O DIA DO SENHOR

Resultado de imagem para moça modestaUm dos Santos Padres da Igreja denominou o domingo:“Rei e Príncipe de todos os dias”. Outro opina que a vida sem domingo seria um grande deserto sem oásis. Certamente seria uma vida triste. Pode-se dizer que o domingo é como que a raiz da semana. De uma raiz boa e sã, brotam também galhos, folhas, flores e frutos sãos e bons. De modo análogo, a um domingo cristãmente festejado, sucede uma semana inteira de cunho cristão. Consiste a vida do homem em certo número de semanas, as quais trazem impresso o selo do valor que lhes comunica o domingo, por onde começam. Com muita razão se poderia dizer: assim como for o teu domingo, assim será também toda a tua vida. De que modo deverá, então passar o domingo, para que se torne uma fonte de bênçãos para a tua vida e para a eternidade futura? Eis uma pergunta de grande importância para ti.

1º – O domingo deve ser, antes de mais nada, dia de descanso.

O descanso dominical é uma necessidade para o corpo e para a alma. Poderá alguém trabalhar ininterruptamente, todos os dias, nos domingos e dias úteis, por um lapso do tempo; poderá fazê-lo mesmo durante alguns anos; mas, chegará com certeza o tempo em que as forças constantemente ativas entrarão a adormecer, ou se quebrarão de súbito.

O descanso que, à tarde se desfruta, após o trabalho diário, e um bom sono pela noite adentro, são de grande proveito para o corpo; mas, quanto à duração não bastam para estabelecer o necessário equilíbrio das forças. Os médicos sustentam mui judiciosamente que, para se manter em pleno vigor, além do pequeno descanso diário, de tempo a tempo, necessita o corpo humano de uma pausa e folga mais longa, um maior relaxamento das forças. Isto se aplica, sobretudo, aos tempos atuais, que, pela crescente concorrência em todos os domínios, despertam em quase todos os homens, até mesmo nos rapazes e nas moças, maior dedicação ao trabalho. Com seu descanso maior e mais longo repouso, é, portanto, o domingo uma verdadeira bênção para a nossa vida corporal. Lord Palmerston, conhecido estadista inglês, conservava ainda, na velhice, grande atividade e vigor, que ele principalmente atribuía ao fato de se haver sistematicamente abstido do trabalho dominical, em todo o percurso de sua longa vida.

O descanso do domingo é em segundo lugar, uma necessidade para o sossego da nossa alma. Precisa também esta de repouso, e talvez ainda mais do que o corpo, para não perecer, nem se entibiar. Isto se ajusta, principalmente, ao nosso tempo. A confusão da vida atual gasta e arruína não só as forças do corpo, mais ainda as da alma. Quantas lutas e contrariedades, quantas agitações e aflições não traz consigo a semana? Deve o homem pensar em tudo, cuidar de tudo, e, muitas vezes, desde os seus mais verdes anos!…Quanta poeira não se vê constrangido a sorver, que a pouco e pouco lhe dificulta e embaraça também a vida espiritual! Quanta coisa se lhe depara, que o torna fraco, impotente, e o arrasta na onda da vulgaridade!

Será para ele um grande benefício, se ao domingo puder sacudir aquela poeira e desviar a lembrança e a preocupação das pequenas coisas; se puder dirigir seus pensamentos e desejos para outras mais altas e maiores, para coisas celestiais e divinas. Então, pensamentos elevados voltarão de novo à alma; pensamentos, que a conduzirão a uma atmosfera melhor e mais pura; pensamentos, que a elevarão e lhe darão forças para se preocupar com o que é nobre e bom. Não se afrouxará facilmente este laço feliz e abençoado, se cada qual se limitar a ocupar-se diariamente com seu trabalho e na sua imperturbável serenidade puder somente dedicar-se aos de fora?

Sem o descanso e a elevação da alma ao domingo, estará o homem em perigo de recair na podridão espiritual. O descanso dominical é, finalmente, uma necessidade para a vida da família. A vida de família só será bela e cheia de bênçãos, quando for uma vida contente e feliz, quando o laço da unidade e do amor estreitar fortemente todos os seus membros.

– Em conseqüência, os membros isolados da família, não se tornarão, com o tempo, cada vez mais estranhos?

– Aquelas relações cordiais que devem reinar entre pais e filhos, não se esfriarão a pouco a pouco?

– Deplorável seria isto para ambas as partes. O domingo, portanto, no qual, segundo o possível, se descansa do trabalho, não será grande benefício para a família?

É então que, mais do que durante a semana, poderão pertencer-se mutuamente e discutir entre si, com serenidade de espírito, todos os interesses da casa; reunidos em oração, pedirão a Deus a paz e felicidade eterna e repartirão entre si felicidade e descanso no amor. Aquele laço de unidade e cordial reciprocidade não se tornará desse modo fortemente apertado, e a felicidade íntima da família visivelmente acrescida?

