SEMINÁRIOS: FORMAÇÃO DE FUTUROS LÍDERES PARA A IGREJA

SEMI

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O sacerdote, assim que é enviado em missão pela Igreja – mesmo no âmbito de uma jurisdição de suplência como entre os sacerdotes da FSSPX – não tem outra missão senão a de continuar a função pastoral de Cristo: ensinar o depósito da fé, santificar pela graça divina, governar na ordem da salvação das almas. Em outras palavras, um papel de liderança, no domínio das almas e da sociedade eclesiástica.

As habilidades que fazem o líder

Ao falarmos da autoridade do sacerdote, esclareçamos que ela tira toda a sua legitimidade e força da de Cristo, que a ele confiou. E é isso, de fato, que os cristãos buscam de um sacerdote. Sua autoridade é sagrada. Ele sabe isso. Os fiéis também devem saber disso. Essa autoridade deve, portanto, ser exercida à maneira de Jesus.

Por fim, é óbvio que a eficácia da Igreja a nível local (priorados, paróquias) depende da qualidade dos líderes em exercício (priores, párocos). No entanto, o exercício adequado da autoridade geralmente não é inato, mas conseqüência do desenvolvimento da virtude da prudência em uma pessoa que já possui certas aptidões naturais.

Estas habilidades naturais para liderar os outros consistem, sobretudo, numa certa abertura de espírito (a fim de reunir constantemente ciência, conselhos e experiência), bom julgamento (ter os pés no chão e um mínimo de lógica) e, acima de tudo, capacidade no tomar decisões e impô-las (uma vontade que se sobrepõe à sensibilidade). Estas disposições naturais, exercidas com constância, forjam em nós a virtude da prudência, a virtude por excelência daquele que é investido de autoridade. Esta observação de Santo Tomás de Aquino, seguindo Aristóteles, encontra-se de uma forma ou de outra nos escritos de todos os atuais especialistas na formação de executivos, sejam do Exército ou das Grandes Escolas.

Entretanto, grande parte da formação dos futuros líderes da Igreja se dará na escola da vida, no campo, nos priorados, através da qual eles acumularão a experiência de governo, fazendo um balanço dos erros e sucessos, na ordem natural e sobrenatural.

Mas essa experiência só será forjada em três bases sobre as quais repousa a formação no seminário: (I) a luz sobrenatural que guia todo o governo em direção ao único objetivo verdadeiro do Céu, (II) a correta ciência e (III) o exercício das virtudes virilizando a alma.

I – A LUZ SOBRENATURAL

Somente uma vida espiritual profunda, atendendo às grandes realidades que nos transcendem, à luz do ensinamento revelado, habitua o sacerdote a ver TUDO segundo a amorosa Providência de nosso Pai Celeste. Isso dá ao padre uma perspectiva sobre as crises, uma garantia de calmaria, uma paz estável, como uma rocha serena. Se ele bebe da fonte de água viva, se vive dessa união com Deus, ele se tornará um oásis no meio do deserto espiritual de nossas cidades.

Aqui em Flavigny, o objetivo número um é fazer com que os seminaristas compreendam profundamente esta necessidade, fortalecendo-os neste caminho de oração. É ela quem canaliza sua vontade durante sua formação para que eles se concentrem inteligentemente em um único objetivo: o reinado de Cristo para a salvação dos homens.

II – A CIÊNCIA NECESSÁRIA PARA GOVERNAR

Não basta constatar os problemas doutrinários da Igreja. Este é apenas um pré-requisito. A arte do líder concentra-se nos princípios que dão a direção fundamental a ser seguida. Esses princípios estão enraizados na tradição secular que garante a estabilidade contra a tempestade. Seu objetivo é ancorar convicções fortes o suficiente para que os subordinados aceitem as difíceis escolhas de liderança, ou mesmo ao ponto do sacrifício.

Mas o comandante deve tomar uma postura ainda mais inteligente: levanta a cabeça, olha ao redor do barco: qual é a evolução dos ventos, das correntes, qual a realidade da área sob o casco?

Os líderes da Igreja devem examinar metodicamente a complexidade do mundo, especialmente dentro da Igreja; enfrentar os movimentos de autodestruição e reações salutares, suas forças e seus limites, seus atores e seus princípios; que maneira podem ser usados. Esta abordagem realista deve levar o superior a decidir como liderar, dando verdadeiro lugar aos princípios católicos, levando em conta o contexto exterior a nós e nossos princípios.

