ELOGIO DA DOR

“Em verdade, em verdade vos digo que, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, fica infecundo; mas, se morrer, produz muito fruto. O que ama a sua vida perdê-la-á; e quem aborrece a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna.” (Jo 12, 24-25)

Artigo publicado no Boletim Domqueur, em outubro de 1992.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

O grande humanista renascentista Erasmo escreveu um Elogio da loucura, que ficou imediatamente conhecido e continua a fazer parte da literatura clássica.  Uma vez que, ao lidar com o paradoxo, um autor consegue fazer as pessoas lerem princípios de sabedoria austera, algum outro deveria escrever um Elogio da dor .

Não conseguimos medir o quanto custaria a um homem não sentir dor alguma. A mão que se aproximasse do fogo sem sentir o menor dano arrastaria o corpo inteiro para as chamas. A experiência, aqui, é necessária, e não apenas uma advertência gratuita. Com efeito, vemos pecadores realmente temerem o inferno antes de terem experimentado sua ferida na forma de remorso e as consequências dolorosas e até trágicas da má conduta?

Se o doloroso aguilhão das abelhas não existisse, ninguém poderia provar a doçura do mel pois as colmeias indefesas logo seriam saqueadas, abandonadas e vazias. Sem os sofrimentos de homens e mulheres, desapareceria toda a poesia lírica, todos os dramas, tragédias, toda a literatura (clássica, romântica, francesa ou estrangeira).

A dor é útil para localizar o mal. Vejam este homem na mesa de cirurgia – em Lugdunum. Ele estava completamente anestesiado. Assim, ele não pôde reportar que, por engano, sua perna direita foi cortada ao invés da esquerda.

Sim, as dores são úteis e isso não é de hoje: Hipócrates, quatro séculos antes de Jesus Cristo, observou que uma grande dor permitia esquecer as menores.

Mas há algo ainda mais útil: a dor oferecida a Deus para o alívio de outros sofredores. Essa dor poderá, muito bem, aliviar outras maiores.

Pe. Philippe Sulmont

VAIDADE ECLESIÁSTICA

Artigo originalmente publicado em outubro de 1992

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Conta-se que um pretensioso padre escreveu uma obra de história local em três volumes: Minha paróquia antes de minha pessoa, Minha paróquia durante minha pessoa, Minha paróquia depois de minha pessoa. O segundo foi, de longe, o mais volumoso. O terceiro volume não foi impresso por falta de Nihil Obstat do sucessor deste glorioso pároco.

Hoje, essa acusação contra a vaidade eclesiástica é facilmente aplicável no terreno mais amplo da era pós-conciliar em geral. Inovadores progressistas escrevem constantemente com a mesma arrogância de nosso presunçoso pároco. Praticamente os dois primeiros volumes já foram escritos e circulam em fascículos: A Igreja antes de nós (todo preto), A Igreja feita por nós (todo rosa). Mas do terceiro volume, o que diriam?

Não há necessidade, claro, de prever um terceiro volume intitulado: A Igreja depois de nós. De fato, não restará nada da Igreja depois deles, nem dogmas, nem liturgia, nem Direito Canônico, nem orações, nem imagens, nem coroinhas, nem sinos, e nem sequer a consolação de um De Profundis.

Pe. Philippe Sulmont, em Toujours curé

 

O OTIMISMO OBRIGATÓRIO: UM NOVO DOGMA DESDE O VATICANO II

conciliar

Desde o Concílio, parece que os cristãos têm a obrigação de dizer que tudo está bem, sob pena de serem excluídos da comunidade.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

Otimista ou pessimista, somos assim por temperamento. Minha mãe, que tinha um estômago bom, era muito otimista. Meu pai, que não tinha uma boa digestão a parodiava dizendo: “Se um de seus filhos quebra uma perna, ótimo, ele poderia ter quebrado as duas!” Mas meu pai e minha mãe eram, ambos, bons cristãos. A Igreja canonizou santos otimistas e santos muito pessimistas. Davi, ainda hoje, sem dúvida, inclina-se do alto do céu com seu Senhor para ver se ainda há um único homem que busca a Deus e constata em seu Salmo 13 que “todos juntos corromperam-se. Não há quem faça o bem.” É um pessimista. Santo Agostinho considera quase toda a raça humana como sendo condenada quando fala da Massa Damnata. Ele também é um santo pessimista.