2º – O domingo é, em segundo lugar, dia de piedade e oração.

Não tenho dúvida em acreditar que também nos dias da semana, fazes a tua oração, máxime pela manhã e à noite, e que ainda com boa e santa intenção te entregas aos trabalhos diários e aceitas as contrariedades da vida, como se tudo pertencesse ao serviço divino. No entanto, isso não te basta; hás de consagrar, exclusivamente, um dia da semana, a Deus e a salvação de tua alma. Tudo o que és e tudo o que tens, a Deus deverás agradecê-Lo. Será, porventura, demasiado, que procures dedicar a Deus um dia da semana, santificando-o pela piedade?

Deus é infinitamente grande, infinitamente perfeito e bom; a eternidade toda não te será bastante para louvá-lO, exaltar e amar; não será, pois muito justo e razoável que, ao menos uma vez por semana, O louves mais do que nos outros dias e Lhe rendas ações de graças pelos seus infinitos benefícios? Deus é teu Pai, infinitamente amoroso e digno de se amado; e tu, que és sua filha, não poderás, uma vez por semana, entreter-te com este Pai, mais demoradamente e de maneira familiar? Não deverias de antemão alegrar-te neste colóquio com Deus, como o bom filho, ou boa filha, se alegra naqueles momentos em que pode comodamente palestrar com seu bom pai e sua querida mãe?

Eis como deves compreender (ou empregar) o domingo, para que te seja um dia de alegria e delícias. Se tiveres este elevado conceito de domingo, então assistirás antes de tudo, regularmente, ao santo Sacrifício da Missa. Não há nenhum ato em que Deus mais se compraza, do que no Santo Sacrifício que seu próprio Divino oferece pelo ministério do sacerdote, na Santa Missa. Não existe, portanto, nenhum outro ato pelo qual possas honrar mais a Deus e santificar o domingo.

Seja, pois, esta a tua atual e permanente resolução: quero, cada domingo, sempre que me for possível, assistir com devoção e piedade a uma Santa Missa. Ouve também, com boa e piedosa disposição, a palavra de Deus. A pregação é para todos nós importante, principalmente para a mocidade, que, hoje mais do que nunca, está exposta aos maiores perigos para a sua fé e as suas virtudes. Se a mocidade negligenciar a audição da palavra de Deus, então, bem depressa e facilmente se tornará tíbia e frouxa na sua santa fé e nas suas virtudes cristãs. Não foi em vão o que disse o Divino Salvador: “O homem não vive só de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”. (Mat., 4,4)

Recebe também, com boa preparação e piedade, os santos Sacramentos da Penitência e da Eucaristia. Quanto mais freqüentemente o fizeres, tanto melhor para ti. Lograrás, então, graças cada vez mais abundantes para o combate contra o pecado e para a prática das virtudes. Permite-me ainda aconselhar-te a assistires, depois do meio dia, ou à noite, em alguma igreja, a algum ato ou função religiosa; ou em tua própria casa, por algum tempo, leres um livro; ou, por amor de Deus, visitares um doente, ou dares uma esmola a um pobre. Se santificares assim o domingo, como Deus não ficará contente e que de bênçãos abundantes não derramará sobre ti!

3º – O domingo deve ser, finalmente, dia de alegria.

Por certo, aqui não me refiro àquelas alegrias e prazeres ruidosos e dissolutos, que não são verdadeiras folga, nem verdadeiro descanso e desafogo, antes fatigam o corpo e a alma; não aludo àqueles pecaminosos e perigosos prazeres que destroem todas as bênçãos do domingo e convertem o dia do Senhor em dia de Satanás.

Quando digo que o domingo deve ser dia de alegria, refiro-me, antes de tudo, àquela alegria e àquela elevação espiritual e interior… Falo também da alegria que experimentas numa agradável conversa com os teus queridos parentes, na visita a uma boa amiguinha ou conhecida, numa serena e moderada recreação com outras companheiras ou num passeio coletivo que te proporciona o ensejo de admirares os encantos da natureza.

São alegrias que poderás lograr depois dos trabalhos e fadigas de toda a semana; alegrias que te fazem forte e disposta para os trabalhos de uma nova semana; alegrias, que contêm uma abundância de benção para a vida doméstica, quando se desfrutam de maneira justa e razoável, depois de se ter devota e piedosamente, assistido ao serviço de Deus, ou praticado uma boa ação. Muito a propósito poderei citar aqui as palavras do grande Apóstolo: “Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez digo. Alegrai-vos!” (Filip., 4,4) Eis o que o domingo deve ser para ti – dia de descanso, de devoção, de alegria.

Donzela Cristã – Pe. Matias de Bremscheid