Conferência de D. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade São Pio. no XVII Congresso Teológico do Courrier de Rome, em Paris, 13 de janeiro de 2024.
FIDUCIA SUPPLICANS: A IGREJA SINODAL À ESCUTA DO MUNDO, PORÉM SURDA À PALAVRA DE DEUS
Fonte: FSSPX
Cabe a nós apresentar uma síntese, e expressar a posição da Fraternidade diante de todas as realidades que vêm sendo promovidas pela “Igreja sinodal”.
Tentemos, antes de mais, pôr em ordem esses diferentes elementos, em particular no que diz respeito ao recente documento, Fiducia Supplicans, que já fez correr rios de tinta. É preciso situarmos corretamente esse acontecimento. Por que se chegou a tal ponto, e que é que isso significa? O papel da Fraternidade não se pode limitar a uma reação imediata, instintiva: devemos aprofundar tanto quanto possível nossa compreensão do que está em jogo nesse texto. Se faltar profundidade à nossa análise, correremos o risco de incorrer nas falhas dos que querem reduzir a questão de Fiducia Supplicans a uma excentricidade pessoal do papa Francisco, cuja extravagância não se chega a entender.
Já outras reações a Fiducia supplicans reduzem a questão das bênçãos a uma mera questão de oportunidade: a iniciativa seria inoportuna em certos contextos culturais, sobretudo na África. A realidade, porém, é um pouco mais complexa… Todas essas reações são bem-vindas, são positivas na medida em que manifestam ainda certa capacidade de reação; porém a Fraternidade tem a obrigação de ir mais fundo. Tratemos, pois, de dar um passo atrás, saindo do círculo da agitação midiática.
I – Um pontificado que atende às expectativas do mundo moderno
Fiducia Supplicans não é, em sentido estrito, um ato sinodal, mas um ato produzido pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e assinado pelo próprio papa. Trata-se, contudo, de um documento que corresponde àquilo que mais de uma vez vinha sendo ventilado, quando da preparação do sínodo. Pode-se, portanto, afirmar que constitui uma resposta a uma expectativa atual e sinodal.
Essa “Igreja sinodal”, que estamos tentando definir, é uma Igreja que escuta todos os homens: as periferias, a base, todo o mundo, no sentido mais amplo do termo… Uma Igreja que escuta “o mundo” enquanto tal. Ou seja, uma Igreja que dá mostras de uma nova sensibilidade e uma vontade nova de ir ao encontro do mundo.
Sem dúvida, o pontificado atual atende, cada vez mais perfeitamente, às expectativas e exigências do mundo contemporâneo, e, mais precisamente, do mundo “político”, no sentido profundo do termo. Com efeito, de um lado, esse pontificado corresponde a uma visão política hoje predominante em todo o globo, de outro, busca também adaptar-se aos métodos de uma política desejosa de criar uma nova organização social e que, força é reconhecê-lo, em grande medida já triunfou. Cabe aqui a pergunta: por que a presença de representantes da Igreja é tão importante nessa reorganização do mundo? Continuar lendo