TENHO CÁ AS MINHAS IDEIAS

abcUma das características da adolescência, dos 14 aos 18 anos, é o desejo desenfreado de individualismo. “Ninguém me dê ordens! A mim não agrada o que eu mesmo não concebi!”

Estes não são incrédulos, mas apenas doentes, com febre. Muitos jovens são atacados da febre, nesse período da vida, pois que não querem trilhar um caminho já palmilhado por outros, nem que fosse o próprio Salvador. Elaboram princípios, cada qual mais errado, só para não admitirem o que outros já aceitaram antes. Mais tarde, após alguns anos, já mais ajuizados e calmos, reconhecem que o caminho que leva a Jesus Cristo — muito embora milhões o tenham já trilhado — é a única via, sempre nova, fortalecedora, e que vale a pena ir por ela.

Cuidado, ó meu jovem! Nesses anos, não te tornes infiel à tua fé, só porque não foste tu quem a fez! Lembra-te que antes de ti houve espíritos insignes, que se ocuparam detidamente com as questões da vida, e se eles se submeteram humildemente à doutrina da fé católica, a fidelidade à fé em nada prejudicará tua independência.

Bem sei das dificuldades de compreender essa verdade para um moço, que considera questão de honra, ter uma interpretação individual do mundo, por meio de excertos tirados de obras filosóficas mal digeridas e de hipóteses científicas não comprovadas. A indiferença religiosa e a libertinagem facilmente disfarçadas com um pouco de verniz científico. O mundo em sua leviandade e perversão, chama “espirituoso” e “esclarecido” ao jovem que olha com desprezo sua fé, enquanto que alcunha de fanático quem a ela permanece fiel.

Se refletires um instante, perceberás logo a falsidade desse critério. A respeito disso, vou falar-te com toda a clareza. Em tua adolescência pode acontecer que sobrevenham dúvidas angustiantes acerca desta ou daquela verdade religiosa: “Nas aulas de religião aprendemos isto ou aquilo; e contudo, segundo os mais recentes resultados da ciência, isto ou aquilo não está certo!” Ou, pode suceder ainda que consideres como “antiquadas” ou “demasiadamente severas” algumas prescrições da Igreja. E ainda pode ser que, por causa de teus horizontes cada vez mais vastos, notes muitas faltas e fraquezas humanas, também nas instituições da Igreja.

Ora, meu amigo, procura, nestes casos ter fortaleza de ânimo. Isso são provações espirituais, e elas não te autorizam a criar, só por despeito, uma religião “independente”. É preferível pensar: “Nosso Senhor, incumbiu a Igreja da defesa de sua doutrina, eu o sei e o creio. Não devo escolher entre os ensinamentos de Jesus Cristo: isto é belo, compreensível e aceito-o; aquilo é singular, incompreensível, não quero aceitá-lo. Não posso ser cristão, 20, 30, 50 por cento e no resto “pagão”, “individualista”, “modernista”. Devo ser católico cem por cento, pois Deus não me confiou este ou aquele dogma, senão toda a doutrina da Igreja.

Não é verdade? Deus não fala em particular a cada homem, para revelar-lhe sua vontade e suas leis. Para a transmissão de sua vontade, Ele organizou uma instituição especial, a Igreja Católica. Jesus disse aos seus discípulos: “Ide, pois, e ensinai a todos os povos e batizai-os … e ensinai-lhes a observar o que vos mandei. E eis que estou convosco até a consumação dos séculos” (Mt. 28, 19-20). Com estas palavras, confiou à sua Igreja a mais ampla divulgação das verdades por Ele ensinadas.

Do soberbo edifício que chamamos Igreja, não se pode retirar uma única pedra, sem abalar a construção toda. Porque não posso compreender um ou outro dogma, porque esta ou aquela lei me parece errada, não hei de dizer logo: isso não é verdade, a religião católica é antiquada, um jovem moderno não pode mais ser católico… É bem possível que a causa de minhas dúvidas esteja no conhecimento deficiente, na minha pouca prática da vida. Olho em meu derredor, lanço o olhar para o passado e verifico que os mais ilustres representantes do espírito humano, sábios geniais, artistas, personalidades criadoras, não procuraram uma “religião independente”, mas foram filhos fiéis da fé católica. Da mesma forma, meu cérebro ainda novo não sofrerá humilhação se eu inclinar a cabeça ante a Igreja, e aceitar fielmente todos os seus dogmas e mandamentos, inclusive aqueles que, durante os anos de efervescência, eu considero como velhos e pouco sólidos.

E se notares falhas e fraquezas, quiçá nos mais sagrados pontos da história bimilenar da Igreja? Que fazer então? Escuta! Diante do famoso quadro de Ticiano o doge Grimani e seu séquito, estava certa vez um sapateiro. Examina a maravilha genial do artista. Olha, olha e finalmente diz: “Todo o quadro nada vale; a costura do sapato de uma das figuras está errada!” Cuidado, não venhas a ser um sapateiro de Veneza, que não vai além da costura e que por causa disso não pode perceber o sublime e grandioso conjunto.

Religião e Juventude – Mons. Tihamer Toth