OS PECADORES E O FIM DA VIDA

Resultado de imagem para morte pecadorAos homens que caminham pela estrada da mentira resta apenas, qual fruto, a água-morta (50) para onde o demônio os convida. Tendo perdido a iluminação fé, quais cegos e loucos sem entendimento seguiram-no, como se ele dissesse: “Quem tem sede de água-morta, venha a mim, que lha darei”.

Sirvo-me do demônio qual instrumento de minha justiça para atormentar os que me ofendem. Nesta vida o coloquei qual tentador, molestando os homens. Não para que estes sejam vencidos, mas para que conquistem a vitória e o prêmio pela comprovação das virtudes(51). Ninguém deve temer as possíveis lutas e tentações do demônio.

Fortaleci os homens, dei-lhes energia para a vontade no sangue de Cristo. Demônio ou criatura alguma conseguem dobrar a vontade. Ela vos pertence, é livre. Vós, pelo livre-arbítrio, é que escolheis o que querer ou não querer alguma coisa. A vontade, todavia, pode ser entregue como arma nas mãos do diabo, que pode usá-la para vos ferir e matar.

Se a pessoa não lhe dá esta arma, se não consente ante as tentações e lisonjas do maligno, jamais pecará por tentação. Sairá dela até fortalecido e compreenderá que permito as tentações unicamente para vos conduzir ao bem e comprovar vossa virtude.

A caminhada para o bem passa pelo conhecimento de si e de mim. Este duplo conhecimento aumenta no tempo da tentação, no sentido de que o homem toma consciência da própria nulidade, percebe que não consegue evitar as dificuldades indesejáveis, reconhece minha presença a fortalecer sua vontade para não consentir nos maus pensamentos, entende que a tentação é permitida por mim, vê que o demônio é fraco e nada pode além daquilo que lhe é permitido. Aliás, é por amor, não por maldade, que permito as tentações; desejo a vossa vitória, não a derrota. Quero que me conheçais e vos conheçais, atingindo uma virtude provada, pois o bem é comprovado em seu contrário.

Como vês, os demônios são encarregados por mim de atormentar os condenados ao inferno e de provar a virtude nos que se acham nesta existência. Tal não é a intenção dos demônios, pois nada fazem por amor. Desejariam privar-vos da virtude, mas não o conseguem. A menos que o queirais. Vê como é grande a tolice humana, cedendo justamente onde tornei o homem mais forte e consignando-se nas mãos do diabo.

Esforça-te por entender: é voluntariamente que os condenados se entregam ao demônio na hora da morte. Disse “voluntariamente”, já que ninguém os pode obrigar a isso. Sem aguardar qualquer julgamento, logo depois do último suspiro, os pecadores julgam-se a si mesmos pela própria consciência e se põem sob o perverso domínio do maligno. Desse modo, desesperados, condenam-se. No instante supremo, com muito ódio, encaminham-se para o abismo; e antes mesmo de chegar a ele, voluntariamente o escolhem como paga, junto aos demônios, seus senhores.

Aqueles que morrem na caridade (perfeita), quando atingem o derradeiro instante, após ter vivido na perfeita iluminação da fé(52), na fé e na esperança do sangue do Cordeiro, contemplam o prêmio que lhes preparei; com amor, o acolhem; apertam-me com os laços da afeição, qual Bem sumo e eterno. Antes de deixar o corpo, antes de morrer, já gozam da vida eterna.

Outros, que haviam passado a vida na “caridade comum”(53) e atingem o último momento sem essa perfeição, também acolhem o prêmio eterno com essa fé e esperança, mas de modo imperfeito. Sentem-se culpados, mas reconhecem que minha misericórdia é maior que seus pecados. Os pecadores não agem assim. Ao divisar o lugar que lhes toca, recebem-no com ódio. Uns e outros, nem esperam o julgamento. Logo que deixam esta vida, cada um vai para o seu lugar, pressentido e apreendido antes mesmo de deixar o corpo na morte: os condenados, para o inferno, com ódio e desespero; os perfeitos, com amor, fé e esperança; os imperfeitos, com fé no perdão, vão para o purgatório.

50 – Em analogia com a água-viva de Cristo, Catarina gosta de indicar o pecado como água morta.
51 – Veja-se o parágrafo 2.8.
52 – Veja-se adiante n. 24.3.
53 – Veja-se adiante n. 14.11
   

O Diálogo – Santa Catarina de Sena