XXII DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES: O TRIBUTO DE CÉSAR E A OBRIGAÇÃO DE AMAR A DEUS

cesarReddite quae sunt Caesaris Caesari, et quae sunt Dei Deo — “Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Matth. 22, 21).

Sumário. Para convencer os fariseus da obrigação de pagarem tributo a César, o divino Redentor mostrou-lhes a imagem estampada na moeda com que costumavam pagar o tributo. Lancemos nós também um olhar sobre nós mesmos: consideremos que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança; lembremo-nos mais que no santo batismo nos foi impresso o caráter indelével de discípulos de Jesus Cristo e facilmente chegaremos a esta bela conclusão: Dai a Deus o que é de Deus.

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I. É esta a bela resposta que no Evangelho de hoje Jesus Cristo dá aos fariseus, que, com o intuito maligno de o apanharem em suas palavras, o interrogavam sobre se era ou não lícito pagar tributo: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” Por estas palavras quer ensinar-nos que devemos dar aos homens o que lhes é devido; mas quanto ao amor de nosso coração, Ele o quer todo para si.

Isto é de inteira justiça, porque o Senhor não é somente a primeira Verdade, mas, além disso, o supremo Bem. Como, portanto, o nosso entendimento paga a Deus, como à primeira Verdade, o tributo de submissão pela fé, crendo sobre a palavra de Deus coisas que não compreende; assim a nossa vontade deve pagar a Deus, como ao Bem supremo, um tributo de afeto, “amando-O com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças” (1). Tanto mais que é unicamente para cativar o nosso amor que Jesus se fez homem, nos remiu com o seu preciosíssimo sangue e morreu sobre a cruz nos mais atrozes tormentos.

Ó meu lastimoso Redentor! Quantos são Vos os que Vos amam? Vejo a maior parte dos homens ocupados em amarem, uns os parentes, outros os amigos, outros até os animais; mas Jesus não é amado; ao contrário, é ofendido e pago com a mais negra ingratidão. — Meu irmão, quero crer que te achas em estado de graça e por isso quero crer que amas Jesus Cristo. Podes, porém dizer que O amas de todo o teu coração?… És porventura um daqueles que, levando vida tíbia, nutrem a ilusão de poderem servir ao mesmo tempo a dois senhores inteiramente opostos, como são Deus e o mundo? — Ah! Lembra-te, assim te direi com São Filipe Neri, que todo o amor que consagramos às criaturas é roubado de Deus; se não cuidarmos em séria emenda, acabaremos cedo ou tarde por o roubarmos todo.

II. Observa o Evangelho que, para convencer os fariseus da necessidade de pagar o tributo, Jesus se fez mostrar a moeda do tributo, e referindo-se a ela, disse: “De quem é esta imagem e inscrição?” E tendo eles respondido: “É de César”, o Senhor logo acrescentou: “Dai a César o que é de César.” Como se dissesse: Já que do Imperador recebestes a moeda, justo é que lha restituais pagando o tributo.

É o que tu também deves fazer para que mais facilmente te resolvas a pagar teu tributo a Deus. Pergunta muitas vezes a ti mesmo: Cuius est haec imago et superscriptio?De quem é esta imagem e inscrição?” Quer dizer: Põe-te a considerar que foste criado por Deus à sua imagem e semelhança e para o único fim de O amares; considera mais que no santo Batismo te foi impresso o caráter indelével de discípulo de Cristo; e logo chegarás à conclusão que deves dar a Deus o que é de Deus: Reddite ergo quae sunt Dei, Deo.

Ó meu Senhor, visto que me quereis todo para Vós, eis que me dou a Vós todo inteiro, sem reserva. Não quero que outro qualquer me roube uma parte deste coração que Vós criastes só para Vós, ó bondade infinita, digna de amor infinito. O meu coração é muito pequeno para Vos amar tanto como mereceis. Que injustiça, pois, não Vos faria, se o quisesse dividir para amar outra coisa que não seja Vós? Não, meu Jesus amabilíssimo, só a Vós quero amar, e nesta vida e na outra nada desejo senão o tesouro de vosso amor, ó Deus de meu coração e minha herança para sempre (2).

Não desprezeis o amor de um pecador que outrora Vos ofendeu; abrasai sempre mais em mim as felizes chamas do amor, e sêde em toda ocorrência o meu refúgio e a minha força. — “Ó Pai Eterno, pelo amor de Jesus Cristo atendei-me, pois que sois o mesmo autor da piedade, e fazei que eficazmente consiga o que Vos peço com viva confiança.” (3) † Doce coração de Maria, sêde minha salvação.

  1. Deut. 6,5 .
    2. Sal. 15, 5.
    3. Or. Dom. curr.

Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III – Santo Afonso