SÉTIMA VELA: O DOM DE SABEDORIA (AS SETE VELAS DE MEU BARCO)

menina“Agora, escreveu São Paulo, isto é, aqui na terra, há três grandes virtudes: a fé, a esperança e a caridade. Mas no Céu, só haverá a caridade, que é a maior das três.”

Se, entre os dons do Espírito Santo, há dois que vêm em auxílio de nossa fé: os dons de Inteligência e de Ciência, e outro para ajudar à nossa esperança: o de Temor, deve haver também um para auxiliar a nossa caridade: é o dom de Sabedoria.

Sabedoria quer dizer possuir grande número de conhecimentos: sábio é aquele que estudou muito, que sabe muitas coisas.

Mas a verdadeira Sabedoria não é bem isso! Tanto para as crianças quanto para os grandes, ter verdadeira sabedoria é fazer o que é razoável, em vez de seguir a fantasia, o capricho, ou as más inclinações. Ser sábio é procurar o caminho certo para alcançar o alvo, quando decidimos fazer uma viagem.

E a Sabedoria que nos dá o Espírito Santo é ainda melhor e mais do que isso! Deus é perfeitamente sábio. Tudo quanto ele faz, é perfeito. E ele tudo faz por amor. Deus não pode cometer o menor erro, a menor falha. Mas, o que é ainda mais maravilhoso, é que até com nossas tolices e nossos pecados Deus possa fazer prodígios de amor! Adão e Eva tinham desobedecido: Deus poderia ter privado do Céu todos os homens, pois o Céu era um presente suplementar – certamente o mais belo! – que ele nos tinha feito. Em vez disso, imaginou enviar-nos seu próprio Filho, para nos mostrar o seu amor, morrendo na Cruz e conduzindo-nos de novo ao caminho do Céu.

Pelo dom de Sabedoria, o Espírito Santo ensina-nos, portanto, a reconhecer em tudo o amor de Deus. E ensina-nos a amá-lo, fazendo sempre a sua vontade.

Isso é ser verdadeiramente sábio!

Foi Deus quem nos criou, e só ele sabe porque nos criou. Nós não o sabemos, a menos que ele nos diga.

Para revelar isso, mandou-nos seu Filho, Jesus, que veio dizer-nos que fomos criados para conhecer, amar e servir a Deus e chegarmos um dia ao Céu, onde seremos para sempre felizes da própria felicidade divina. A Sabedoria consiste simplesmente em crer que isso é verdade, e em fazer tudo quanto Jesus ensinou.

Pela virtude de caridade, amamos a Deus cumprindo a sua vontade. Pelo dom de Sabedoria, nós nos alegramos de amá-lo, fazemos a sua vontade com ardor e contentamento, e descobrimos em toda a parte seu esplendor e seu amor. Em todas as maravilhas criadas por Deus: nas flores perfumadas e coloridas, nas cascatas que despencam sobre os rochedos, nos relâmpagos que brilham nas nuvens, nos trovões que reboam ao longe, nas ondas do mar, no cimo das altas montanhas, nos milhares de estrelas que cintilam no céu límpido da noite.

Mas, mais claramente ainda, nós o descobrimos em nossa própria vida: nessa graça infinitamente valiosa que ele nos deu no dia de nosso Batismo, tornando-nos seus verdadeiros filhos; na absolvição que o Padre nos dá sempre de novo no sacramento da Confissão; na Eucaristia, que podemos receber tantas vezes quantas quisermos; nesse dom maravilhoso que é a Confirmação.

Pelo dom de Sabedoria sabemos descobrir numa pequena contrariedade ou num grande sofrimento o amor de nosso Pai do Céu que, mais ainda do que nós mesmos, quer a nossa maior felicidade, e sabe melhor do que nós qual o caminho que até lá nos leva.

Quando compreendemos bem que Deus nos ama e quer o nosso verdadeiro bem, não podemos deixar de ter confiança nele. Não temos então outra coisa a fazer senão colocar a nossa mão de criança na sua mão divina e deixar com muito amor que ele nos guie.

