O PROBLEMA DAS DEFINIÇÕES DO VATICANO II – PALAVRAS DE D. LEFEBVRE

Eis algumas palavras de D. Marcel Lefebvre, fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, sobre o fato de que o Concílio nunca quis dar definições exatas dos temas que foram discutidos, o que fez com que ao invés de defini-los, se limitasse unicamente a descrevê-los ou mesmo falsificar a definição tradicional.

Fonte: FSSPX México – Tradução: Dominus Est

Creio ser indispensável estudar bem os esquemas do Concílio, lê-los bem, a fim de revelar as portas que se abriram ao Modernismo, (…) e insistirei no fato de que o Concílio nunca quis dar definições exatas sobre os temas que se discutiam, e essa recusa das definições, essa negativa em examinar filosófica e teologicamente os temas que se tratavam, significou que não podíamos definir os temas, mas apenas descrevê-los. E não apenas não o definiam, mas frequentemente, nas discussões desses temas, a definição tradicional foi falsificada. É por isso que penso que hoje estamos diante de um sistema que não compreendemos completamente, algo difícil de contrapor, porque já não se aceitam as definições tradicionais, que são as verdadeiras definições.

Tomemos como exemplo o tema do matrimônio. A definição tradicional do matrimônio sempre se baseou em seu fim primário, que era a procriação, e no fim secundário, que era o amor conjugal. E bem: no Concílio eles queriam transformar essa definição e dizer que não há mais um fim primário, mas que os dois fins, da procriação e do amor conjugal, eram equivalentes. Foi o Cardeal Suenens quem liderou esse ataque a própria finalidade do matrimônio. Ainda me lembro que o Cardeal Browne, Mestre Geral dos Dominicanos, levantou-se para dizer: “Cuidado! Cuidado!” E declarou com veemência: “Se aceitarmos essa definição, estamos indo contra toda a tradição da Igreja e pervertemos o sentido do matrimônio. Não temos o direito de ir contra as ‘definições tradicionais da Igreja’”, e citou muitos textos. Tal foi a emoção produzida na assembléia que alguém pediu ao Cardeal Suenens – acho que foi o Santo Padre – para moderar um pouco os termos que ele havia usado, e até mesmo mudá-los.

Este é apenas um exemplo. Mas os senhores vêem que agora tudo o que se disse sobre o tema do matrimônio está relacionado com o que foi expresso pelo Cardeal Suenens – o que eles agora chamam simplesmente, e muito mais grosseiramente, sexualidade – é de agora em diante o fim do matimônio, e não apenas a procriação. Consequência: sob o pretexto da sexualidade tudo é permitido: a contracepção, a limitação dos nascimentos, o uso do casamento com tudo o que possa dificultar os nascimentos, o aborto, enfim, todo o resto.

Portanto, basta uma má definição, e já estamos em plena desordem.

Ou devido a uma falta de definição. Pedimos muitas vezes para definir o que era colegialidade: eles foram incapazes de defini-la. Pedimos muitas vezes para definir o que era o ecumenismo: e foi-nos dito pelos secretários das comissões, pelos relatores: “Não fazemos um Concílio dogmático, não damos definições filosóficas. É um conselho pastoral que se dirige ao mundo inteiro; consequentemente, é inútil dar aqui definições que não serão compreendidas”. Agora, é insensato que possamos nos reunir e que não possamos chegar a definir os termos que discutimos.

Da mesma forma, a definição da Igreja foi falsificada. Não houve desejo de apresentar a Igreja como um meio necessário para a salvação e, assim, insensivelmente nos textos, verifica-se que a Igreja não é mais um meio necessário, mas um meio útil, simplesmente útil. Os cristãos devem penetrar na massa da humanidade, que em sua totalidade já caminha para a sua salvação; os cristãos devem fornecer um complemento de união, caridade, etc. Isso é tudo. Isso significa destruir todo o espírito missionário da Igreja nas suas raízes. É por isso que o esquema de missões foi literalmente minado por essa ideia. Hoje vemos muitos missionários que, tendo retornado de suas missões, já não desejam mais regressar a elas. Eles foram martelados durante os cursos de reorientação, as sessões, as reuniões, e os delegados da França foram dizer-lhes: “Sobretudo, nada de proselitismo. Os senhores devem compreender que todas as religiões nas quais se encontram têm valores apreciáveis. Os missionários devem se interessar ​​no desenvolvimento desses países e, consequentemente, no progresso, no progresso social” e não na verdadeira evangelização.

D. Marcel Lefebvre+
UM BISPO FALA