PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÔNIO – PARTE 1/2

Resultado de imagem para noivado catolicoUm provérbio afirma: “Filhos pequenos – pequenos cuidados, filhos grandes – grandes cuidados“.

Pena que não haja uma continuação: os cuidados são, com efeito, maiores, quando, já maiores, se tornam eles moços ou moças, e querem voar para fora do ninho doméstico, e construir um novo lar. É, na realidade, o instante em que o coração dos bons pais são dominados por uma grande ansiedade: será para a felicidade o casamento que seu filho ou sua filha quer contrair perante o altar?

Não há pais que deixem de pensar, com o coração oprimido e angustiado, no futuro casamento de seus filhos. Há, porém, muitos, infelizmente, que se atêm a este sentimento confuso e angustiante, abandonando tudo ao acaso, em lugar de, por meio de uma educação sábia e previdente, assegurarem a felicidade futura desse casamento.

Os filhos devem ser preparados para o casamento, e quantos pais negligenciam esta educação. Ensinam-lhes a polidez e as boas maneiras, ensinam-lhes a se apresentarem com desembaraço e elegância, ensinam-lhes os esportes, a dança, a música, as línguas, mas só não cuidam de lhes ensinar uma coisa, e de grande importância: a realizarem um casamento feliz. Para a felicidade no matrimônio, há necessidade de uma preparação:

I) remota e II) próxima, e se nesta instrução indicamos, em linhas gerais, estas obrigações, é para que os pais se esforcem, graças a elas, por assegurar a paz e a felicidade no casamento de seus filhos.

I) Preparação Remota para o Matrimônio

Entre os meios de preparação remota para o matrimônio, insistimos principalmente sobre três pontos, absolutamente necessários para a educação dos filhos, em relação à felicidade de seu futuro casamento. São: o domínio de si mesmo, a simplicidade e a pureza.

A) Preparam os seus filhos para um matrimônio feliz os pais que os educam, seriamente, a se dominarem. Creio não haver necessidade de grandes argumentos para prová-lo. Que é a vida conjugal? Uma comunidade de vida; ora, a vida comum não é possível, sem domínio sobre si, indulgência, e capacidade para perdoar.

A vida comum exige certamente muita indulgência, e domínio sobre si mesmo. E muitos dramas conjugais se originam justamente deste fato: os esposos, na sua infância, não aprenderam a se dominar, a respeitar a vontade alheia. Muito maior é este perigo para o filho único, que não tendo nem irmãos, nem irmãs, adquire o hábito de, em tudo e sempre, só se interessar por si mesmo.

Aquele, porém, que no casamento só se procura, buscando seus próprios interesses, suas próprias vantagens, e sua própria felicidade, não pode levar uma vida conjugal harmoniosa; pois sempre será tentado a ver, na sua união, apenas um objeto de prazer, um instrumento para garantir-lhe a própria satisfação. Ora, a base de uma vida conjugal harmoniosa é saber reconhecer o outro esposo como uma personalidade dotada de uma vontade própria, e tendo igualmente direitos, isto é, casar-se não para ser feliz, mas para tornar feliz, encontrando assim a felicidade própria.

B) Não é menos importante, porém, sobretudo em nossos dias, educar também os filhos na simplicidade, na modéstia e na renúncia a toda pretensão.

a) Na realidade, reconhecemos com tristeza que, muitas vezes, o obstáculo ao casamento é a falta de colocação, de meios materiais para a subsistência, e a insuficiência de rendimentos! Esta é a verdade. É preciso, porém, acrescentar: não é só a exigüidade de rendimentos, que para muitos, hoje, impossibilita a fundação de uma família. Há um outro fator, as numerosas exigências de alguns. E agora, os meus ouvintes não me queiram mal se lhes digo francamente que, principalmente, certas mulheres é que são, hoje, muito exigentes.

De fato, hoje, o jovem, na idade de se casar, não tem, muitas vezes, rendimentos necessários para sustentar uma esposa, que apenas cuida de visitas, dancings, que precisa de manicure, cabeleireiro, que está à par das coisas de teatros, dos acontecimentos mundanos, nada conhecendo do governo da casa, nem da cozinha, e do cuidado dos filhos. Sim, quando os ordenados são modestos, modestas devem ser também as exigências.

Quando, ao contrário, um moço encontra uma jovem modesta, trabalhadora, discreta, que ao lado da instrução e da inteligência possui também o amor ao trabalho, e o espírito de economia, pode desposá-la corajosamente, ainda que seus rendimentos sejam módicos.

b) “Permiti-nos, porém, uma objeção, dirão talvez algumas moças. Se procedemos para com os moços de um modo tão atrasado, tão antigo, com maneiras de outro século, então, nunca nos casaremos. Observai que eles querem é se divertir, e certamente não o farão com moças simples e modestas, e sim com as que se pintam, que sabem namorar, procurando só o prazer!” Eis como se desculpam muitas excelentes jovens.

Se refletissem, porém, um pouco, veriam como não têm razão. De fato, os jovens gostam de se distrair, sim, com moças frívolas e “coquetes”, mas não as querem por esposas. E como eles têm razão! Porque desposar uma jovem que não vê o sentido e o interesse da vida, senão em contínuas distrações é evidentemente caminhar para uma catástrofe.

E as moças que não são nem frívolas, nem irrefletidas, nem pintadas, nem ricas, mas sim amáveis e modestas, serão consoladas pela comparação espirituosa daquele escritor italiano que encontra analogia entre os diferentes relógios e os diversos gêneros de moças.