A quem se entrega assim, de todo o coração, disposto a fazer sempre a sua vontade, Deus faz sentir o seu amor, a sua presença. É por isso que o dom de Sabedoria desperta no íntimo de nossa alma a maior, a mais pura, a mais esplêndida alegria que possamos conhecer na terra.

Aquele que possui a Sabedoria, julga todas as coisas um pouco como Deus as julga. Sabe que Deus o ama e não pode querer nem permitir coisa alguma que não seja, afinal, para o seu bem, mesmo que seja o sofrimento. E assim, será sempre feliz.

A pequena MARIA tinha quatro anos quando foi apresentada no Templo. Seus pais a levaram, e, espontaneamente, ela disse a Deus:

– Eis-me aqui; eu vos entrego tudo quanto sou, tudo quanto tenho. Só desejo uma coisa: fazer a vossa vontade.

Nela, o Espírito Santo tinha podido difundir com plenitude todos os seus dons e, por conseguinte, também o mais belo do todos: o dom de Sabedoria. Na alma daquela meninazinha não tinha havido nunca, nunca, o menor pecado; nem mesmo o pecado original, do qual o bom Deus a preservou porque seria a Mãe de seu Filho.

E quando, passados pouco mais de dez anos, o anjo Gabriel veio anunciar-lhe que, se estivesse de acordo, ia ser com efeito a Mãe de Jesus, isto é, a Mãe de Deus, ela só encontrou uma palavra para responder, a palavra mais sábia, que uma criatura jamais pronunciou :

– Eis a serva do Senhor. Faça-se tudo segundo a sua vontade.

Deus não reserva o dom de Sabedoria somente para as pessoas grandes, para os homens que estudaram muito. Ao contrário, ele gosta de dar esse dom aos pequeninos, e Nosso Senhor afirmou certo dia:

“Eu te agradeço, ó Pai, por teres escondido essas coisas àqueles que se julgam sábios, e as teres revelado aos pequeninos.”

Na tua alma também, ó criança, o Espírito Santo quer fazer desabrochar os seus dons; o dom de Sabedoria, como os outros. Ele deseja encher, uma a uma, as sete velas do teu barco.

Pede-lhe, pois, que te torne dócil, atenta a seu grande sopro de amor, que te quer conduzir, cada dia, mais perto de Deus. Se soubesses o quanto ele deseja agir em tua alma! Se soubesses o quanto ele se alegra de encontrar uma alma de criança na qual possa fazer tudo quanto queira, recitarias certamente, de vez em quando, a bela oração que a Igreja nos faz cantar na Missa do dia de Pentecostes:

Vem, ó Espírito Santo, e envia do Céu um raio de tua luz.

Vem, ó tu, que és o Pai dos pobres, que dás sem medida, ó Luz dos corações.

És o maior Consolador, tu, que com tanta doçura moras no fundo de nossa alma, e tão suavemente a refrescas.

Se o esforço nos custa, és o nosso descanso; se nos agitamos, és tu quem nos sossega; e quando choramos, és tu, quem melhor nos consola.

Ó bendita Luz, que nos dás a felicidade, enche até o fundo os corações daqueles que, pelo Batismo, a ti pertencem, e são fiéis.

Sem a tua ajuda, que é auxilio divino, é certo que nada há no homem, nada, nada, verdadeiramente puro.

Lava pois, o que em mim é impuro; rega o que é seco; cura o que pelo pecado foi ferido.

O que em mim é rígido, torna dócil; o que é frio, torna ardente; o que é torto, endireita.

Àqueles que te são fiéis, àqueles que em ti confiam, concede, por favor, os teus sete Dons.

Faze-nos merecer sempre mais amor, faze-nos morrer como os Santos, e dá-nos a tua alegria, que jamais terá fim. Amém.

As Sete Velas de meu Barco – M.D. Poinsenet