No Seminário, formamos os jovens levitas nessa dupla abordagem de inteligência que o sacerdote deve ter.

Porque uma vez que deixam o seminário, o pluralismo do mundo (e até na Tradição) pode turvar sua visão e abalar as certezas.

III -O FORTALECIMENTO DAS VIRTUDES ECLESIÁSTICAS

O sacerdote, em virtude de sua dupla qualidade de líder e eclesiástico, deve trabalhar certas virtudes e atitudes próprias deste estado.

Dedicação ao bem comum

No seminário, fazemos refletir sobre a noção do bem comum, através dos estudos e da vida em comum. Para além da compreensão, é o amor a este bem comum, e o amor de compartilhar este bem simbolizado pelo nosso lema: “cor unum – um só coração partilhado por todos”. Amamos este bem comum da Fraternidade Sacerdotal São Pio X porque ele nada mais é do que o bem comum da Igreja. É uma convicção que a torna fiel.

A nível local, este espírito reforça a coesão no trabalho entre os sacerdotes num priorado, a valorização das qualidades dos subordinados no âmbito do projeto comum, a delegação, a coordenação dos talentos dos fiéis.

A vida comunitária, base dos nossos estatutos, permite desde o seminário ancorar a atenção aos outros, o esquecimento de si, a benevolência no forte sentido de uma afeição sobrenatural, tendo em conta os limites do próximo, mas procurando conduzi-lo às alturas divinas. .

Finalmente a obediência aos próprios superiores. Tudo se resume nisso, porque gostemos ou não, é aqui que se manifesta a vontade de Deus para nós. Somos um elo nesta descida do governo divino à terra, através da cadeia de comando de Deus. Não esquecemos que esta obediência tem limites, mas é por isso que somos instrumentos de Deus, mesmo na crise que atinge a Igreja. Mais do que nunca, no auge do combate, formamos inteligentemente um corpo por trás de nossos líderes.

Humildade

São Basílio disse: “Não tenha medo que vossa humildade diminua sua autoridade”. As armadilhas do autoritarismo e do narcisismo – falta de benevolência e auto complacência – só podem ser combatidas em longo prazo, pela humildade na maneira de olhar a si mesmo, por não se acreditar superior aos outros porque ocupa uma posição que a deixe sugerir. Isso evita que a armadilha de ouvir conselhos e opiniões com dificuldade, e de se fechar em sua torre de marfim.

“Que aquele que comanda seja o último de todos”: o responsável toma e assume as decisões, mas se quiser que sejam aceitas, deve haver uma forte coesão prévia com os seus conselheiros. É angustiante para os subordinados ver um líder tomar uma decisão repleta de consequências com uma aparência de leviandade e autocracia, suscitando dúvidas legítimas sobre sua prudência. É por isso que um priorado envolve um verdadeiro trabalho em equipe de sacerdotes.

No seminário tudo é vivido assim, de forma hierárquica sob um “loadmaster”, em pequenos grupos de trabalho e segundo os costumes.

Exemplaridade

A verdade de nossa pregação é trazida à luz por nossa vida virtuosa. O padre procura incorporar os princípios que ensina. Não há necessidade de insistir nisso. Este é, certamente, o ponto mais importante, vivido perfeitamente por Cristo, e a consequência lógica da humildade que procura ser e não aparecer.

“Amar a ponto de dar a própria vida” quotidianamente, vivendo sua consagração no dom de si, amar para sacrificar-se nas pequenas coisas e, se Deus der a graça, nas coisas supremas.

Compreender o lugar do ser humano

Se se quiser construir um priorado a longo prazo, deve edificar uma estrutura humana correspondente aos seus próprios objetivos. O sacerdote deve, portanto, ter em mente o desenvolvimento de dois tipos de relações sociais.

O primeiro consiste na inserção do priorado na paisagem geográfica, social e política, o que se dará através da nossa presença em determinados eventos, organizações, associações, a fim de estabelecer relações humanas. O padre procurará cuidadosamente desenvolver uma rede de influências e isso será feito diretamente por ele ou pelos fiéis. Ele deve compreender sua responsabilidade social, como a Igreja sempre a concebeu.

