O SÍNODO E AS PAIXÕES DA IGNOMÍNIA

Thouvenot3Fonte: La Porte latine – Tradução: Dominus Est

Diante dos ataques contra o matrimônio cristão, e agora contra o matrimônio natural (a união estável de um homem e uma mulher em um lar em vista de gerar e educar os filhos), a Igreja católica recorda incansavelmente a verdade da moral evangélica: “Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus.. (I Cor 6, 10)

O pecado da homossexualidade é uma grave desordem onde o ato específico é ordenado pela Santa Escritura entre “os pecados que clamam ao céu“, assim como o assassinato ou a opressão da viúva e do órfão. Os pecados que clamam ao céu são aqueles cuja malícia, e particularmente a perturbação da ordem social que eles provocam, demandam, daqui da terra, uma justa vingança da parte de Deus [3].

Isto mostra a gravidade do pecado de homossexualidade, todavia banalizado, e mesmo encorajado por todos os tipos de organismos e outros meios de propaganda. Bastar pensar nas associações “LGBT”, nos filmes, modas, desfiles e paradas (Gaypride) que inundam todos os anos as ruas das metrópoles mundiais.

A Igreja católica não escapa desta pressão vinda do mundo depravado e seus costumes corrompidos. Até aqui, ela tinha conseguido recordar o caráter anti-natural e a ignomínia deste tipo de pecado. O novo Catecismo, em 1992, ainda escrevia, em seu número 2357: “Apoiando-se na Santa Escritura, que os apresenta como depravações graves [4]; a Tradição sempre declarou que os “atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados [5]”. Eles são contrários à lei natural. Eles fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementariedade afetiva e sexual verdadeira. Eles não poderiam receber a aprovação em nenhuma circunstância.”

PROFUNDAS DIVISÕES ENTRE OS PADRES SINODAIS

A preparação do sínodo sobre a família, paradoxalmente, ofereceu uma tribuna aos promotores ou aos partidários da banalização da homossexualidade. Em 13 de outubro de 2014, o relator geral do sínodo, o cardeal húngaro Péter Erdö, mencionava um documento tornado público diante de duzentos jornalistas. Intitulado Relatio post disceptationem, ele descrevia a estima pelos “dons e qualidades” que os homossexuais tinham “a oferecer à comunidade cristã” (Relatio, nº 50). Rejeitando qualquer assimilação com o matrimônio entre um homem e uma mulher, assim como as pressões internacionais em favor da ideologia do gênero (ibid. nº 52), o sínodo “registra que existe casos onde o apoio mútuo, até o sacrifício, constitui uma ajuda preciosa para a vida dos parceiros” (nº 52). Durante esta mesma conferência de imprensa, Mons. Bruno Forte, secretário especial do sínodo e presumidamente autor dos parágrafos escandaloso, explicava: “Eu acho que o documento busca aspectos positivos onde se pode encontrar estes elementos no seio destas uniões. É fácil rejeitar uma coisa, mas reconhecer e valorizar tudo o que é positivo, mesmo no seio destas experiências, é um exercício de honestidade intelectual e de caridade espiritual“.

Assim, pela primeira vez em sua história, a Igreja, por uma via oficial, exalta a acolhida das pessoas homossexuais enquanto tais. O desafio agora não consiste mais na conversão e no chamado à penitência, no combate contra as tendências desordenadas e pecaminosas, mas na capacidade de “acolher estas pessoas garantindo-lhes um espaço de fraternidade em nossas comunidades“, enquanto, em ato e publicamente, elas vivam neste tipo de vícios.

O escândalo foi imenso e as reações a este relatório intermediário não tardaram a se fazer ouvir. Interrogado pela Rádio Vaticano, em 13 de outubro, Mons. Stanislas Gadecki, arcebispo de Poznan e presidente da conferência dos bispos da Polônia, não teve medo de declarar: “Este documento é inaceitável“. Os bispos africanos também mostraram seu profundo desacordo: no Twitter, o cardeal William Fox Napier, arcebispo de Durban, se opôs vivamente aos artigos sobre a homossexualidade, na qual o cardeal Walter Kasper respondeu, numa entrevista com alguns jornalistas, que os bispos africanos “não deveriam nos dizer o que fazer“. Alguns meses mais tarde, o cardeal Napier deveria voltar ao desprezo condescendente do cardeal Kasper, que “considera que os bispos africanos são muito submissos a certos tabus e muito reticentes em afrontar a questão da poligamia e do casamento de pessoas do mesmo sexo“…