As jovens mundanas e coquetes assemelham-se aos relógios de torres: todos olham, mas ninguém as toca.

As jovens bonitas, mas frívolas, assemelham-se aos carrilhões: distraem, a princípio, mas por fim aborrecem.

As jovens ricas são semelhantes aos relógios de ouro: apenas são vistas; informa-se de seu valor.

As jovens, que muito falam, são como despertadores: fatigam os ouvidos. E as modestas? Estas são como os relógios que regulam bem: pode-se contar com elas.

Concluamos que os filhos educados na modéstia e na simplicidade tornam-se, mesmo em modestas condições de vida, esposos felizes.

C) Ao lado do domínio de si e da simplicidade, e antes mesmo destes dotes, uma tarefa indispensável aguarda ainda o educador: Educar os filhos na moralidade e na pureza.

Qualquer que seja a idéia filosófica de um homem, quer ele pertença ao cristianismo ou outra religião, quer seja crente ou incrédulo, ele não poderá negar que a castidade e a continência total, na juventude, constituem a melhor preparação para o matrimônio e seu dote mais precioso.

A vida pura e casta é de grande valor cultural: é a escola incomparável da vontade, dá o espírito de disciplina indispensável à vida conjugal; aos céticos, que abanam incrédulos a cabeça, prova que a sensualidade não absorve, de modo algum, a existência de um homem, ainda mesmo rico. Tudo isto, nós já o sabíamos.

(…)

E como, neste ponto, os pais têm uma grave missão a cumprir com relação aos filhos, permiti-me mostrar agora minuciosamente este seu duplo dever.

a) Eis o primeiro: Pais, instruí vossos filhos! Na idade do crescimento, os rapazes e as adolescentes, sentem em si fenômenos até então desconhecidos; quem os guiará nesta idade crítica? Quem os ajudará a se compreenderem, e a compreenderem estas misteriosas transformações físicas e morais, pelas quais deverão passar, conforme a vontade do Criador? Esta é a missão dos pais.

Quem, senão a mãe de família, dirá a seu filho ou a sua filha, ao crescerem, o que significa esta nova e natural evolução fisiológica, que traz consigo uma condição nova, e que é preciso conhecer tranqüilamente e com uma santa emoção?

Quem, senão a mãe, dirá ao seu filho moço o que deve pensar das moças, e à sua filha moça o que deve pensar dos moços? Ela é quem deve cuidar desta planta, que brota na alma de seus filhos, e donde sairá o respeito ideal para com o outro sexo, as idéias cavalheirescas, o tato, as atitudes respeitosas de uma pessoa delicada.

E quem, senão o pai, dirá aos filhos já crescidos que não há duas espécies de moral, uma antes do casamento e outra durante o casamento? Que o noivo e a noiva estão sujeitos às mesmas leis morais, e que por sua vez o marido está obrigado às mesmas leis que sua esposa? Ah! se cada um compreendesse, se compenetrasse e observasse estas coisas, como os casamentos seriam mais felizes, mais harmoniosos e mais belos, e como os esposos e os filhos gozariam mais saúde! Sabeis quantas doenças terríveis desapareceriam da superfície da terra? Quantos dramas de mulheres em pranto, de mães decepcionadas, de esposas enganadas também se dissipariam? …

Mas se alguns pais querem se subtrair a este dever, sob o pretexto de que é uma tarefa difícil e penosa, apresento-lhes, apenas, esta comparação: a alma infantil é como a erva que quer agarrar-se ao carvalho robusto a fim de subir pelo seu tronco. Se não encontra, porém o carvalho sobe por uma coluna cheia de teias de aranhas ou um tronco apodrecido. Sobe, mas depois compartilha da mesma sorte.

Pais, que me ouvis, repito-vos, instruí vossos filhos!

b) Ajudai vossos filhos, eis a segunda obrigação dos pais.

Aqui a ciência não basta. Tudo depende da força de vontade. Ajudai-os, pois, e obrigai-os a utilizarem-se de todos os meios naturais e sobrenaturais, que os auxiliarão a observar a continência e a pureza em sua juventude.

Os meios naturais são também necessários, como por exemplo, a nobreza da vida sentimental, a resistência física, a força de vontade. Fazendo mesmo tudo isto, não poderemos atingir a nossa meta sem o concurso dos meios sobrenaturais, sem a recepção dos sacramentos e uma vida profundamente cristã. Escutemos estas palavras de S. Agostinho: “Ó meu Deus, que Vosso amor me inflame! Vós me ordenais a castidade: dai-me fazer o que pedis, e pedi-me o que quereis” (Confissões, 10, 29).

Ante os sofismas do mundo atual, sedutor e mentiroso, ensinai a vossos filhos a fé e a confiança. A fé e a confiança capazes de conservar uma castidade perfeita até o matrimônio, pois Deus, que a exige, conhece também a natureza humana, seus instintos e seus desejos, assim como conhece a força da vontade do homem e da graça sobrenatural. Só obtém a verdadeira liberdade aquele que sabe vencer as exigências cegas de seus instintos. Grande é a força adquirida pelo jovem na luta para conservar sua pureza quando lhe mostramos sua missão: goza e prova as alegrias da vitória, que alcançarás se souberes te libertar da escravidão dos desejos pecaminosos, para subires à liberdade da pureza.

Eis com que prudência e amor devem os pais preparar seus filhos, desde jovens, para a felicidade do matrimônio.

Continua…..

Casamento e Família  – Mons. Tihamer Toth