O segundo é tecido com os fiéis, e entre os fiéis, por meio das atividades do Priorado. Isso lhe permite aprofundar seu conhecimento das almas e da coesão geral. O sacerdote é, antes de tudo, um pastor que deve procurar dizer com Cristo: “Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem; Eu chamo cada um deles pelo nome e eles reconhecem minha voz.” Mostra, portanto, aos fiéis, que tem um conhecimento pessoal de si mesmos, mas tem o cuidado de não desenvolver relações demasiado pessoais e sensíveis, nem de se afastar das realidades a serem enfrentadas (que o ajudarão a fazer sermões correspondentes às necessidades reais e atuais das almas).

A sua relação humana é fundamental, sua maneira de ser e de falar, sua delicadeza, induzirá o comportamento dos fiéis. Evitando a todo custo palavras ou atitudes que possam parecer desdenhosas, ofensivas ou impacientes, ele procura, ao contrário, mostrar sua disponibilidade, sua escuta, seu interesse por cada pessoa que encontra.

Um motor

O líder incita. Ele conduz projetos, inspira suas tropas e as une em ações comuns, para o bem comum. Sabemos, por experiência, que uma mentalidade derrotista e muito negativa prejudicará metade de suas tropas. Projetos irrealistas, ou muito combativos e, portanto, focados no curto prazo, entusiasmam um tempo, mas não constroem virtudes estáveis. Ouve-se hoje, com frequência, o pesar da época da tomada de Saint Nicolas du Chardonnet, tempo de combate na Tradição, de entusiasmo e união de forças. Estas fortes reações foram absolutamente necessárias e fecundas, mas apenas lançaram os alicerces, sendo o verdadeiro trabalho a construção progressiva da virtude e da sociedade católica. Trabalho lento, mais oculto, exigindo líderes que o entendam e o carreguem com ardor.

O Prior, entretanto, encarnará o combate da fé num projeto humano, com âmbito local, pois a maioria das pessoas apenas se sente indiretamente preocupada com a gigantesca batalha a ser travada.

Ser uma força motriz também significa se expor e não apenas ficar indignado, como um líder indo para a batalha na linha de frente com seus homens. Ele se lança – de maneira ordenada e pensativa – no apostolado e não se esquiva das dificuldades.

Ele trabalha com sua coragem e tenta transmiti-la não apenas em seus discursos, mas em sua atitude diante das provações, enfermidades, incompreensões e rejeições que possa sofrer.

O senso de responsabilidade

Entrando no Seminário, o seminarista compromete-se a seguir o seu regulamento. Entrando na FSSPX, ele promete seguir seus estatutos, espírito e coesão. Futuro sacerdote, ele se compromete com a castidade. Seis anos de fidelidade diária a estes compromissos forjam nele uma alma de dever.

Além disso, cada seminarista tem uma responsabilidade de carga funcional sob a vigilância de um professor. Lá ele aprende a ser responsável, manter os costumes e desenvolver iniciativas.

O sacerdote deve responder pela salvação das almas. Desde o primeiro ano, o seminarista oferece seus esforços, sacrifícios e orações, por almas que ainda não conhece, mas que mais tarde lhe serão confiadas. É na vida silenciosa de união com Deus e da imitação de Jesus Cristo que ele toma consciência do que sua futura paternidade sobre as almas exige.

Pe. Guillaume Gaud, Diretor do Seminário da FSSPX em Flavigny

Carta aos Amigos e Benfeitores do Seminário Saint-Curé-d’Ars n ° 103

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Nota do blog 1: Colocamos abaixo alguns links sobre a vocação sacerdotal:

Nota do blog 2: Mais números sobre a FSSPX podem ser vistos clicando aqui.

Nota do blog 3: Perguntas e respostas sobre a FSSPX podem ser vistas clicando aqui.

Nota do blog 4: Mais sobre os Seminários da FSSPX podem ser vistos clicando aqui

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“Senhor, dai-nos sacerdotes,

Senhor, dai-nos santos sacerdotes,

Senhor, dai-nos muitos santos sacerdotes,

Senhor, dai-nos muitas santas vocações religiosas,

Senhor, dai-nos famílias católicas, 

São Pio X, rogai por nós”