Mas agora, desde a Gaudium et Spes, parece que os cristãos têm a obrigação de dizer, sob pena de serem excluídos da comunidade, que tudo está bem e que todos os homens se tornarão bons. É necessário, como disse o La Croix ao celebrar o 20 º aniversário do Concílio, “ignorar os profetas da desgraça”. Jeremias e suas lamentações, os cataclismos anunciados por Cristo não fariam mais parte da Bíblia. O verdadeiro Pai da Igreja agora é Jean-Jacques Rousseau, para quem a natureza humana não tem pecado original, mas apenas fraquezas (pecados veniais). Continuar lendo

A UNIDADE: UM FALSO ARGUMENTO PARA SEDUZIR OS FIÉIS

UNIDADE

Quando os “bons apóstolos(*)” pregam a nós, católicos tradicionais, aceitar as novidades pós-conciliares em nome da unidade cristã, dificilmente fico comovido.

Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A unidade da Missa não foi destruída por nós, mas por aqueles que inventaram uma nova Missa. A unidade da fé não foi arruinada por nós, mas por aqueles que desprezam dos dogmas. A unidade na caridade não depende de nós, mas daqueles que ainda mantêm uma espécie de excomunhão de fato contra D. Lefebvre e aqueles que, como ele, permanecem fiéis à religião católica.

Com que unidade sonham esses “bons apóstolos”? Suponham, por um instante, Deus nos livre, que eles pudessem aniquilar tudo o que fosse tradicional e ainda sufocar a imensa multidão de cristãos resistentes, atordoados pela nova religião: os senhores acreditariam que esse massacre faria nascer a unidade?

Esses “bons apóstolos” não alcançariam a unidade da Missa. Pois removendo a de São Pio V, restariam ainda uma centena delas e todos os domingos trariam uma nova para os telespectadores. Esses “bons apóstolos” não alcançariam a unidade com os protestantes; eles se tornariam uma seita entre trezentas outras seitas. Estes “bons apóstolos” não seriam sequer capazes de chegar a um pensamento comum, porque seus cérebros evolutivos não sabem mais como distinguir a verdade do erro. Para eles, a única heresia é tomar a Revelação divina como verdadeira. Continuar lendo

EM UM MUNDO DE MUDANÇAS…

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Fonte: La Porte Latine – Tradução: Dominus Est

A Igreja deve ser a casa construída sobre a rocha que permanece firme contra ventos e marés.

É isso que Nosso Senhor recomendou na conclusão de seu Sermão da Montanha (Mt 7, 24). Nosso Senhor queria Pedro como chefe de Sua Igreja (Mt 16,19), indicando assim que ela seria uma monarquia sólida e não uma democracia dominada pelos sobressaltos da colegialidade (esta palavra evoca para mim, inevitavelmente, as confusões de alunos secundários!).

A rocha é a fé expressa no Credo.

A rocha também é a moralidade expressa nos Dez Mandamentos.

Há um escândalo quando, no dia das comunhões solenes, as “profissões de fé” sejam abandonadas à iniciativa individual das crianças que se dirigem ao microfone para dizer no que querem acreditar. Eis os novos Padres da Igreja! Eles mal sabem como dizer a “Ave Maria”, mas são capazes, ao que parece, de integrar todas as religiões na Fraternidade Universal de amanhã.

Há escândalo também quando altos dignitários religiosos e eclesiásticos elogiam o Ramadã, o laicismo, o nirvana budista na imprensa ou na televisão e querem inventar uma ética que ocuparia o lugar – agora vago – da moralidade.

Neste mundo em movimento, estou muito surpreso que as pessoas da Igreja estejam se movendo em vez de permanecer firmes na pedra estabelecida por Jesus Cristo.

São Paulo disse aos Gálatas: Admiro-me de que, assim tão depressa, passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro Evangelho. Evidentemente que não há outro (Evangelho diferente que eu vos preguei), mas há alguns que vos perturbam e querem inverter o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie um Evangelho diferente daquele que vos temos anunciado, seja anátema. Como já vo-lo dissemos, agora de novo o digo: se alguém vos anunciarum Evangelho diferente daquele que recebestes, seja anátema.(Gal1, 6-9)

Pe. Philippe Sulmont