livro Windswept House, A Vatican Novel. pp. 195-197. Main Street Books. 1996.