PECADO VENIAL: DEUS OFENDIDO POR UMA BAGATELA

Fonte: Capela Santo Agostinho

Embora em grau inferior, o pecado venial oferece, todavia, os mesmos ca­racteres de malícia que o pecado mortal. A rainha Maria Teresa de França, es­posa de Luís XIV, chorava uma falta venial. A delicada consciência da Prin­cesa a deixava inconsolável.

— Como?! — disseram-lhe — tanta lágrima, por uma falta leve, um pe­cado venial?!

— Sim, pode ser venial, mas é mor­tal para o meu coração!

Tudo quanto ofende a Nosso Senhor nunca é leve ou coisa de somenos importância para uma alma fervorosa.

E o pecado venial é uma ofensa a Deus. Há nele três circunstâncias agra­vantes :

  • Uma injúria à Majestade Divina;
  • Revolta contra a Autoridade de Deus;
  • Ingratidão à Bondade Eterna.

Deus, em cuja presença estamos, é ofendido e por uma bagatela, um ato de preguiça, uma vaidade, uma deso­bediência! Não desprezemos o que fere tanto ao Sagrado Coração de Jesus! O pecado venial ofende a Deus. E não basta para que o aborreçamos?

Seja venial, embora, mas sempre é mortal para nosso coração e para a de­licadeza de nossa consciência. E’ uma injúria à Majestade Divina. Num dos pratos da balança coloca­mos a vontade de Deus e a sua glória, e no outro, o nosso capricho e nosso prazer, e ousamos preferi-los mais que a Deus!

Que ultraje! Diz S. Teresa: É co­mo se se dissesse: Senhor, apesar de esta ação Vos desagradar, não deixarei de a fazer. Não ignoro que a vedes, sei perfeitamente que a não quereis; mas prefiro a minha fantasia e a minha in­clinação à vossa Vontade.

E seria coisa sem importância pro­ceder desta forma? “Quanto a mim, acrescentava a San­ta, por mais leve que seja a falta em si mesma, acho pelo contrário que é grave e muito grave”.

Não cometamos o pecado venial de­liberado sob o pretexto de que não ofende a Deus gravemente. É pecado, e basta isto, para ser objeto de nosso ódio.

O pecado venial é uma revolta con­tra a Autoridade Divina. É como se disséssemos a Nosso Se­nhor: “Quero vos obedecer, Senhor, mas quando esta obediência não me abor­recer e quando me agradar e quando eu bem quiser”.

Isto é obediência? Não é uma injúria e um desrespeito à Autoridade Divina? Mas, o que é mais triste no pecado venial é a ingratidão sem nome que ele encerra. Desta ingratidão queixou-se Nosso Senhor a Santa Margarida Maria, mostrando-lhe o seu Divino Coração rasgado pela lança e cercado de uma coroa de espinhos. Estes espinhos eram a imagem das almas ingratas, sobretudo almas consa­gradas a Deus que vivem na tibieza. São as que mais ferem o Sagrado Co­ração do Bom Jesus.

Uma injúria à Majestade Divina. Uma revolta contra a Autoridade Di­vina. Uma ingratidão à Divina Bon­dade! Meu Deus! Meu Deus! Isto é leve? Oh! combatamos o pecado venial de­liberado.

“Eu me lançaria num oceano de cha­mas se fosse preciso, dizia S. Catarina de Sena, para evitar um só pecado ve­nial, e preferiria permanecer neste fo­go a dele sair por um só pecado ve­nial’’.

Exagero? Não. Os Santos sabem me­lhor avaliar o que é uma alma, o que é um Deus ofendido e o que é uma eternidade que se arrisca!

Estejamos prontos, se for preciso, a padecer e morrer, mas não cometer um só pecado venial! Oh! quem nos dera tão bela disposição!

Por Mons. Ascânio Brandão