A verdade é que, em 18 de outubro, o relatório final do sínodo se esforçava para apagar o incêndio usando a arte do compromisso. Soube-se que o parágrafo sobre os invertidos tinha sido submetido a votação, colhendo 118 sufrágios favoráveis e 62 desaprovações. O padre Frederico Lombardi, diretor da sala de imprensa da Santa Sé, deveria sublinhar que, ainda que os parágrafos “não tenham atingido a maioria qualificada, eles foram majoritariamente aprovados“. Assim o próprio papa Francisco tinha desejado que os parágrafos rejeitados fossem também publicados, “em vista de prolongar o debate“.

Mesmo que este texto, de acordo com o padre Lombardi, “não seja um documento do magistério ou disciplinar“, todo o problema permanece. Como um comportamento anti-natural e intrinsecamente desordenado pôde ser apresentado tão positivamente? Como um pecado que clama ao céu se tornou uma “orientação sexual” capaz de trazer “dons e qualidades” (quais?) à comunidade cristã? O que significa, enfim, este elogio mal disfarçado do sentido do sacrifício entre pessoas homossexuais? Querem até comparar esta “ajuda preciosa para a vida dos parceiros” com a fidelidade e ao apoio dos esposos no matrimônio? Isto seria uma destas “reconciliações blasfematórias” entre o Evangelho e a revolução que São Pio X denunciava há mais de um século [6]. Como certos homens da Igreja podem encontrar valores positivos ou motivos de edificação em tais vícios, que também são situações de pecado?

DOM HUONDER DESACREDITADO POR SEUS CONFRADES

Em 31 de julho de 2015, um bispo suíço corajosamente recordou o ensino moral da Igreja sobre estes temas durante uma conferência intitulada “o matrimônio, presente, sacramento e missão“. Mons. Vitus Huonder, bispo de Coire, falava na Alemanha, em Fulda, no âmbito do Forum Deutscher Katholiken. Visto que teve a “infelicidade” de citar a Santa Escritura (Lev 18, 22 e, sobretudo, Lev 20, 13: “Se um homem se deitar com um homem como se deita com uma mulher, estarão cometendo algo abominável e serão punidos com a morte: seu sangue cairá sobre eles”), o bispo de Coire foi alvo de uma verdadeira “fatwa midiática“, ou seja, de uma campanha de pressão organizada por certos grupos do lobby homossexual difundida pela mídia e por várias personalidades públicas. Mons, Huonder pregou um apaziguamento, explicando que ele tinha citado uma dezena de outras passagens da Escritura tiradas tanto do Antigo como do Novo Testamento, que ele tinha se servido essencialmente do ensinamento do catecismo e que ele não pretendia evidentemente apelar ao assassinato dos invertido…e nada ajudou. O presidente do partido democrata-cristão, Christophe Darbellay, qualificou as afirmações do bispo de Coire como “inaceitáveis“.

Pior, a Conferência dos bispos suíços desaprovou rapidamente seu confrade no episcopado, que é alvo de queixas na justiça e ainda recebeu ameaças de morte. O presidente desta conferência, Mons. Markus Büchel, bispo de São Galo, declarou se regozijar “por cada relação na qual os parceiros se aceitam mutuamente enquanto filhos amados de Deus” (sic). E acrescentou: “Nossos conhecimentos atuais sobre a homossexualidade enquanto investimento afetivo e orientação sexual não livremente escolhida eram desconhecidos no período bíblico“. De modo que, hoje, a Igreja tem o dever de acompanhar as pessoas homossexuais em seu caminho de vida: “Um caminho no qual eles podem integrar sua forma particular de relação e sua sexualidade enquanto dom de Deus em sua vida” (sic).

Não se poderia preparar da melhor forma o reconhecimento e a bênção deste tipo de união! Tanto que o presidente da Conferência episcopal acrescenta que a Igreja deve “encontrar uma nova linguagem, apropriada às situações e às pessoas“ [7].

Enfim, Mons. Charles Morerod, bispo de Genebra, Friburgo e Lausanne, declarava ao jornal Le Temps, de 12 de agosto de 2015, que “o fato de ser homossexual, sobretudo sem escolha pessoal, não é um crime, nem um pecado“. E ele explica que a maioria das pessoas homossexuais se descobriram como tais, sem vontade deliberada e, portanto, sem responsabilidade moral! Logo, a história registrará que será preciso atingir o século XXI para que certos homens da Igreja tentem justificar teologicamente os mais ignominiosos comportamentos. Mons. Morerod afirma que a moral cristã só é praticável integralmente por aqueles que têm fé, mas ele esquece de lembrar que mesmo sem a fé todos os homens podem julgar a retidão de suas inclinações. O que aconteceu com a lei natural? A virtude da castidade, parte da virtude cardeal da temperança, não obriga todos os homens dotados de razão?

O QUE ACONTECERÁ NO PRÓXIMO SÍNODO?

Animados pelo medo ou a covardia, encorajados também – infelizmente – pelas palavras do papa Francisco, que convida a demonstrar acolhida e misericórdia para com as pessoas homossexuais (Se uma pessoa é gay [8], e busca o Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgá-la? [9], subjugados pelo “espírito do Concílio“, que quis proclamar um novo humanismo centrado no culto do homem e da pessoa [10], alguns homens da Igreja desprezam agora os deveres de seu cargo. Eles parecem esquecer a existência da mais elementar moral natural, como se, enquanto a fé não for aceita por nossos contemporâneos, fosse inútil pregar-lhes os bons costumes.

Além disso, como ensina São Paulo aos Romanos, sem a fé em Jesus Cristo, todos os homens estão no pecado e sob a ameaça da ira divina. O mundo atual, que rejeitou seu Salvador, sua lei de amor e seus mandamentos, caiu novamente em um paganismo vergonhoso, aquele do qual o Apóstolo das nações não tem medo de descrever “as paixões pela ignomínia“: “Suas mulheres mudaram as relações naturais em outras contrárias a natureza. Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario.” (Rm 1, 24-27) [11]

Mas se são culpados aqueles que se entregam a isto, mais culpáveis ainda são “aqueles que aprovam este que fazem tais coisas” (ibid. 1, 32). Pois “aí daqueles que chamam o mal de bem, e o bem de mal, que transformam as trevas em luz, e a luz em trevas“! (Is 5, 20). Possa o próximo sínodo, sob a autoridade do Sumo Pontífice, dissipar a fumaça de Satanás que está obscurecendo a luz da fé e da razão. É primeiro aos pastores do rebanho que Cristo disse: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha, nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.” (Mt 5, 14-15)

Pe. Christian Thouvenot

[3] Pe. Dominique Prümmer, op, Manual de Teologia Moral, Herder 1961, t. 1, n ° 360.
[4] Cf. Gn 19, 1-29; Rm 1: 24-27; 1 Coríntios 6: 9-10; 1 Tm 1, 10.
[5] Congregação para a Doutrina da Fé, Declaração “Persona Humana”, 29 de dezembro de 1975, No. 8.
[6] Na La Lettre sur le Sillon, 25 de agosto de 1910.
[7] Cath.ch – APIC, 09 de agosto de 2015.
[8] Esta palavra em inglês significa invertido.
[9] Conferência de Imprensa em 28 de julho de 2013.
[10] Cf. Paulo VI, discurso de encerramento do Concílio Vaticano II, 7 de dezembro de 1965: “A religião do Deus que se fez homem encontrou a religião do homem que se torna Deus. […] Reconhecê-lo, pelo menos, esse mérito, você humanistas modernos, que renunciam a transcendência das coisas supremas, e sabem reconhecer o nosso novo humanismo: também nós, mais que ninguém, temos o culto do homem “.
[11] Por sua vez, o Catecismo de São Pio X apresenta a malícia d impureza: “Este é um pecado muito grave e abominável diante de Deus e do homem; degrada os seres humanos à condição dos animais sem razão, leva a muitos outros vícios e pecados, e faz com que o mais terrível punição nesta vida e na próxima. “Grande Catecismo de São Pio X, Os mandamentos de Deus, Dominique Martin Morin, 1967, p.97.